A neurociência passou a ser apontada por estudiosos da área como uma importante aliada para a Educação. Entre seus inúmeros benefícios, destaca-se o fato de contribuir para direcionar o educador para o entendimento das características individuais de aprendizado de cada aluno.
Dessa forma, os professores podem elaborar estratégias de ensino específicas para cada turma e/ou estudante, impulsionando ainda mais o processo de ensino e aprendizagem.
Para se aprofundar sobre esse assunto, o Escolas Exponenciais entrevistou com exclusividade a educadora Katia Chedid, que é pedagoga, psicopedagoga e especialista em neurociência aplicada à educação. Confira esse bate-papo.
Escolas Exponenciais: Primeiramente, qual a relação entre neurociência e educação?
Katia Chedid: A neurociência nos traz conhecimento e pesquisas e se revela uma ciência auxiliar para repensarmos as práticas educacionais, as estratégias que usamos em sala de aula, as formas de avaliação dos alunos, a saúde mental de todos, além de nos trazer como ensinar e aprender da melhor forma para o cérebro.
Assuntos com a metacognição, o trabalho para o desenvolvimento das funções executivas, como o cérebro funciona quando ensina e quando aprende, além do cuidado com a saúde mental do aluno e professor (depressão, automutilação, bullying e burnout) são discutidos em estudos nessa interface essencial que existe entre as ciências do cérebro e a sala de aula.
A neurociência estuda o sistema nervoso, o cérebro e trabalha na interface de várias áreas, ou seja, tem um olhar interdisciplinar.
EX: Como ela pode impulsionar ainda mais o processo de ensino e aprendizagem?
Katia Chedid: Ela traz o conhecimento recente sobre o funcionamento do cérebro. O que acontece quando algo não está funcionando bem ou funciona diferente e também como desenvolver habilidades, procedimentos e adquirir conhecimento usando estratégias com intencionalidade, pois sabemos que elas estão baseadas em evidências.
A neurociência ajuda pais, alunos e profissionais que trabalham com educação a ter um olhar mais global e interdisciplinar do processo de aprendizagem e do ensino.
Algumas formações e informações são extremamente necessárias quando falamos de educação e como nosso cérebro trabalha é um conhecimento fundamental.
EX: Qual a importância de os educadores entenderem como o cérebro funciona? Como isso contribui com as aulas e para o desenvolvimento dos próprios alunos?
Katia Chedid: Vou dar um exemplo. Todo professor sabe, na teoria, que a avaliação deveria servir para retomada de conteúdo, como meio e não como fim, um recurso para detectar o que o aluno aprendeu e, assim, poder retrabalhar alguns conteúdos.
Mas não é isso que acontece. O aluno estuda na véspera, com a intenção clara de realizar a prova e a informação é descartada logo após utilizada, pois não foi guardada na memória de longo prazo.
Muitos acreditam que o estudo para a prova faz com que os alunos retenham para sempre aquele conteúdo na memória. A neurociência diz que ele a esquecerá brevemente – a menos que perceba que essa informação será relevante em algum contexto, não irá armazená-la.
Daí a importância de rever estratégias para resgatar e aplicar a informação adquirida. Esse é um dos exemplos para aplicação da neurociência em sala de aula. Ela traz muitas informações úteis para os educadores. Além disso, saber as características do cérebro de cada faixa etária é essencial!
EX: Para as escolas que buscam inovar e se atualizar, qual a importância de trazer a neurociência para a escola?
Katia Chedid: A neurociência traz boas notícias para a educação, mas tira a escola e os educadores da zona de conforto. É necessário redesenhar o currículo, trabalhar de forma diferente os conteúdos, ver quais são essenciais, mudar a disposição das carteiras, mudar os ambientes da escola, mudar a forma de avaliação e incentivar a criatividade e a inovação. Muito trabalho e pouco tempo.
Os pedagogos estão sendo chamados a entender como o cérebro de seus alunos funciona e a revisitar seus teóricos para escrever a escola dos próximos anos. Parece ser um consenso que as escolas do mundo inteiro precisam se reinventar.
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