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O conceito de sala de aula invertida ou flipped classroom já se destacava no mundo da educação, mas ganhou ainda mais força com o ensino a distância e com o ensino híbrido. E, na volta às aulas presenciais, a aprendizagem invertida foi incorporada em muitas escolas.

Conversamos com Wilson Azevedo, conselheiro da ABED – Associação Brasileira de Ensino a Distância para saber como colocar em prática na escola a sala de aula invertida. O especialista é formado em Filosofia, Antropologia Social e Educação a Distância, e também é diretor da Aquifolium Educacional, empresa especializada em inovação educacional e educação online.

Sala de aula invertida: uma nova forma de ensinar e aprender

A sala de aula invertida é uma metodologia na qual o aluno tem o primeiro contato com a matéria a ser estudada em casa, chegando à sala de aula (física ou virtual síncrona) já tendo lido, visto ou ouvido algum material sobre o assunto.

Dessa forma, o tempo junto ao professor passa a ser usado para aprofundar o tema, tirar dúvidas e realizar atividades, para consolidar o que foi estudado de forma individual.

“O termo sala de aula invertida já é algo que ficou como referência histórica, hoje o mais usado é mesmo aprendizagem invertida”, explica Wilson.

O especialista conta que na prática de aprendizagem invertida já tem mais de 15 anos no mundo e que, hoje, existem milhares de escolas que praticam o método. Porém, o assunto ainda é novidade em diversas instituições de ensino e para dar bons resultados precisa ser   apresentado de forma cuidadosa, orienta Wilson.

Não se assuste com a resistência à mudança 

“A implementação da Sala de Aula Invertida, como qualquer outra inovação, causa estranheza em alguns públicos, que no mundo da educação são 4: os alunos, os pais, os gestores e os professores”, afirma.

“Para introduzir qualquer inovação, é preciso pensar nesses 4 públicos e sempre apresentar uma nova ideia de forma palatável e compreensível, preparando-os para o que está por vir e implementando as novas ideias de forma gradual”, completa Wilson Azevedo.

Segundo o especialista, uma mudança brusca pode gerar uma grande refração, pois as pessoas estão acostumadas a outra cultura escolar. E isso inclui gestores, pais, alunos e professores.

Ele sugere expor as novas ideias logo no início do ano ou do semestre, para minimizar o choque e administrar a mudança da melhor forma possível.

“Nem sempre se consegue adesão à inovação. Existem os inovadores, os primeiros adeptos, os adeptos secundários, os resistentes e os que não aceitam nunca a inovação. Quanto melhor a introdução à inovação, neste caso a Aprendizagem Invertida, melhores os resultados. A experiência mostra que uma inserção de inovação bem trabalhada faz com que a mudança seja muito mais suave e tranquila para todos”, afirma Wilson.

A importância de uma boa introdução à Aprendizagem Invertida

Segundo o conselheiro da ABED, uma experiência de Sala de Aula Invertida pode partir de um professor – e não obrigatoriamente do gestor.

É importante mostrar artigos, vídeos, fundamentar o método, explicando que não é uma invenção de apenas uma cabeça, mas, sim, algo já bastante difundido e verificado positivamente no mundo todo”, diz o especialista.

Wilson Azevedo afirma que o mesmo deve ser feito com pais e alunos, principalmente com alunos do Fundamental I e II, educação infantil e até primeiro ano do Ensino Médio.

“O início do ano letivo é um momento importante para apresentar propostas, por exemplo por meio de uma reunião ou mesmo uma “carta” aos pais (via agenda digital) explicando a nova metodologia, apresentando suas vantagens e dando a segurança de que o estudante não será cobaia de um experimento único”, sugere.

Ele ainda acrescenta que “o método, comprovadamente, aumenta a autonomia dos alunos, seu protagonismo, sua auto estima, disciplina, engajamento com os estudos e o vínculo com professores”. 

Ele explica que a qualidade do tempo na sala de aula muda muito e que há um ganho real para muitos alunos, especialmente para aqueles que têm dificuldades com determinadas matérias.

“O ganho é muito grande em relação a esses alunos e pelo lado de quem já tem facilidade com o aprendizado não se perde nada. Por isso é muito importante essa explicação aos pais, principalmente aos pais daqueles alunos que passam raspando ou que ficam em recuperação”, explica Wilson.

