Alberto Sousa, de 18 anos, conta que várias vezes ele e os amigos quiseram largar a escola durante a pandemia. Mesmo sem a necessidade de ajudar a família financeiramente e apoio da mãe para continuar, não aguentava mais ficar em casa e pensava em arrumar um emprego só para poder sair. Mas mensagens de texto que passaram a chegar duas vezes por semana em seu celular mudaram essa história.
“No começo eu pensava: pra que isso, quem vai ler? Mas fui pegando amor. E me ajudaram demais”, diz o jovem de Anápolis (GO). Eram mensagens simples, dessas motivacionais que muita gente pode torcer o nariz. Mas baseadas na ciência comportamental que fez com que Richard Thaler, economista da Universidade de Chicago (EUA), levasse o prêmio Nobel em 2017 e ficasse famoso com o best seller Nudge: Como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade.
Sousa, que cursava em 2020 o ensino médio na rede goiana, ficou na escola e se formou. Hoje estuda para entrar num curso de Medicina. Os nudges (em português, empurrõezinhos) por meio de mensagens de texto foram enviados a 12 mil alunos de escolas estaduais goianas.
PESQUISA
Estudo feito por pesquisadores da Universidade de Zurique (Suíça), divulgado semana passada, mostra que as mensagens reduziram em 20% as chances de abandono escolar na pandemia. O impacto foi justamente entre alunos com mais risco de largar os estudos, como aqueles em vulnerabilidade social ou com desempenho ruim. No Brasil, 244 mil crianças deixaram a escola este ano – alta de 171% ante 2019.
As mensagens ainda melhoraram o resultado de Português e Matemática entre os dois mil alunos que passaram por avaliação feita pelo Instituto Sonho Grande, entidade de educação do terceiro setor parceira da ação, assim como a edtech Movva. “Nunca falavam ‘estude Matemática’ ou ‘lembre que você estava estudando conjugações na aula de Português'”, diz Guilherme Lichand, professor da Universidade de Zurique e um dos autores do estudo. “Elas ativam mecanismos de motivação, alteram modelos mentais, atenção, aumentam autoestima e o autocontrole para não agir por impulso.” Entre exemplos de textos estão: “é normal ter medo em tempos de incerteza, use isso para focar em seus planos futuros” ou “errar quando tenta aprender faz parte do processo e prepara seu cérebro para o novo conhecimento”.
ALCANCE
Secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli conta que o projeto foi oferecido gratuitamente ao Estado em junho de 2020, quando havia alto número de estudantes que não acessavam as plataformas online de ensino. “Tínhamos alunos com medo de fracassar, mesmo os que estavam indo bem no presencial, mas em casa não conseguiam estudar”. Com o resultado positivo, a rede, que agora reabriu escolas, deve expandir o projeto e já usou as mensagens este mês para motivar os alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Depois do piloto em Goiás, o Sonho Grande levou a iniciativa para Alagoas, Minas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. A diretora executiva do instituto, Ana Paula Pereira, diz que foram escolhidas as mensagens de texto (SMS) em vez do WhatsApp para chegar ao público que mais precisava. “Não precisam de internet nem exigem que a pessoa tenha smartphone, o que ajuda a acessar a camada com a qual estávamos mais preocupados, de famílias sócio economicamente vulneráveis.”
Para Sousa, as mensagens deram força para ele terminar a escola sozinho no quarto, apenas pela internet. “No ano mais difícil da minha vida, eu sentia que tinha alguém que se preocupava comigo além da minha mãe.”
DADOS
Redes públicas que queiram implementar projetos de motivação dos alunos por meio de mensagens de celular precisam inicialmente dos dados dos matriculados. Em Goiás, a secretária Fátima conta que houve dificuldade inicial de as famílias aceitarem liberar os números de telefones dos alunos e dos pais. Temiam uso político, diz ela. A comunicação sobre o projeto, portanto, precisa ser clara para que haja aceitação. É importante também que professores e diretores se envolvam na criação do conteúdo das mensagens para que sejam mais individualizadas e, assim, surtam mais efeito. As redes ainda podem fazer parcerias com empresas de telefonia móvel e de tecnologia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Renata Cafardo