Depois de dois anos com aulas online, alunos do ensino superior protestam contra instituições que adiaram mais uma vez a volta presencial este mês. Na segunda-feira (07), estudantes da Fundação Getulio Vargas (FGV) fizeram uma manifestação na frente do prédio, na Bela Vista, na região central da cidade, pedindo o retorno ao câmpus. Estudantes também reclamam do ensino remoto no Mackenzie, na Cásper Líbero e em universidades federais.
Neste momento, não há nenhum impedimento na capital ou no Estado para o funcionamento do ensino superior presencial. As escolas públicas e particulares de ensino básico já retornaram este mês. Em 27 de janeiro, o Conselho Nacional de Educação (CNE) divulgou nota sobre o ano letivo de 2022 no básico e superior, dizendo que o retorno presencial às aulas “deve ser a prioridade do País (…) considerando os déficits de aprendizado constatados desde o ano de 2020”. Diz ainda que, onde “a intensidade do contágio da covid-19 for classificada em nível elevado pelas autoridades sanitárias competentes”, a volta pode ser adiada.
“Está tudo funcionando, mas as nossas aulas não podem?”, indaga Anna Helena Antoniolli Martins, de 19 anos, aluna de Administração de Empresas da FGV. Os mais afetados são os que ingressaram na faculdade no meio da pandemia e não conseguiram ainda participar do ambiente universitário. “Meu pai tinha dito que seria a melhor época da minha vida e só fui duas semanas para a FGV. Muito triste ver que já perdi metade da minha faculdade”, diz ela, que foi aprovada no começo de 2020 e estava no protesto nesta segunda-feira.
Os estudantes seguravam cartazes que questionavam a alta mensalidade da instituição – cerca de R$ 6 mil – e a não possibilidade sequer de ensino híbrido. “EAD (ensino a distância) mais caro do Brasil”, dizia um deles. Para Anna, o ensino online não tem a qualidade do que receberia no presencial.
ALUGUEL
O carioca Pedro Rufino, de 20 anos, também aluno da FGV, chegou a alugar um apartamento na cidade no começo do ano porque a instituição havia anunciado aulas presenciais em fevereiro. Desde que ingressou na faculdade, há um ano e meio, não tinha vindo morar em São Paulo porque só teve aulas remotas. “Estava animado, mas um dia antes de eu chegar mudou tudo de novo. É muita frustração, que gera ansiedade.” Depois do protesto, ele foi um dos estudantes recebidos por um representante da FGV, mas disse que não viu “flexibilidade” na conversa e sente “que os estudantes não são ouvidos”.
Procurada, a FGV informou que as aulas presenciais voltam em 14 de março e a medida “visa a garantir a segurança de seus estudantes, professores, colaboradores e de seus familiares, bem como da sociedade como um todo”. E que as medidas foram tomadas seguindo o “comitê científico” contratado pela instituição.
O Mackenzie também adiou a volta para 12 de março e começou as aulas da graduação de forma online novamente. “O grande medo é que depois do carnaval podem adiar novamente e deixar o semestre todo online”, diz Victor Duarte, de 20 anos, que cursa Direito desde 2021 na instituição. Ele também havia alugado apartamento na cidade após o anúncio em dezembro da volta presencial, mas o local agora está vazio. Victor voltou para a casa dos pais, em Santos.
“Está todo mundo desanimado com o curso porque tudo é pela internet, não convivemos com o professor, com o câmpus”, diz ele, que organizou também um pequeno protesto na porta da universidade. Há ainda outro grupo de alunos que reivindica a volta com ensino híbrido, mas ambos dizem não ter resposta do Mackenzie. Victor conta que, por outro lado, as festas da faculdade já estão acontecendo e reúnem milhares de estudantes. Não há nenhuma restrição a eventos no Estado atualmente. Procurado, o Mackenzie não se pronunciou.
PROTOCOLO
No fim de dezembro do ano passado, a Fundação Cásper Líbero planejava a retomada das aulas presenciais em 7 de fevereiro. Mas em 31 de janeiro anunciou que, este mês, ocorreriam apenas semanas de integração presenciais. As atividades regulares ficaram para 7 de março.
O presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Cásper, Thiago Hideki Baba, de 20 anos, que estuda Jornalismo, conta que a maior parte dos estudantes espera ansiosamente pelo retorno presencial. “Por causa das aulas práticas e do próprio convívio”, explica. Baba diz que os alunos não foram consultados sobre o adiamento e o aviso sobre a mudança de planos ocorreu de forma repentina, sete dias antes do retorno previsto.
Baba diz que ainda não foi divulgado protocolo sanitário para o retorno integralmente presencial. “Só sabemos do básico, que é o uso de máscara e o distanciamento.” A Cásper funciona em um prédio da Avenida Paulista. O estudante começou seu curso em 2020 e acredita que perdeu o que deveria aprender. “A gente não pegou em nenhuma câmera. Quando a gente conversa com a diretoria, eles consideram essas aulas como dadas, não podemos pedir reposição.”
O Centro Universitário FMU informou que também vai retornar em formato híbrido, só com as atividades práticas presenciais. Isso “levando em conta as condições sanitárias locais atuais que possam trazer risco à saúde da comunidade acadêmica”.
SAIBA MAIS
A Universidade de São Paulo (USP) anunciou o início das aulas em 14 de março, de forma presencial e com obrigatoriedade da vacina contra a covid. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp) será em 7 de março, também presencial, mesmo dia e forma da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre as 69 universidades federais, nenhuma está funcionando plenamente presencial. “É o momento de as universidades olharem para esse grupo dos alunos que entrou durante a pandemia, que não conhece o ambiente acadêmico. O mais importante é voltar para o presencial”, diz a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho. “Esse rito de passagem é importante, os alunos vão para um ambiente novo, com pessoas de diferentes lugares do País, com liberdade acadêmica, procura por conhecimento e discussão. Esses meninos e meninas não puderam experimentar”, completa.
Ela coordena um relatório da Andifes, associação dos reitores das federais, sobre ações das universidades na pandemia. Segundo ela, no fim do ano passado 47 das 53 instituições que responderam ao questionário tinham atividades práticas funcionando presencialmente. Na UFRJ, 52% das disciplinas funcionam presenciais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Renata Cafardo e Leon Ferrari