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Encontrar novas maneiras para promover a avaliação dos alunos é uma realidade das escolas que estão em busca de inovação. Atualmente, são inúmeros os gestores e coordenadores pedagógicos que buscam alternativas para conseguir impulsionar ainda mais o processo de ensino e aprendizagem, e não apenas utilizar a tradicional maneira de avaliar, que analisa – basicamente – o que os estudantes aprenderam apenas ao final de cada etapa.

Para se aprofundar nessa discussão, o Escolas Exponenciais entrevistou Fabrício Garcia, CEO da Qstione, uma plataforma de avaliação e diagnóstico para alunos de escolas e instituições de ensino superior. Confira esse bate-papo.

 

Escolas Exponenciais: Qual a importância de as escolas buscarem novas formas para fazer a avaliação dos alunos?

Fabrício Garcia: Ferramentas de avaliação dos alunos são métodos de pesquisa, portanto coletam dados específicos acerca do desenvolvimento do aprendizado do estudante. 

Dessa forma, é preciso compreender que, por definição, um método de avaliação é apenas uma fotografia de um momento do estudante. Eu costumo dizer que para avaliar adequadamente se o estudante está no caminho do aprendizado, é preciso tirar muitas fotografias, sob ângulos diferentes, do processo ensino-aprendizagem, com o intuito de criarmos um filme quadro a quadro da vida acadêmica dos estudantes.

O resultado estático da avaliação tem pouco valor pedagógico. É mais importante entender como o estudante está evoluindo, pois são as modificações sofridas por eles, em decorrência do processo educacional, que importam.

Isto é, aplicar diferentes métodos avaliativos significa tirar fotografias pedagógicas do estudante sob ângulos diferentes. Nesse contexto, as escolas precisam coletar dados acerca do desenvolvimento das dimensões socioemocional, psicomotora e cognitiva dos estudantes e, para cada uma delas, existem métodos avaliativos diferentes.

Adicionalmente, vale lembrar que a implementação de uma ferramenta ou de um método avaliativo exige um esforço de qualificação de professores e, eventualmente, exige investimento em novas tecnologias, pois existem protocolos a serem seguidos pelas escolas e pelos professores – eis o maior desafio na implementação de diferentes métodos avaliativos.

Infelizmente, grande parte das escolas brasileiras são carentes de profissionais qualificados na área de avaliação de estudantes, bem como em outras áreas pedagógicas.

Outro ponto importantíssimo reside na estruturação curricular e na articulação do próprio currículo ao processo de avaliação. As escolas precisam evoluir na gestão e na construção curricular e compreender que todo e qualquer método avaliativo precisa basear-se no próprio currículo escolar.

Os descritores de objetivos instrucionais precisam ser o nascedouro do planejamento das aulas e da avaliação. Por isso, ao buscar ferramentas tecnológicas avaliativas, eu recomendo fortemente que as escolas observem se as ferramentas promovem essa articulação entre os descritores curriculares e a avaliação.

 

EX: Atualmente, muitos gestores buscam inovações para as escolas. Como as novas formas de avaliação dos alunos contribuem para esse processo?

Fabrício Garcia: A aplicação de novos modelos avaliativos amplia a necessidade de novas tecnologias e de capacitação de professores, mas no setor educacional, trazer tecnologias ou métodos inovadores nem sempre se traduz em melhoria dos processos de ensino. 

O gestor escolar deve avaliar com muito cuidado e com critério pedagógico a escolha de novas ferramentas avaliativas, considerando o ganho pedagógico e a viabilidade de implementação de novas tecnologias educacionais.

Quando tratamos de um alto nível de desorganização pedagógica, a tal revolução tecnológica da educação emerge como um sopro de esperança para os desavisados.  A concepção de que a implementação de novas tecnologias, por si só, resolveria os nossos problemas educacionais ocasionou o surgimento de diversas práticas pedagógicas duvidosas.

Tal concepção, em muitos casos, atrapalha, pois nos impede de tentar resolver os problemas educacionais por meio de ações mais simples e diretas para buscar soluções complexas e pouco testadas na educação.

Fala-se de inteligência artificial, de neurociência, de visão computacional, além de outras tecnologias sensacionais. No entanto, em muitos casos, o “feijão com arroz” é negligenciado. Ou seja, as escolas precisam fazer o básico antes de buscar novas tecnologias. 

Para exemplificar, podemos mencionar o caso da falta de estruturação dos currículos escolares no Brasil. Neste caso, arrisco dizer que a grande maioria das escolas brasileiras trabalha sem uma estruturação curricular adequada.

