“A Educação Infantil poderia inspirar outros segmentos”, afirma educador
Em um passado não muito distante, grande parte da sociedade enxergava a Educação Infantil apenas como uma “escolinha”, onde as crianças pequenas passavam uma parte do dia enquanto os pais trabalhavam.
Mas, aos poucos, cada vez mais esse segmento do ensino tem se destacado e conquistado um maior reconhecimento, já que é uma das mais importantes etapas da Educação.
E foi sobre este assunto que o Escolas Exponenciais entrevistou com exclusividade o educador Marcelo Cunha Bueno. O profissional falou sobre o atual cenário da Educação Infantil, os principais desafios para os próximos anos e sobre a importância desse processo na vida das crianças. Confira a entrevista.
Escolas Exponenciais: Antes vista apenas como “escolinha”, a Educação Infantil tem sido mais valorizada nos últimos anos e reconhecida como uma das mais importantes etapas da Educação Básica. Na sua opinião, quais são os atuais desafios da Educação Infantil?
Marcelo Cunha Bueno: A Educação Infantil é um momento da vida das crianças que, para mim, dentro da escolarização, é o mais importante. É justamente nesta etapa que oferecemos a elas a possibilidade de se conectarem com o mundo social.
É muito importante que a gente ofereça um repertório que seja capaz de flexibilizar seu pensamento e multiplicar as suas possibilidades de interpretação e relação com o mundo.
Quanto mais repertório você oferece para as crianças, menos fragmentado se torna seu pensamento. Oferecer repertório para as crianças é fazer com que elas desenvolvam um pensamento generoso, empático e múltiplo a respeito do mundo.
Dessa forma, ela vai ser capaz de se colocar no lugar das pessoas, vai ser capaz de entender diferentes pontos de vista e respeitar as diferenças.
Eu diria que esse é o grande segredo da Educação Infantil. Mas é também um desafio para as escolas mudar a perspectiva de ação educativa, saindo dessa lógica de enxergar só o resultado final e começar a enxergar a Educação a partir da Educação Infantil.
A Educação Infantil poderia inspirar os outros segmentos, isso seria muito bom, porque é nesse ciclo que a gente olha no olho das crianças, que dá tempo para elas serem quem podem ser, para elas brincarem, para elas se conectarem de forma potente com as atividades, com as amizades, com os espaços. Essa etapa do ensino tem um papel essencial na construção do ser humano.
EX: E se fosse para fazer uma previsão, quais as expectativas e perspectivas que você tem para a Educação Infantil nos próximos 5 anos?
Marcelo: Eu vejo com alguma preocupação o que pode acontecer, principalmente depois da pandemia. Tiveram muitas famílias e escolas que acreditaram que o que se perdeu com o isolamento foi, simplesmente, o conteúdo. E as crianças precisavam de contato social, corporal, de espaço para se expressarem e serem acolhidas.
O que nós estamos vivendo agora é um momento decisivo. As escolas vão escolher apostilar as crianças a partir dos 3 anos? Isso seria trágico, porque se acreditaria que Educação e ensino se fazem só com crianças sentadas e na frente de livros.
Ou as escolas vão partir do princípio que quanto mais repertório você oferece, mais possibilidade de expressão, mais brincadeira, mais espaço livre, mais comunicação, é melhor?
EX: Para o pleno desenvolvimento das crianças, o que você acredita que não deveria faltar nas escolas de Educação Infantil?
Marcelo: Não pode faltar professores que são inspirados e inspiradores. São professores que têm paixão no olhar e que respeitam as crianças, que entendem que as crianças precisam de colo, de abraço, de afeto, de tempo, de espaço para viverem suas experiências.
Crianças da Educação Infantil precisam de espaço para se expressarem, precisam de literatura, de jogos, de brincadeiras e brinquedos. Precisam de meio ambiente, de árvore, de terra, de banho de esguicho, de amor, de afeto e de muito estudo de professores e professoras.
EX: E o que você ainda acha que esse segmento precisa melhorar e os gestores deveriam investir?
Marcelo: Precisa melhorar no investimento dos espaços, em políticas públicas que afirmem a Educação Infantil como sendo esse espaço de potência na vida de qualquer pessoa. A Educação Infantil é o espaço de atravessamento da cidade, da cultura, da sociedade, da família.
Se a gente não cuidar de tudo isso, a gente não cuida da Educação Infantil. Porque a criança traz para a escola um mundo e a partir disso a escola se torna um mundo.
Então, dentro das escolas a gente precisa ter pessoas conectadas com o mundo e essa conexão com o mundo vem a partir do conhecimento, do estudo.
Precisa de muita formação para professores e, mais ainda, precisa de dignidade. Porque ninguém vive só de estudo, a gente precisa ter um local de trabalho que nos respeite, que nos dê dignidade, de salário que nos respeitem, precisa de reconhecimento da sociedade.
Escolas Exponenciais recomenda
Dia Nacional da Educação Infantil: etapa importante da Educação Básica