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A Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n° 13.709/18), mais conhecida como LGPD, foi promulgada há cinco anos, em 14 de agosto de 2018. No texto, o objetivo da lei é claro: “proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”, considerando o tratamento dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais, para pessoas naturais e jurídicas em território nacional.

Para Guilherme Camargo, especialista em educação e fundador da Sejunta Tecnologia – consultoria de tecnologia educacional que busca facilitar sua introdução na aprendizagem -, “a LGPD trouxe muitos ganhos para a sociedade brasileira como um todo, principalmente por colocar um holofote nos problemas relacionados à preservação de dados de pessoas físicas”.

Em relação às escolas, ele destaca que “a legislação trata dados de menores de idade de uma forma muito específica, atribuindo uma série de exigências que vão desde a expressa explicação do motivo da coleta de determinados dados e sua efetiva funcionalidade até a autorização expressa de pais e/ou responsáveis para a coleta desses dados”.

Em se tratando de Inteligência Artificial (IA), esse tópico se enquadra em uma série de outros itens que precisam ser trabalhados com os estudantes. Camargo sugere que pontos como redes sociais sejam abordados em disciplinas como Ética e Cidadania Digital. “A minha recomendação é que os estudantes sejam provocados a analisar cenários e tomar decisões em relação a eles para que aprendam a escolher os caminhos mais apropriados, preservando a própria privacidade e os dados. Esse trabalho ajudará o estudante a tomar melhores decisões, principalmente, quando estiver sozinho, sem a supervisão de um responsável”, esclarece o fundador da Sejunta Tecnologia.

Inteligência Artificial em sala de aula

O impacto da inteligência artificial generativa (como o ChatGPT) no contexto da escola é uma das inquietações de Esther Carvalho, diretora geral do Colégio Rio Branco, mestre em currículo e tecnologia e doutoranda em tecnologias da inteligência e design digital. Segundo ela, alunos e professores podem ser beneficiados pela tecnologia de várias formas, introduzindo-a nas aprendizagens e no modo como os educadores desenvolvem um currículo que permita às crianças o desenvolvimento de criticidade e de autonomia, ampliando a visão da cidadania digital em contextos de IA generativa.

“Primeiramente, a tecnologia permite o uso de múltiplas linguagens para que os alunos possam ter acesso, sistematizar e organizar o conhecimento. Há vídeos, linguagem de programação, mapas conceituais, ou seja, coisas que ampliam as possibilidades, tanto de aprender, quanto de ensinar. Para os professores, também há uma série de recursos que favorecem o trabalho pedagógico”, destaca.

Para a diretora, o maior desafio é trabalhar ampliando as possibilidades da sala de aula e não apenas reproduzindo aquilo que já se conhece. Ela afirma que “um dos grandes ganhos que a tecnologia traz, por exemplo, são os dados de aprendizagem. Hoje, existem plataformas adaptativas que permitem ter, com mais rapidez, uma visão de um grupo de alunos, do que está sendo feito, de onde é preciso reforçar os conteúdos etc.”

Assim, a especialista em tecnologia acredita em ferramentas abertas em sala de aula, cujo uso deve ser administrado tanto pelo professor quanto pelo aluno. Esther acredita ainda em trabalho colaborativo síncrono e assíncrono em que é possível produzir por meio de conexões que são elementos muito importantes para hoje e para o futuro.

Bom uso da Inteligência Artificial na educação

De acordo com Rafaela Manes, diretora de desenvolvimento de negócios no Brasil e em Portugal da startup francesa TestWe, a funcionalidade de assistência virtual integrada na plataforma da empresa permite que os professores criem provas de forma simples. Basta o professor detalhar o seu pedido citando, por exemplo, quantas questões estarão na avaliação e a dificuldade de cada uma delas.

Além disso, o docente pode fornecer um conteúdo específico, caso queira um item criado a partir de um assunto especializado. Após o processo, diversas questões serão criadas e será possível selecionar quais serão importadas para a prova. Depois da validação, em poucos minutos, a prova estará criada.

Outra parte do processo da prova online otimizada é o momento da correção. Os professores, uma vez que já tenham recebido os resultados dos participantes, poderão igualmente utilizar a assistência virtual para efetuar a verificação das questões abertas. “A ideia é que uma primeira correção com notas e comentários seja realizada pelo assistente virtual para facilitar o processo e economizar tempo. Em seguida, o professor irá revisar e validar a correção final”, explica a diretora.

Tecnologia e desempenho em avaliações

O uso da Inteligência Artificial na Educação está transformando a gestão e o aprendizado dos alunos. Ela pode ser utilizada para direcionar o conteúdo ministrado durante as aulas e potencializar o desempenho dos estudantes de forma individual. Após dois anos de experimentação, foi lançada no mercado brasileiro a Max.IA, uma plataforma de inteligência artificial que prevê, com 80% de acerto, quais questões e assuntos o estudante poderá errar em uma avaliação.

A partir disso, a plataforma recomenda intervenções de aprendizagem com alto grau de personalização, possibilitando que o aluno se dedique exatamente ao conteúdo que possui maior grau de dificuldade ou probabilidade de erro, como apontado pelo algoritmo de Inteligência Artificial desenvolvido pelo sistema da Max.IA.

Para Felipe Menezes, diretor de inovação e um dos fundadores da Max.IA, sistemas de inteligência artificial, especializados em coleta de dados preditivos, classificação e cruzamento de informações, são ferramentas valiosas. Estes sistemas, ao “analisar e aprender” o comportamento dos estudantes, fornecem recomendações individualizadas, alinhadas às necessidades e dificuldades específicas de cada aluno.

Reflexo no engajamento dos estudantes

Tal abordagem resulta em um maior engajamento dos estudantes, pois eles podem otimizar seu tempo e focar de forma mais assertiva em seus estudos. Além disso, com a ajuda dessa IA, os professores têm a carga de trabalho significativamente reduzida. Em questão de minutos, avaliações robustas, similares ao padrão ENEM com 180 questões, podem ser elaboradas em menos de três minutos, enquanto planos de aulas — contemplando metodologias ativas e tradicionais — são desenvolvidos para cada turma em menos de 2 minutos. Dessa forma, os docentes podem dedicar mais tempo à interação direta e ao suporte aos seus alunos, potencializando o processo educativo.

“A IA tem transformado a gestão educacional. Nossa tecnologia antecipa falhas dos alunos em avaliações e conteúdos, intervindo antes que se concretizem. Isso não só melhora o desempenho acadêmico, mas também otimiza custos ao reduzir tarefas administrativas, resultando em margens operacionais mais robustas para as escolas. A previsibilidade e eficiência oferecidas serão, sem dúvida, um diferencial reconhecido no mercado”, destaca Felipe.

Foto: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.

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