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Ao longo de 23 anos atuando como fundadora, gestora e diretora pedagógica da Kinder Kampus School, Fernanda Nyari lembra que foi vítima de machismo três vezes, dentro do próprio local de trabalho. O caso recente foi no primeiro dia de aula deste ano.

“Eu estava na minha sala, que é um canto mais isolado, estava sozinha e sem máscara porque estava participando de uma videoconferência. Minha porta estava entreaberta. Um pai passou e tirou uma foto. Então, ele já chegou todo impositivo, me ameaçando, dizendo que processaria a escola, que eu não sabia ser diretora de escola, que estava agindo que nem uma criança. Mandou várias mensagens, disse que iria armar um barraco na porta da escola, que iria comunicar à imprensa”, lembra.

Nas outras ocasiões, também foram pais de alunos que trataram Fernanda de maneira desrespeitosa. “Quando aciono o advogado, eles baixam a guardar. Não só advogado. Eu tenho um coordenador e uma pessoa do relacionamento que são homens. Quando coloco eles para falar com esses pais, eles mudam a forma como conduzem a conversa. Eles só me trataram dessa forma por eu ser mulher. Não importa que eu sou a diretora, mantenedora, eles me tratam dessa forma por eu ser mulher. Infelizmente, isso ainda acontece”, lamenta.

 Preconceito

“Enquanto mulher, enquanto educadora e, principalmente, enquanto profissional que trabalha com tecnologia, eu vivenciei diversos desconfortos e também sofri muito machismo, por ser mulher e trabalhar com tecnologia”, afirma Débora Garofalo, que é a primeira mulher brasileira e primeira sul-americana a ser finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da educação, e uma das dez melhores professoras do mundo.

“Lembro que quando comecei a idealizar o trabalho de robótica com sucata, por exemplo, ouvia dos meus colegas, principalmente homens, que eu estava fazendo artesanato, que eu não estava fazendo robótica com os estudantes. Parecia que a todo momento eu precisava provar”, conta.

Para a educadora, o Dia Internacional da Mulher é um dia de luta e reflexão. “A educação é a base da sociedade, que vai permear as outras construções. Sem dúvida nenhuma, esse cenário está sendo composto por mulheres, que estão em liderança e exercendo esse desafio. Enquanto educadora, nós somos lideranças. Precisamos compreender cada vez mais que a mulher tem esse espaço importante, de luta, e que tem muito que avançar, principalmente no nosso país”, pontua.

Reflexão

Mantenedora do Colégio da Villa e da Villa Bambini, escolas localizadas em Jaguariúna (SP), Lou Cocozza conta que cresceu e viveu rodeada por mulheres que se sentem orgulhosas por serem exatamente como e quem são. “São mulheres que não querem ser homens ou ser como os homens. Querem ser mulheres e respeitadas por serem mulheres. Não desejam ser guerreiras e lutar, pois não são da guerra”, afirma.

Lou conta que aprendeu com essa vivência que deveria estudar muito. “A mente aberta, o raciocínio rápido, o conhecimento sólido e a clareza de tudo o que você pode fazer, poderia levar você a reunir pessoas em prol de um propósito incrível como o nosso: participar com excelência e gentileza no desenvolvimento de seres humanos”, ressalta.

Na data em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, Lou deixa uma reflexão para todas as gestoras de escolas. “Saiba proteger esta feminilidade. Nela está sua força e sua energia. É nela que reside a paciência, a tolerância, o colo que tantos precisam e merecem. Vou contar uma coisa para vocês. Decidi que a maneira com a qual daria uma ‘bronca’ nos alunos e alunas seria dizer que ele ou ela que ‘não estava sendo elegante’. Impressionante o que isto fere. Todos (as) querem ser elegantes. Com as gentilezas e delicadezas que fazem o coração derreter e a mente se abrir, pois você tratou de forma a quebrar a dureza, a rispidez e suas ‘armas’ foram atitudes inerentes ao universo feminino”, finaliza.