Em 2023, a lei que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Indígena nas escolas brasileiras completou 15 anos. O objetivo da obrigatoriedade é oferecer aos estudantes uma visão mais ampla da história do Brasil e, dessa forma, valorizar e promover a diversidade cultural no país. Entretanto, ao longo deste período a legislação enfrenta desafios para ser totalmente implementada nas salas de aula. E, para alguns especialistas, este cenário é resultado da resistência e preconceito que parte da sociedade ainda possui em relação à cultura indígena.
De acordo com o assessor da Área de Ciências Humanas, História e Ensino Religioso do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Altemir Schwarz, as datas comemorativas exercem um papel central na organização e produção de memórias na sociedade e são marcos importantes para lembrar que determinada temática ou pauta é relevante.
Porém, o educador alerta que abordar o ensino da cultura indígena somente próximo a essas datas pode não gerar a mudança sociocultural desejada.
Qual a importância de valorizar o ensino da cultura indígena?
“É preciso educar o olhar para a sensibilidade diante desses temas e as pautas históricas que os compõem. Por exemplo, ao considerar importantes a valorização e o respeito aos povos originários, o professor deve fazer escolhas de práticas pedagógicas e materiais que abordem essa temática durante todo o ano letivo, fazendo os alunos refletirem constantemente sobre essa pauta”, explica Schwarz.
Para Schwarz, valorizar o ensino dos saberes indígenas é uma forma de respeitar a própria brasilidade, uma vez que a cultura brasileira está amplamente marcada com elementos originários da cultura indígena.
“Os elementos centrais que nos constituem são provenientes desses povos. Desde termos e nomes que compõem e influenciam a língua portuguesa até os hábitos de higiene e alimentação são heranças dos saberes indígenas. É com os povos originários que os invasores e, posteriormente, os colonos aprenderam a cultivar a terra, a conhecer o território, remédios e cultivares essenciais para o desenvolvimento da subsistência no novo espaço”, afirma.
Quando se trata de como o ensino da cultura indígena deve ser tratado em sala de aula, o profissional explica que a temática não deve ficar restrita apenas aos componentes de História, já que todos os componentes curriculares podem e devem abordar a temática.
“Em Ciências, por exemplo, quando se estuda o ambiente em que vivemos, pode-se abordar os conhecimentos dos povos originários, como o uso das plantas como fármacos pelos Pajés e como esses saberes subsidiaram a indústria farmacêutica no desenvolvimento de remédios usados no cotidiano. O professor de língua portuguesa pode destacar como a nossa língua absorve termos, nomes, conceitos e sentidos da cultura indígena”, pontua.
Segundo a professora do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná e pesquisadora do CNPq, Fernanda Felix, o Brasil possui mais de 300 povos indígenas com mais de 200 línguas diferentes. “São experiências e visões de mundo muito plurais e muito complexas e, com a obrigatoriedade do ensino da cultura indígena nas escolas, esperamos incluir isso no rol de saberes disponíveis para a população. Precisamos ampliar o repertório de todos, valorizar, reconhecer, e enxergar uma luta que é de todos nós. Somente dessa forma formaremos alunos cidadãos capazes de atuar no mundo de forma consciente, solidária e cheia de potência”, reforça Fernanda.
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