5 min de leitura

O Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) 199 Charles Chaplin, localizado em Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias (RJ), vai receber nesta terça (8) e quarta-feira (9) um projeto piloto sobre o reúso do lixo eletrônico, chamado “ReciclaJá: um projeto inovador de metarreciclagem de e-lixo”.

O projeto foi criado em parceria da organização não governamental (ONG) Associação Junior Achievement Rio de Janeiro (JA Rio de Janeiro), por meio do programa Innovation Camp e o Instituto Reciclar, com o Programa de Apoio à Educação Pública (Paep).

A coordenadora de Programas da JA Rio de Janeiro, Maria Clara Wasserman, explicou à Agência Brasil que a ideia é ampliar o projeto para outras escolas da rede estadual de ensino. A proposta conjunta será testada na escola pública de Jardim Gramacho, bairro que abrigou o maior lixão da América Latina, fechado em 2012.

Uma área verde deu lugar às antigas montanhas de lixo, mas a região ainda carece de saneamento básico, água encanada e coleta de lixo.

Segundo o Fórum Comunitário de Jardim Gramacho, cerca de 40 mil pessoas vivem no bairro atualmente, sendo a maioria dos moradores formada por ex-catadores e suas famílias.

 

Aprendizagem a partir do lixo eletrônico

Os alunos e professores do Ciep 199 Charles Chaplin terão dois tipos de aprendizagem. Eles vão entender que o lixo eletrônico não é um material de descarte, mas de ressignificação, ou reúso.

“Eles vão aprender as várias formas de reúso desse lixo (celulares, computadores, pilhas e baterias, fios, cabos, iluminação, eletroportáteis e eletrodomésticos), como se pode aproveitar aquilo para virar outra coisa. É a ideia da cultura maker. Os alunos vão ressignificar a ideia do que é lixo eletrônico, por meio da prática”.

A cultura maker se baseia na ideia de que as pessoas devem ser capazes de fabricar, construir, reparar e alterar objetos dos mais variados tipos e com diversas funções.

Os estudantes vão abrir os resíduos eletrônicos, investigar as formas de reutilização e, mediante a metodologia do design thinking (método para estimular a abordagem de problemas) podem entender o problema que escola e comunidade enfrentam com relação ao lixo eletrônico.

Poderão criar uma e-sucatoteca que não seja um depósito só de sucata, mas também daquilo que é vivo e tem utilidade para a comunidade. Ou seja, a e-sucatoteca será um polo de coleta e distribuição de lixo eletrônico.

Os alunos poderão ainda se tornar agentes multiplicadores de ensinamentos para a família, os amigos, entendendo como o lixo eletrônico pode não ser lixo e ter várias formas de uso, visando impactar pessoas e comunidades do ponto de vista social, ambiental e econômico, informou Maria Clara.

 

Equipes vão elaborar campanha para arrecadar lixo eletrônico

Cinquenta alunos do Ciep 199 Charles Chaplin serão divididos em dez equipes, que deverão elaborar uma campanha de arrecadação do lixo eletrônico e um plano de comunicação e criação de uma e-sucatoteca na escola.

Com isso, a iniciativa visa transformar o cenário escolar, destacando a importância do uso de tecnologias para o ensino-aprendizagem e para resolução de problemas sociais complexos. Durante o processo, os estudantes contarão com suporte de facilitadores formados que os auxiliarão no desenvolvimento da ideia e apresentação da solução.

Na primeira etapa, as equipes vão apresentar projetos de campanhas de arrecadação. A ideia vencedora será premiada com  R$ 1 mil e uma trilha de mentoria para colocar o projeto em prática. Na segunda etapa, será a vez de apresentar os planos de criação da e-sucatoteca.

O plano mais completo e viável será premiado também com um capital semente, uma trilha de mentoria para por o projeto em prática, além de um bônus surpresa.

 

Projeto de reúso de lixo eletrônico gera engajamento

Maria Clara disse que a escola foi escolhida para dar início ao projeto por várias razões. “Por ser uma escola muito engajada, que já está em um projeto nosso, que é a Trilha Empreendedora, e por ser próxima ao antigo lixão de Jardim Gramacho, que tem todo o contexto dos alunos com a questão do lixo. É uma escola-modelo para nós”. O objetivo é entender como o projeto vai aderir ao contexto para replicá-lo em outras escolas e situações.

A diretora executiva da JA Rio de Janeiro, Renata Guimarães, ressaltou que a ideia é transformar as escolas estaduais do Rio de Janeiro em polos de coleta e metarreciclagem de e-lixo, para que possam colaborar para o desenvolvimento do uso dessa tecnologia em sala de aula, desenvolvendo a criatividade, autonomia, resolução de problemas, entre outras competências socioemocionais.”

O diretor executivo do Instituto Reciclar, Carlos Henrique Lima, lembrou, por outro lado, que a iniciativa faz parte do Programa de Apoio à Educação Pública (Paep), cujo intuito é “compartilhar nossa expertise técnica em diversas áreas do saber educacional com professores e educadores das redes públicas de ensino”. Este ano, o programa já formou 2.700 professores, beneficiando mais de 52 mil estudantes de diferentes redes públicas de ensino. “Nosso intuito é, juntos, apoiarmos a melhoria contínua da educação pública e o desenvolvimento social”, disse Lima.

Ranking

De acordo com o relatório The Global E-waste Monitor 2020, elaborado pela Universidade das Nações Unidas, o Brasil foi o quinto país que mais gerou lixo eletrônico no mundo em 2019, com mais de 2 milhões de toneladas, ficando atrás da China (10,1 milhões de toneladas), Estados Unidos (6,9 milhões de toneladas), Índia (3,2 milhões de toneladas) e Japão (2,5 milhões de toneladas). Considerando apenas os países da América Latina, o Brasil é o primeiro no ranking dos geradores de e-lixo. 

 

Escolas Exponenciais recomenda

“Meu maior sonho é trazer uma educação que realmente seja transformadora”, afirma Débora Garofalo