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O Brasil atravessa uma onda sem precedentes de ataques e ameaças contra escolas. A situação inédita no país desafia até mesmo as autoridades e deixa os gestores escolares em alerta na busca de soluções para combater esse tipo de violência, como já comentamos por aqui

Especialistas em convivência escolar listam algumas medidas que podem ser adotadas pelos gestores para lidar com essa recente onda de ataques. Para elas, o mais importante é que todas as ações sejam pautadas pela cultura de paz no ambiente escolar, o que envolve diálogo, respeito e cuidado com todos da comunidade escolar, alunos, professores e pais. 

“O que estamos vivendo é um reflexo do aumento da violência e do discurso de ódio na nossa sociedade. A escola é vítima por estar inserida nessa dinâmica. Por isso, combater essa situação passa por usarmos a ferramenta oposta: promover a paz e o convívio respeitoso”, diz Luciene Tognetta, pesquisadora e líder do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral).

 

Alerta aos gestores: segurança não deve trazer mais violência

O primeiro alerta feito por Luciene é para que os gestores, em um momento de pressão e medo, não recorram a medidas de segurança que podem trazer mais elementos de violência para dentro da escola. 

“Em um momento de tensão, muitos pais e até os gestores podem pensar que ter seguranças armados, detectores de metal e outras ações do tipo são a solução. Mas elas não resolvem a raiz do problema e tornam o ambiente escolar menos acolhedor.”

Ela lembra que pesquisas feitas em países com histórico de massacres em escolas, como os Estados Unidos, demonstram que colocar polícia ou seguranças armados não resolve o problema e ainda aumentou a discriminação de alunos negros e latinos, tendo como resultado o maior abandono escolar desse grupo.

Investir em equipamentos do tipo no entorno e dentro das escolas pode ajudar na sensação de maior segurança, mas não são garantia de evitar a violência.

Reforço do diálogo com a comunidade escolar

Para Cleo Garcia, também pesquisadora do Gepem, o momento atual exige uma maior proximidade da escola com os alunos e a família para que todos se sintam mais seguros. 

Por isso, diz ela, é importante que as escolas melhorem a comunicação. Seja por meio de reuniões, comunicados, encontros ou até a abertura de novos canais de diálogo. “Os pais precisam saber o que está sendo feito pela escola para que possam lidar com o medo e a tensão que esse momento gerou.”
Segundo Cleo, essa parceria também faz com que a escola e os pais estejam alinhados para atuar caso algum aluno apresente sinais de que precisa de ajuda. 

“Se algum aluno estiver com o comportamento violento ou mais isolado, é importante que a escola e a família atuem em parceria. As crianças que estão com medo ou ansiosas pela situação também precisam de apoio dos dois lados. Não dá para trabalharmos isolados.”

 

Gestores devem orientar as famílias a buscarem ajuda

As pesquisadoras também ressaltam que os gestores precisam estar preparados para orientar os pais a procurar ajuda especializada em alguns casos. “Sabemos que nem todos os pais estão abertos a esse tipo de recomendação, mas as escolas precisam saber como conversar sobre esse assunto”, diz Cleo.

Há casos em que os alunos vão precisar de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico e, muitas vezes, quem identifica a necessidade de uma avaliação é a escola. “Os educadores têm uma visão privilegiada nesse sentido, porque têm contato com muitas crianças e adolescentes da mesma idade e assim conseguem perceber comportamentos que estão fora do comum ou podem ser sinais de algum transtorno.”

Elas ressaltam, no entanto, que isso não significa que a escola deva fazer o diagnóstico, apenas orientar as famílias a buscar a ajuda adequada.

Os associados do Escolas Exponenciais têm acesso a uma trilha de conteúdos sobre educação socioemocional, o que pode ajudar a impulsionar sua instituição de ensino.

 

Conversa sobre redes sociais, jogos e discurso de ódio

Os ataques contra escolas também reacenderam o debate sobre a influência da internet e redes sociais no comportamento das crianças e adolescentes, por isso, é importante que as escolas reservem tempo e espaço para discutir sobre o tema – tanto com alunos, como com os pais.

É importante que os educadores busquem orientar os alunos para a dimensão do problema e, principalmente, para os pontos de atenção com relação às comunidades, grupos, chats de subcultura extremista e veiculação de discurso de ódio.

Saber o que fazer em caso de ameaça 

Diante do cenário de ataques, supostas ameaças contra escolas também se tornaram comuns nas últimas semanas. Muitas delas se tratam de trotes, mas as autoridades ressaltam que elas não devem ser ignoradas. Ainda que sejam falsas ameaças, essa prática é um crime, por isso, os gestores precisam estar preparados para saber como lidar com esse tipo de situação.

As pesquisadoras destacam que as escolas não devem ignorar as ameaças, ou seja, devem procurar a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça para denunciar qualquer tipo de ameaça. Também é importante ter um diálogo transparente com os pais sobre essas situações. 

“Os pais conversam entre si, então, mentir ou fingir que a ameaça não ocorreu não é uma boa saída. O melhor é ser transparente, informar que as providências foram tomadas para que todos se sintam seguros”, diz Luciene. 

Elas também dizem que os gestores devem orientar os pais a não compartilhar mensagens, vídeos, fotos ou áudios com as ameaças.

 

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