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O Brasil tem aproximadamente dois milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa cerca de 1% da população do país. O dado, fundamentado em estudos científicos e análises demográficas, evidencia a importância de políticas e ações voltadas para a inclusão e o suporte a essa parcela significativa da sociedade brasileira, inclusive na educação.

Atender crianças com autismo é não apenas um dever legal, mas também um compromisso moral que as escolas devem ter. A Lei Berenice Piana (n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012) garante o acesso à educação e ao ensino profissionalizante para pessoas com TEA, fortalecendo os alicerces da inclusão escolar no Brasil.

Mais do que uma obrigação legal, a inclusão de alunos autistas é um passo essencial na construção de uma sociedade mais igualitária e acolhedora. Toda criança, independente de suas características individuais, merece ter acesso ao melhor ensino disponível, em um ambiente que promova seu bem-estar e sua formação humana e acadêmica.

Para proporcionar essa realidade aos alunos autistas, as escolas devem realizar adaptações que permitam que esses estudantes aprendam no mesmo nível que seus colegas, garantindo assim sua participação ativa e sua integração na comunidade escolar. 

Uma abordagem inclusiva não apenas beneficia os alunos autistas, mas enriquece a experiência educacional de toda a comunidade escolar e contribui para a formação de uma sociedade mais justa e solidária.

Batemos um papo com a professora, pesquisadora e colaboradora educacional Ericka Vitta para saber como as escolas devem acolher os alunos autistas. Confira!

Inclusão escolar vai além da estrutura física

A inclusão de crianças portadoras de Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas é um desafio que exige não apenas adaptações estruturais, mas também entendimento das necessidades individuais de cada criança e de sua família. 

Segundo a professora e pesquisadora Ericka Vitta, as primeiras iniciativas para acolher essas crianças devem se concentrar em conhecer a família e buscar todas as informações relevantes sobre a criança, sua rotina e terapias.

“É fundamental estabelecer uma comunicação aberta e empática com a família, pois eles são os principais parceiros no processo de inclusão”, destaca Ericka. 

“Ao compreendermos o contexto familiar e as necessidades específicas da criança, podemos criar um ambiente escolar mais acolhedor e adaptado às suas particularidades”, acrescenta.

A adaptação de crianças com TEA ao ambiente escolar deve ser pautada em muito afeto e cuidado, ressalta a especialista. Estratégias que favoreçam a tranquilidade e a exploração do meio são essenciais nesse processo. 

As artes, por exemplo, são muito bem aceitas e colaboram significativamente na adaptação das crianças com TEA, permitindo-lhes expressar suas emoções e interesses de forma criativa”.

Além disso, é fundamental que os educadores conheçam detalhes e ações pontuais para proporcionar um ambiente inclusivo e estimulante para os alunos. De acordo com Ericka, ao reconhecer e valorizar as individualidades do aluno, as escolas podem proporcionar experiências educacionais enriquecedoras e promover uma verdadeira inclusão de todos.

Interação com colegas e acompanhamento profissional

Na jornada da inclusão escolar de crianças com TEA, os recursos mais valiosos são, sem dúvida, os recursos humanos. A inclusão efetiva dessas crianças não apenas as integra ao ambiente escolar, mas também impulsiona seu desenvolvimento social, emocional e acadêmico.

“A presença de amigos na turma, juntamente com a atenção e o acompanhamento de profissionais de apoio, desempenha um papel crucial no desenvolvimento da comunicação e da socialização desses alunos”, destaca Ericka. 

De acordo com ela, a interação com os colegas permite que as crianças com TEA pratiquem habilidades sociais, aprendam com modelos de comportamento positivos e construam relacionamentos significativos.

Para garantir uma transição tranquila e bem-sucedida para a criança com autismo, a especialista considera como essencial estabelecer uma relação de confiança e transparência entre a escola, a família e os profissionais de apoio. 

“Reuniões periódicas e o contato com a rede de apoio que atua com a criança contribuem significativamente para esse processo”, afirma, acrescentando que a colaboração entre todos os envolvidos, aliada à comunicação aberta e eficaz, é fundamental para garantir o bem-estar e o progresso da criança.

“É importante destacar que todas as crianças têm direitos iguais em qualquer atividade. Portanto, é responsabilidade da escola garantir que cada aluno, incluindo aqueles com TEA, tenha acesso a oportunidades de aprendizagem e participação plena em atividades escolares e extracurriculares”, enfatiza.

Além disso, cuidar da rotina da criança com TEA é fundamental para promover sua estabilidade emocional e seu sucesso acadêmico. “Evitar mudanças bruscas, especialmente a rotatividade de educadores que trabalham com a criança, é essencial. O vínculo entre a criança e seus educadores é importante e deve ser uma preocupação constante da escola”.

Saiba mais

O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico que afeta a maneira como uma pessoa se comunica, interage socialmente e processa informações. Caracterizado por uma ampla gama de sintomas e graus de gravidade, o autismo é conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA) devido à sua variação em manifestações individuais.

Pessoas com autismo podem apresentar dificuldades na comunicação verbal e não verbal, padrões repetitivos de comportamento e interesses restritos. Além disso, podem ter sensibilidades sensoriais diferentes das da maioria das pessoas.

Foto de Ben Mullins na Unsplash