Regras bem definidas com os alunos: um ponto fundamental

Wilson Azevedo explica que os alunos também precisam ser preparados para essa nova dinâmica, pois existe uma cultura escolar tradicionalmente baseada em aulas expositivas, tarefas para casa e provas periódicas.

Ele ressalta que os alunos estão familiarizados com determinadas regras do jogo e precisam ser apresentados a novas formas de ensino e aprendizagem com muita clareza.

“Um dos pontos mais sensíveis da Sala de Aula Invertida é o que o aluno faz fora da escola, pois ele está acostumado a levar deveres, tarefas, exercícios para casa. E ele passa a não fazer mais isso, ele passa a ter apresentação de conteúdo em casa, e fazer o que fazia em casa na escola com o professor”, explica Wilson. 

Apesar de a nova geração estar acostumada a mídias digitais, explica o especialista, não obrigatoriamente sabe assistir vídeos para fins de instrução e como primeiro contato com uma disciplina a ser estudada.

“Aluno não tem a cultura, a prática cotidiana de estudar por vídeo em casa, ou mesmo por áudios ou textos.”

E como driblar esse problema?

A melhor maneira de ensinar a fazer isso é assistir a esses vídeos com os alunos em sala de aula, praticar com eles o que você espera que eles façam sozinhos em casa. O professor precisa propor questões, ensinar os alunos a anotar dúvidas, ensinar a pausar e retornar o vídeo até entender, e por aí vai. Ele precisa promover a experiência do primeiro contato de um conteúdo por meio de vídeos.” 

Wilson Azevedo afirma que é preciso explicar essa nova rotina também para os pais e explicar que a Aprendizagem Invertida não pode acontecer de forma passiva.

O aluno deve ser ativo e os pais podem ajudar seus filhos a terem esse envolvimento ativo no seu momento de estudo individual em casa.

Uma nova sala de aula

O aluno também precisa saber o que se espera dele em sala de aula com a Aprendizagem Invertida e isso tem que ser apresentado de forma gradual e assistida. O professor precisa mostrar que a sala de aula simplesmente expositiva não existe mais.

90% do tempo passou a ser voltado para exercícios, pesquisa, trabalhos em grupo, debates. A sala de aula é uma sala de atividades, o que faz aumentar o vínculo entre alunos e professores e o engajamento dos estudantes com as disciplinas.

“Não existe mais aquele aluno que fica no fundo da sala sem prestar atenção em nada e depois copia tudo do caderno do colega estudioso. Os tempos mudaram,” completa Wilson.

Passo a passo para utilizar a metodologia da Sala de Aula Invertida:

  1. Pense em uma atividade que ajude a despertar o interesse dos alunos pelo tema a ser estudado.
  2. Envie materiais de referência para que eles possam estudar em casa, como textos, vídeos, áudios e jogos.
  3. Proponha um espaço para que os alunos troquem informações online sobre o que estão estudando, tipo um fórum de discussão.
  4. Discuta o assunto com os alunos em sala de aula, para ampliar seus conhecimentos.
  5. Ensine-os a aplicar o conhecimento no dia a dia. Isso ajuda a consolidar o aprendizado.
  6. Sistematize o que foi aprendido para ficar guardado na memória e no material didático.
  7. Avalie o que foi ensinado, como os estudantes aprenderam, se o exercício deu certo, quais foram os pontos altos e baixos…

Conheça 4 benefícios da sala de aula invertida para o professor

– O educador tem a possibilidade de conhecer melhor os alunos, o que facilita para identificar as potencialidades e dificuldades de cada um;

– O aprendizado torna-se muito mais dinâmico, já que o docente pode usar diversas ferramentas pedagógicas em sala de aula;

– O professor sai do centro das atenções e assume o papel de mentor, auxiliando crianças e adolescentes no processo de ensino e aprendizagem;

– Especialistas afirmam que os alunos conseguem manter o foco por mais tempo, aumentando a produtividade dos educadores.

4 vantagens da Aprendizagem Invertida para os alunos 

– Com a sala de aula invertida, o estudante realmente pode se tornar um protagonista do aprendizado;

– O aluno também ganha mais autonomia, com a possibilidade de administrar os horários de estudo conforme sua própria rotina;

– O trabalho em equipe é incentivado, favorecendo a relação entre os pares e desenvolvendo habilidades importantes para a socialização;

– Quando o estudante sente dificuldade em um determinado conteúdo, o professor tem mais tempo para acompanhá-lo, o que contribui com sua autoestima.

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Como inserir os diferentes tipos de educação na sala de aula?