Escola e família precisam falar a mesma língua na primeira infância
Na hora de escolher a primeira escola das crianças, há muitos detalhes que as famílias precisam considerar. Porém, de acordo com os especialistas, a atenção a aspectos relevantes, como infraestrutura, rotina de cuidados e localização, por exemplo, não deve fazer com que se deixe de lado o mais importante: a proposta de trabalho pedagógico, a sintonia de valores e a disposição para trabalhar em parceria.
A pedagoga e mestre em psicologia Cláudia Tricate, diretora do Colégio Magno/Mágico de Oz, em São Paulo, diz que a forma como o colégio entende e aborda o período da infância que vai até os seis anos deve estar alinhado com o pensamento, os objetivos e os valores da família. “É fundamental que falem a mesma língua no que diz respeito à educação, ainda mais nesta fase tão decisiva para o desenvolvimento das crianças”, acrescenta.
A especialista destaca ainda que, para essa sintonia se estabelecer, é ideal que os educadores sejam capazes de traduzir seu projeto pedagógico de um jeito compreensível e palpável, que vá além teoria. Um aspecto que merece atenção é a relação entre cuidado e autonomia.
“A escola precisa deixar que a criança faça muitas coisas sozinha, e isso não significa falta de cuidado”, explica Cláudia. “Os pais talvez prefiram que se dê comida à criança, em vez de deixar que ela coma sozinha, para garantir que se alimente bem. Mas é possível se antecipar e mostrar a importância da autonomia para a boa alimentação.”
Segundo Claudia, o Colégio Magno/Mágico de Oz põe em prática esses conceitos no relacionamento as famílias. “Estabelecemos um diálogo transparente e um trabalho de parceria, no ensinar e no educar”, afirma.
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, que aconselha famílias e é cofundador da Universidade de Pais, instituição especializada em educação parental, as expectativas da família sobre a escola, assim como as expectativas da escola sobre a família, devem ser esclarecidas para que não pairem pontos obscuros. “Trata-se de uma extensão da família para fazer o que ela não pode fazer sozinha”, afirma.
Para ele, família e escola não são rivais, são parte do mesmo todo, cada lado com seus papéis específicos, mas que se complementam. Conversas prévias sobre aspectos considerados essenciais, conhecimento mútuo e espírito de parceria contribuem para evitar conflitos futuros.
O que o MEC recomenda checar na escola
- As salas de atividades e demais ambientes internos e externos são agradáveis, limpos, ventilados e tranquilos, com acústica que permite uma boa comunicação?
- Há reuniões com familiares pelo menos três vezes por ano?
- Os familiares recebem relatórios sobre as vivências, produções e aprendizagens pelo menos duas vezes ao ano?
- A instituição tem proposta pedagógica em forma de documento?
- A instituição permite a entrada dos familiares em qualquer horário?
- Existe local adequado para receber os pais ou familiares?
- Há local adequado para aleitamento materno?
- As professoras têm, no mínimo, a formação em nível médio ou magistério?
- Todos os pontos potencialmente perigosos do prédio são protegidos para garantir a circulação segura das crianças e evitar acidentes?
- A instituição tem procedimentos preestabelecidos que devem ser tomados em caso de acidentes?
- Há no mínimo uma professora para cada grupo de 6 a 8 crianças de 0 a 2 anos?
- Uma para 15 crianças de 3 anos?
- Uma para cada grupo de 20 crianças de 4 a 6 anos?
Equilíbrio entre educação e cuidados
Vai nessa linha a proposta de trabalho da Escola Lourenço Castanho, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, buscando o equilíbrio.
“A escola não é a casa da avó ou da tia, nem o clube, nem um hotel. Deve ficar claro para os pais quais são os compromissos com o desenvolvimento e o aprendizado das crianças. Além de serem informados sobre a rotina de cuidados tomados, os pais precisam saber dos conhecimentos construídos por meio das brincadeiras e jogos de faz de conta, por exemplo”, destaca a diretora geral Cristina Tempesta.
Por isso mesmo, quando o assunto é a infraestrutura da primeira escola, não podem faltar os chamados “espaços educadores”. O espaço deve conter mobiliário e materiais adequados para que as crianças possam aprender brincando, explorar e fazer descobertas e ter contato com a natureza.
“O ambiente escolar é constituído pelo espaço e pelas formas de ocupá-lo, propiciando às crianças experiências nas diversas linguagens e materiais, por exemplo, além da possibilidade de se expressarem e aprenderem”, diz Débora Vaz, diretora pedagógica do Colégio Santa Cruz.
Os especialistas também ressaltam que todos os colaboradores contribuem em alguma medida para os processos educativos nas etapas iniciais da infância. Isso porque cuidados e estímulos andam sempre lado a lado. “Enxergamos o educar e o cuidar de forma integrada, uma atividade a ser desempenhada por professores e educadores com formação apropriada para isso”, afirma Débora Vaz, do Santa Cruz. “Os profissionais da escola têm de estar preparados para identificar sinais indicativos de bem-estar e lidar com situações delicadas”, lembra Cristina Tempesta, da Lourenço Castanho.
Em relação ao número ideal de crianças por sala na primeira infância, Cristina explica que varia de acordo com o espaço físico e a formação dos profissionais. Em geral, crianças de um ano e meio convivem bem com até 12 alunos por turma, com dois professores ao lado delas e ambientes de boa qualidade. A cada ano é viável somar mais quatro crianças, chegando ao final da educação infantil com até 24 alunos por sala.
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