Nossas escolas ensinam sem saber, ao certo, quais são os objetivos instrucionais a serem alcançados pelos estudantes. Em suma, não há metas de ensino-aprendizagem bem definidas. Além disso, estas escolas também não sabem muito bem o que deve ser avaliado em termos de aprendizado e o ensino descamba para um subjetivismo improdutivo.

Nesse contexto, parece óbvio qual é a melhor solução! As escolas que não apresentam um currículo centrado em competências, com descritores bem definidos sobre os objetivos instrucionais, devem estruturá-lo por meio de ações pedagógicas organizacionais. 

E a tecnologia pode até ajudar neste processo, mas, a priori, a ferramenta a ser escolhida deve contemplar funcionalidades que ajudem na gestão curricular e não apenas na avaliação em si. 

Na prática, as etapas do processo avaliativo são interdependentes e, por isso, as tecnologias aplicadas podem afetar o resultado da avaliação como um todo. Infelizmente, nem todos compreendem a complexidade envolvida no processo de avaliação. Por isso, algumas escolas depositam todas as suas fichas em processos simplificados. Isto é, aqueles que utilizam tecnologias “milagrosas” para solucionar todas as demandas da avaliação de estudantes.

Vale salientar que na educação grande parte dos processos operacionais e pedagógicos é interdependente. Esta característica aumenta significativamente a complexidade de gestão dos processos educacionais. Consequentemente, dificulta a escolha e a implementação de novas tecnologias.

Esta é a grande questão a ser considerada pelas empresas de tecnologia educacional: é preciso compreender todo o processo educacional. Principalmente antes de propor intervenções pontuais por meio de tecnologias educacionais.

Em resumo, pode-se concluir que a escolha da tecnologia, a sua forma de aplicação e a capacitação dos educadores são aspectos fundamentais para a utilização eficiente das ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado. O uso da tecnologia na educação depende intrinsecamente da adequação dos processos educacionais à tecnologia a ser implementada. Por isso, é tão importante saber escolher as melhores tecnologias para a sua escola.

Resumindo, o gestor escolar deve procurar aliar as novas tecnologias e inovações à pedagogia. 

EX: No atual momento, quais aspectos uma boa avaliação dos alunos deveria analisar individualmente?

Fabrício Garcia: A avaliação dos alunos deve capturar dados fidedignos acerca do aprendizado do estudante. O processamento desses dados é que vai inferir possíveis conclusões acerca da evolução do aprendizado do estudante. Assim, a construção de um bom modelo de avaliação de estudantes perpassa por cinco etapas principais:

(1) definição do método;

(2) elaboração da ferramenta avaliativa;

3) aplicação da avaliação;

(4) análise dos dados e

(5) tomada de decisão.

A escola deve procurar ferramentas tecnológicas que auxiliem cada etapa do processo de avaliação.

EX: E como os sistemas de avaliação dos alunos podem ser aliados das escolas que desejam abandonar o formato tradicional das provas?

Fabrício Garcia: A questão fundamental não é abandonar os testes cognitivos. A pergunta a ser feita pelas escolas é: as nossas avaliações cognitivas seguem as melhores práticas pedagógicas e psicométricas? 

As avaliações cognitivas devem fazer parte do arsenal de modelos avaliativos aplicados nas escolas, mas é verdade que o modelo de estruturação de provas de grande parte das instituições de ensino brasileiras é bem deficitário. 

As avaliações cognitivas não devem sair do escopo das avaliações escolares, elas apenas precisam ser tecnicamente e pedagogicamente mais bem estruturadas.

A psicometria ainda é o ramo da ciência mais respeitado quando tratamos de modelos de avaliações cognitivas. Assim, as escolas devem buscar tecnologias que tragam mais qualidade para as provas, considerando o uso de modelos estatísticos que possam qualificar os resultados obtidos nos testes. 

Entre as ações que podem ser implementadas para melhorar o processo de construção das provas, destaco:

(1) capacitação e acompanhamento dos professores;

(2) aquisição de tecnologias que permitam a implementação de um processo de revisão de itens e construção de um banco de itens articulado ao currículo escolar;

(3) aquisição de sistemas de gestão de planos de ensino, planos de aula e currículo, articulado ao sistema de banco de itens;

(4) estruturação dos manuais de itens;

(5) tomada de decisão baseada em dados e;

(6) implementação de devolutivas mais qualificadas para os estudantes e seus responsáveis.

 

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