À medida que nos aproximamos do retorno às aulas, surge a curiosidade sobre as tendências que moldarão o cenário educacional ao longo de 2024.
Em busca de insights, conversamos com Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, que compartilhou suas perspectivas sobre as principais tendências educacionais para 2024. No entanto, antes de explorar as expectativas para este ano, Claudia faz uma análise do cenário educacional do ano anterior. Confira!
Organização e desafios para implementação em 2024
O ano de 2023 foi marcado por um “freio de arrumação” no Ministério da Educação (MEC), aponta Claudia, representando um período de transição e reorganização após dois anos tumultuados com escolas fechadas por conta da pandemia e falta de coordenação nacional na política educacional.
Para a presidente do Instituto Singularidades, durante o ano que passou, o governo buscou redefinir prioridades, afastando-se de disputas ideológicas e colocando as políticas públicas educacionais no centro das discussões.
Claudia destaca a necessidade de avançar em diversas frentes, incluindo a expansão do ensino em tempo integral, desafiando a concepção tradicional de ensino em apenas quatro horas diárias.
Além disso, a questão da alfabetização foi ressaltada, buscando uma abordagem baseada em evidências, e o impulso para o ensino técnico profissional foi reafirmado, afirma.
No entanto, apesar dos anúncios de pautas importantes, a implementação efetiva dessas medidas em 2023 foi limitada, refletindo avanços lentos e uma execução orçamentária abaixo do esperado, pontua.
Ela acredita que o ano de 2024 surge como uma oportunidade importante para transformar as promessas em ações concretas. De acordo com a especialista em Educação, a implementação efetiva das agendas anunciadas em 2023, como o ensino em tempo integral e a alfabetização baseada em evidências, será um teste fundamental para o compromisso do governo com a melhoria da educação.
Além disso, a ênfase em conectividade e tecnologia nas escolas aponta para uma mudança no paradigma educacional, destacando a necessidade urgente de preparar as instituições de ensino para a era digital.
Para Claudia, embora o aperfeiçoamento do novo ensino médio tenha enfrentado atrasos, o foco em conectividade e tecnologia sinaliza a construção de um caminho rumo a um sistema educacional mais adaptável e alinhado com as demandas do século 21.
Tendências educacionais para 2024: tecnologia como ferramenta de ensino
A tecnologia continuará desempenhando um papel importante, mas com uma abordagem mais integrativa e aprimorada, afirma Claudia. “Não se trata de substituir os tradicionais livros didáticos e físicos, mas sim de incorporar a tecnologia de maneira estratégica”.
Uma das mudanças significativas será a presença mais constante de computadores na sala de aula e na sala de leitura e não só mais em laboratórios de informática.
A presidente do Instituto Singularidades aponta que os dispositivos serão utilizados não apenas para projeções de aulas, mas também para atividades colaborativas de resolução de problemas, estimulando a criatividade dos alunos.
No entanto, segundo ela, essa evolução requer uma preparação adequada das escolas, especialmente no que diz respeito à conectividade. “Embora tenha havido melhorias nos últimos dois anos, é necessário avançar para uma conectividade de alta velocidade. Além disso, a integração de plataformas adaptativas e aprendizado adaptativo será essencial”.
Essas ferramentas, mediadas por professores, proporcionarão avaliações formativas, identificando as deficiências de aprendizagem de cada aluno e direcionando-os para materiais digitais ou não, a fim de preencher essas lacunas.
Segundo Claudia, a urgência dessa abordagem destacada, é inspirada em práticas bem-sucedidas na Europa e nos Estados Unidos. “A ideia de usar plataformas que desempenhem esse papel, permitindo a formação de salas de aula com alunos de diferentes níveis, mas da mesma faixa etária, será vital. Esse modelo flexível surge como uma resposta à necessidade que surgiu com mais intensidade após a pandemia”, explica.
Outro avanço será a utilização da tecnologia para introduzir o conceito de sala de aula invertida. Os professores poderão trazer pequenos vídeos, criando recursos educacionais que os alunos assistirão antes da aula.
Isso permite que os estudantes realizem pesquisas ou revisem o material em casa, reservando o tempo na sala de aula para uma abordagem mais personalizada, focada no melhor potencial do professor para garantir o aprendizado de todos os alunos, não apenas de alguns.
Valorização do ensino integral e diversificação de práticas avaliativas
Claudia diz ser urgente a transição para o período integral, visando tornar as aulas mais práticas, interativas e propícias à formação de pensadores autônomos. Isso implica em ampliar o uso de laboratórios, tanto os mais tradicionais quanto os espaços makers, promovendo uma abordagem metodológica ativa.
Além disso, afirma, é fundamental diversificar as práticas avaliativas, não se limitando apenas a exames unificados no final do ano. A avaliação formativa, conduzida pelo professor por meio de provas escritas e o uso de plataformas adaptativas, é essencial para compreender o nível de compreensão dos alunos em tempo real, destaca a especialista.
“Nesse contexto, recordamos as palavras do saudoso educador brasileiro, Antonio Carlos Gomes da Costa, que ressaltava a importância do protagonismo do aluno. Destacava-se a necessidade de mostrar ao estudante que ele é o principal agente de sua aprendizagem e construção de seu futuro”.
Claudia também defende a implementação da proposta da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que reserva tempo para discutir o projeto de vida dos alunos, explorando seus sonhos, como realizá-los e proporcionando orientação e mentoria.
Aprendizagem socioemocional
As competências socioemocionais assumirão uma importância significativa entre as tendências educacionais para 2024, rompendo com a ideia inicial de serem apenas um modismo. Segundo Claudia, pesquisas extensivas deixaram claro que essas competências não são apenas uma tendência passageira, mas estão correlacionadas até mesmo com as habilidades cognitivas.
“Formar indivíduos abertos ao novo, resilientes, persistentes e autoregulados não apenas promove uma educação integral, mas também é essencial para o aprendizado em disciplinas específicas, como português, matemática, história e filosofia”, afirma.
De acordo com a presidente do Instituto Singularidades, preparar os alunos para o mundo do trabalho, cultivar cidadãos conscientes e nutrir a apreciação pelas artes requerem habilidades como abertura ao novo, persistência e resiliência.
Esse conjunto de competências é especialmente importante se a intenção é abordar a questão da equidade, proporcionando mais oportunidades para aqueles que têm menos.
Para Claudia, em um país marcado por profundas desigualdades educacionais, é fundamental incorporar o conceito de resiliência e persistência, destacando que todo aluno possui a capacidade de aprender e desenvolver seu potencial.
Isso, por sua vez, demanda uma formação significativa para os professores, incentivando o desenvolvimento de suas próprias competências socioemocionais.
“É importante ressaltar que competências socioemocionais não são adquiridas por meio de aulas expositivas puramente teóricas; o professor desempenha um papel fundamental, exercendo empatia, especialmente em um mundo marcado por ódio, raiva e falta de amor”, conclui.
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