Pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a organização da sociedade civil Viração Educomunicação, mostra que dos mais de 7,7 mil jovens entre 15 e 17 anos entrevistados, 35% declararam ansiedade e 50% deles já sentiram a necessidade de pedir ajuda em relação à saúde mental, porém 40% não recorreram a ninguém.
Entre os motivos destacados por aqueles que não buscaram ajuda, estão a insegurança (29%), a desistência de buscar ajuda (26%), o medo de julgamento (17%) e a falta de informação sobre quem procurar (10%).
“A ansiedade dentro das escolas tem sido um tema muito discutido nos últimos anos. Constata-se um grande número de crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem que, em alguns casos, estão relacionados a problemas de saúde, como o transtorno de ansiedade, que em excesso pode influenciar negativamente a aprendizagem”, afirma Tathiana França, coordenadora pedagógica, especialista em neuropsicopedagogia.
De acordo com ela, é comum encontrar crianças ansiosas na escola e, em algumas, existe uma necessidade muito forte de encontrar alguém que possam confiar e tentar compreender o que estão sentindo. E o professor, afirma, pode ajudar muito o aluno acalmando-o, mostrando que aquilo que ele sente até é normal, conversar, estimular a autoestima, respeitar a individualidade e o tempo de cada um.
“Quando o educador se aproxima e tenta ajudar a entender o que está acontecendo, faz com que a criança se sinta segura e protegida”, enfatiza.
Sinais que merecem atenção dos professores
– Irritabilidade
– Agressividade
– Retraimento social
– Choro frequente ou alterações repentinas de humor
“Quando notadas essas mudanças, é primordial uma conversa com a família para investigação”, alerta a neuropsicopedagoga.
Estratégias para promover segurança emocional em sala de aula
Em meio aos desafios enfrentados pelos alunos na era da ansiedade, criar um ambiente de sala de aula que promova segurança emocional e bem-estar é fundamental. Segundo Tathiana, nada supera a importância da escuta ativa.
“O jovem, na maioria das vezes, busca seus professores para relatar suas histórias e naquele momento é importante estar 100% presente para perceber os níveis de ansiedade e ajudar”, diz.
Tathiana afirma ainda que uma sala de aula onde todos são encorajados a participar e têm suas vozes ouvidas cria um ambiente de segurança e confiança. Valorizar as contribuições de cada aluno promove o senso de pertencimento e bem-estar.
A especialista também sugere o uso responsável da tecnologia em sala de aula. “A tecnologia entra em um cenário de bem ou mal. Quando assistidos vídeos incentivadores da depressão, que ensinam os jovens a ‘minimizar essa dor’, a tecnologia não ajuda, pelo contrário, piora o quadro”.
Porém, destaca, quando o professor pode abrir uma sala de bate papo sobre as emoções, ou um chat para compartilhar os sentimentos, ajuda muito aqueles que presencialmente não se sentem à vontade para falar. “Ainda existem vídeos motivacionais e artigos interessantes que os educadores podem utilizar em suas aulas”, completa.
Como fortalecer os vínculos familiares na era da ansiedade
Embora seja ideal que toda família acompanhe de perto os filhos durante a fase escolar, sabemos que, especialmente na adolescência, isso nem sempre é uma realidade. No entanto, existem maneiras criativas e eficazes de envolver as famílias na vida escolar dos adolescentes.
Tathiana sugere organizar eventos que envolvam as famílias, como dia da família na escola, festas temáticas ou feiras culturais, proporcionar oportunidades para os pais se conectarem com a comunidade escolar e se envolverem na vida acadêmica de seus filhos.
De acordo com ela, uma iniciativa prática e bem-sucedida é a solicitação de vídeos curtos dos pais para seus filhos. “Esse gesto simples não apenas fortalece os laços familiares, mas também cria um vínculo emocional entre os alunos e a escola”.
Educadores devem se preparar para desafios socioemocionais
Atualmente, a legislação educacional tem enfatizado a importância do desenvolvimento socioemocional dos alunos, porém, a formação acadêmica dos professores muitas vezes não aborda adequadamente essa disciplina.
Apesar disso, acredita-se que seja apenas uma questão de tempo até que essa lacuna seja preenchida. “Enquanto esse movimento não acontece, os professores devem buscar aprimorar os conhecimentos na área por meio de cursos, pós-graduações e materiais que tragam explicações sobre o assunto. E as escolas também oferecerem a formação em suas equipes”, comenta a neuropsicopedagoga.
Tathiana diz que como coordenadora e especialista nessa área, tem dedicado parte de seu tempo à criação de formações. Uma delas foi intitulada “Como atuar em sala de aula na era da ansiedade”, que teve como objetivo preparar os educadores para os desafios emocionais enfrentados atualmente.
Você também pode gostar disso:
21 ações práticas para reduzir o bullying nas escolas