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A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançou a iniciativa “Pesquisadores em Risco” para viabilizar a participação de refugiados em instituições de pesquisa no Estado. A oferta de bolsa vale para duas modalidades: Auxílio Pesquisador Visitante e uma Bolsa de pós-doutorado. O valor total oferecido para o financiamento é de R$ 20 milhões.

Para pesquisadores visitantes, a ajuda será concedida por até 12 meses, podendo ser prorrogada, em caráter excepcional. Enquanto no Pós-Doutorado a duração é de 24 meses, também prorrogáveis. O edital de suplementação rápida tem como público-alvo pesquisadores de países envolvidos em situações de conflitos, como Ucrânia, Rússia, Síria e Afeganistão. A colaboração desses participantes pode ser no desenvolvimento de projetos de pesquisa em andamento ou a ser iniciados.

A data limite para submissão das propostas é 30 de agosto de 2022. No entanto, elas serão analisadas à medida que forem recebidas. Por isso, o edital ficará aberto até que se esgotem os recursos oferecidos ou até a data limite anunciada. A chamada está prevista para outubro.

Conforme o diretor científico da Fapesp, professor Luiz Eugênio Mello, dez currículos já chegaram para análise na modalidade de pesquisador visitante. Outro candidato tenta o financiamento no pós-doc. O edital foi aberto nesta segunda-feira,28. A iniciativa da Fapesp considera qualquer linha de pesquisa como viável, desde que o pesquisador seja qualificado, bem como o grupo que vai recebê-lo, como pontua Mello. “A atividade científica tem vários aspectos que a diferenciam das outras atividades humanas. Uma delas é que a ciência é, por definição, sem fronteiras.”

Esta é a primeira vez que a instituição lança edital voltado exclusivamente para pesquisadores afetados por conflagrações. Em 1992, lembra Mello, a Fapesp lançou iniciativa similar, logo após a queda do muro de Berlim. A instituição cedeu auxílio para 42 pesquisadores estrangeiros, sobretudo do Leste Europeu. “A diferença é que ali você tinha o movimento da queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética. Não se tratava de uma situação de guerra. Afinal, você teve redução do confronto, porém que gerou crise econômica e abriu espaços para executar a iniciativa.”

Mello, apesar do contexto histórico, diz que a Fapesp segue os passos da comunidade científica internacional no que diz respeito aos valores e ao público-alvo. Isso porque há projetos semelhantes em Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra.

Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Edgar Dutra Zanotto trabalha há mais de 40 anos com o intercâmbio de professores estrangeiros, inclusive daqueles que vivem em locais em conflitos. Zanotto foi responsável por trazer ao Brasil os primeiros pesquisadores da antiga Alemanha Oriental e da Rússia, por exemplo. “Esses colaboradores de outros países têm alto nível. O meu testemunho, interagindo com eles há mais de 40 anos, é de que eles vêm para contribuir para ciência, tecnologia e educação no Brasil”, reflete.

O orçamento das propostas pode incluir duas modalidades: Auxílio Pesquisador Visitante (PV) e Bolsa de pós-doutorado: o Auxílio Pesquisador Visitante é concedido inicialmente por até 12 meses, podendo ser prorrogado, em caráter excepcional, a critério da Fapesp. Já a bolsa de pós-doutorado tem duração de até 24 meses, podendo ser prorrogada.

As propostas devem ser submetidas exclusivamente por intermédio do Sistema Sage. Deve ser anexada a documentação indicada nas normas de cada modalidade de apoio. Durante a vigência do Auxílio Pesquisador Visitante e/ou da Bolsa de Pós-Doutorado, a instituição sede deverá garantir ao pesquisador todo o apoio institucional necessário para a realização, bem como para início das atividades. Deverá ainda apoiar o participante nas tratativas para sua instalação na cidade onde será desenvolvido o projeto.

Renata Okumura e Ítalo Cosme, especial para o Estadão