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O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é uma oportunidade para refletir sobre questões que impactam diretamente na participação feminina em cursos ligados às áreas STEM, sigla em inglês para se referir a carreiras na Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

De acordo com a Unesco, apenas 30% das estudantes do ensino superior em todo o mundo estão matriculadas em cursos relacionados às áreas STEM. No Brasil, os números também são baixos: as mulheres representam apenas 35% das matrículas nessas áreas da graduação. 

E quando observamos mais de perto, vemos que menos de 28% das meninas estão estudando engenharia e tecnologia. Mas, afinal, o que impede de termos mais meninas em salas de aula? Será que as escolas podem ajudar a mudar esse cenário?

Segundo Luciana Montanari, professora da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) e coordenadora do Programa “Elas na Engenharia”, é importante que as escolas ofereçam às meninas incentivo e oportunidades educacionais equitativas, contribuindo com a consciência de que as mulheres são tão capazes quantos os homens. 

“As universidades também oferecem programas que podem contribuir com a formação de professores e promover ações de inclusão de mulheres na área de ciências exatas”, afirma.

De acordo com Luciana, no ambiente escolar não deve ser diferenciada a participação de meninos e meninas em atividades relacionadas às exatas. Isso deve ocorrer desde a educação infantil.

Além disso, destaca, é importante promover a sensibilização da sociedade e da família sobre como incentivar as filhas e meninas em matemática e ciências, apoiando oportunidades de aprendizagem e mensagens positivas sobre as suas capacidades. 

“Ensine às meninas, aos professores e aos pais que as competências matemáticas são aprendidas e mudam ao longo do tempo — promovendo uma mentalidade construtiva que capacita as meninas a enfrentar desafios”. 

Segundo Luciana, outra iniciativa relevante é apresentar e enfatizar modelos fortes e visíveis de mulheres nas áreas de matemática, química, física e ciências. 

“Precisamos evidenciar as mulheres que entraram para a história pelos grandes feitos e também aquelas que estão aí, se destacando por liderar pesquisas científicas, por inovar, por empreender, enfim, por ser protagonistas na área de ciências exatas e tecnológicas. Esse conhecimento precisa chegar até as meninas e jovens”.

Papel das escolas x  áreas STEM

Professora Sênior do Departamento de Ciências da Computação (SCC) do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), Maria das Graças Campos Pimentel afirma que as escolas, do infantil ao ensino médio, podem criar turmas e grupos de estudos STEM exclusivamente para meninas. 

“Com práticas e exemplos focados na temática do cotidiano de meninas e mulheres, e no trabalho de profissionais e cientistas que se identificam com o gênero feminino”.

Ela sugere ainda a criação de grupos de estudos para oferecer aulas extras e competições, além de parcerias de pais da área de STEM que tenham filhas e que possam realizar atividades com grupos de meninas nas escolas.

Segundo Maria das Graças, outra opção é as escolas firmarem parcerias com universidades e outras instituições de ensino e pesquisa que podem formar grupos STEM para preparar aulas, atividades, competições e mostra de projetos, entre outros, desenvolvidos por alunas nas faculdades.

Professora sugere ‘mão na massa’ e debates sobre a atuação feminina

Professora da Escola de Engenharia de São Carlos, Luciana Montanari acredita que é possível ter duas linhas de atuação nas escolas. A primeira é o mão-na-massa, ou seja, fazer com que as meninas se interessem mais e participem mais desse universo de aprendizagem, participando de dinâmicas em sala de aula, feiras de ciências, olimpíadas do conhecimento, práticas laboratoriais, capacitações, entre outras. 

A segunda linha de ação está voltada à reflexão, ao debate sobre a presença e a atuação feminina em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. “Devem ser explorados todos os recursos que tragam luz e contribuam para tratar a questão”. 

Segundo Luciana, a escola deve propiciar um ambiente encorajador e sem estigma ou pressão para que as jovens possam explorar seus conhecimentos e habilidades nessas disciplinas temáticas que compõem o STEM. Nesse sentido, a participação de professoras do ensino superior e cientistas é muito relevante.   

Além da escola, a família também pode ter um papel significativo nesse processo, desmistificando a área e incentivando o contato com rotinas que estejam relacionadas ao STEM. 

“Elas na Engenharia”

A Universidade de São Paulo (USP) oferece, desde 2019, em São Carlos o programa “Elas na Engenharia”. O projeto tem como objetivo incentivar alunas de ensino médio de escolas públicas pela escolha da carreira nas áreas das ciências exatas e tecnologias, com ênfase nas áreas de engenharia e de química. 

O desenvolvimento do projeto ocorre por meio de atividades promovidas por grupos de estudantes da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) em parceria com o Instituto de Química de São Carlos (IQSC) para as instituições de ensino médio da cidade de São Carlos.

As atividades referem-se à participação em oficinas práticas de desenvolvimento de soluções tecnológicas e de empreendedorismo que possam, por um lado, melhorar a comunidade em que estas meninas estão inseridas e, por outro lado, fomentar conversas com a comunidade USP, conhecendo as inúmeras oportunidades que as alunas de graduação têm dentro e fora da universidade. 

O benefício do projeto se estende tanto aos estudantes de graduação, desenvolvendo competências necessárias para atuação no mercado de trabalho, na relação universidade/comunidade quanto na formação das alunas do ensino médio, apresentando novas perspectivas.

Outros objetivos importantes são de aproximar a Universidade de São Paulo dos estudantes de ensino médio de escolas do entorno da EESC, bem como os familiares e aproximar as professoras de nível médio dos professores da USP e estimular essas professoras a continuarem na sua área de ensino e melhorar a relação entre teoria e prática. 

Para participar, as alunas devem se inscrever no edital que é divulgado no site da EESC e em todas as escolas e concorrer às vagas. Os editais são semestrais.

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Imagem: Freepik