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O letramento na educação básica, que engloba as habilidades de leitura, de escrita e de compreensão de textos, é fundamental para o desenvolvimento educacional dos estudantes e para a participação ativa deles na sociedade. E, nos últimos anos, com o impacto da crise sanitária mundial, o Brasil tem enfrentado um cenário preocupante nesse processo de aprendizado dos alunos.

Algumas pesquisas, como a PIRLS (Estudo Internacional de Progresso em Leitura) e o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), mostram que a realidade brasileira sobre os hábitos de leitura entre as crianças é muito preocupante. No PIRLS, o país ficou na “zona de rebaixamento”, atrás de Uzbequistão, Cazaquistão e Kosovo.

Já no último PISA (2019), é possível observar a Estônia em primeiro lugar, enquanto o Brasil está na antepenúltima colocação, à frente apenas da Colômbia, por apenas um ponto, e da Indonésia.

Para Fernando Henrique Lino, pesquisador e neuroeducador, o hábito de leitura de crianças e adolescentes pode ser considerado um resultado da falta de investimento em políticas públicas efetivas para a melhoria do letramento e o efeito da pandemia na educação.

“O impacto da pandemia afetou profundamente o setor educacional como um todo, inclusive muitos pais e alunos tiveram dificuldades no controle do uso de telas e de estabelecer uma fronteira clara entre o universo digital e a vida real. Mesmo no momento pós-pandêmico, a vida real parece ter diminuído”, afirma.

Ele ainda explica que na Estônia, país que ficou em primeiro lugar no ranking, a inclusão do letramento digital é compulsória no sistema de educação, sendo parte fundamental da estratégia de ensino. “O país se orgulha em dizer que 2/3 das famílias leem livros para os seus filhos praticamente todas as noites, uma realidade diferente comparada ao Brasil. Com o tempo, é possível avaliar e analisar as consequências desse déficit no letramento na vida dos estudantes”, comenta Lino.

Entretanto, o profissional destaca que existem alguns possíveis caminhos para modificar essa realidade, como a educação integral. Na pesquisa de mestrado realizada por Lino, alunos de escolas de tempo integral (e/ou tempo estendido) têm uma compulsão por telas significativamente menor do que outros alunos (-23%).

“As crianças que têm acesso a experiências ricas durante a semana acabam tendo menos atração pelo consumo passivo nas telas, tendendo a atividades com gratificação mais longa, como a leitura”, comenta.

O letramento e a cultura digital

Lino ressalta que a sociedade vivencia um período de transição de uma cultura baseada no letramento tradicional para uma cultura influenciada pelas mídias digitais, com aumento de consumo e informação.

“Esse excesso de informação não se traduz na formação ou no estímulo a leitores melhores, trata-se de uma questão de quantidade versus qualidade”, comenta o neuroeducador.

Ainda segundo o especialista, a compulsão por telas ocorre por conta do fácil acesso a smartphones e tablets, o que tem levado muitas pessoas, incluindo crianças e adolescentes, a passarem longos períodos imersos em atividades digitais. Como resultado, é possível observar a diminuição do tempo dedicado à leitura de livros e de outros materiais impressos, fundamentais para o desenvolvimento do letramento.

Uma alternativa para solucionar essa questão, Lino aponta a “sabedoria digital”, um conjunto de estratégias educacionais para levar a tecnologia para os alunos de maneira monitorada, progressiva e segura para crianças e famílias.

Lino relata ainda que, como um pesquisador que tem contato com escolas, alunos e famílias em diversos contextos sociais, “a tecnologia pode ser uma aliada, mas também uma inimiga. Infelizmente, noto que quando o celular chega nas mãos de uma criança de 10 anos, ao invés de se tornar uma ferramenta de empoderamento do conhecimento, criação e fomento da curiosidade, ela se torna, na maioria das vezes, um catalisador de compulsões e pode ser até uma barreira para a curiosidade infantil”, pontua.

 

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