3 min de leitura

É indiscutível a importância da merenda escolar como política pública, mas o horário de fornecimento das refeições nem sempre é adequado. A análise é do nutricionista e professor Fabio da Veiga Ued, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).

Em muitas escolas da rede pública, o almoço é oferecido pela manhã, entre 9h e 9h30, conciliando com o intervalo das aulas. Esse cenário, segundo o professor, acaba contribuindo para problemas como a “obesidade e a criação de hábitos alimentares prejudiciais”, visto que o almoço “é uma refeição de maior densidade energética e, quando realizado duas vezes no mesmo dia, pode contribuir para o ganho de peso”.

Merenda exerce papel fundamental como política pública

Mesmo com a crítica ao ajuste no horário das refeições, Ued ressalta que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) “é uma excelente política pública promotora de saúde no ambiente escolar no Brasil”. Sendo o segundo maior programa de alimentação escolar do mundo, o PNAE “contribui de forma exemplar para minimizar a evasão escolar, melhorar o rendimento dos alunos em sala de aula e garantir a segurança alimentar”, enfatiza.

Criada em 1955, através do Decreto nº 37.106, a merenda escolar ocupa um espaço essencial na alimentação diária dos estudantes brasileiros e chega a cerca de 47 milhões de crianças e adolescentes que se alimentam nas escolas públicas todos os anos no Brasil, segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Horário de almoço escolar é sugestão 

Em nota encaminhada ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirma que o horário da merenda escolar na rede é sugerido, visando a conciliar com a grade horária escolar. No período matutino, por exemplo, esse horário é das 9h30 às 10h30. Além disso, a Secretaria também reforça que “a elaboração do cardápio é pautada na Resolução nº 6/2020, que  dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do PNAE, bem como notas técnicas e atualizações divulgadas pelo FNDE”. 

Crítico do esquema alimentar oferecido aos estudantes, o professor Ued adianta que a recomendação não segue o guia alimentar para a população brasileira, que sugere a realização de pequenas refeições entre o café da manhã e o almoço, especialmente para crianças e adolescentes. 

O ideal, segundo Ued, seria um cronograma em que a criança matriculada no período da manhã “recebesse o café da manhã por volta de 7h, o lanche da manhã por volta de 9h30 e o almoço a partir das 11h30”. Mas muitas escolas alegam repasse insuficiente de verbas do governo federal para o fornecimento de três refeições.

Cardápio deve respeitar cultura alimentar e recomendações nutricionais

Para seguir de forma adequada as recomendações nutricionais, o cardápio escolar precisa ainda “ter como base a utilização de alimentos in natura, ou seja, que não passaram por nenhum grau de processamento”. Ued explica também que a cultura alimentar deve ser pautada na “sustentabilidade, na sazonalidade e na diversificação agrícola da região”. Essas orientações, lembra o professor, são seguidas pelo PNAE, que proporciona cardápios “nutricionalmente balanceados e elaborados exclusivamente por nutricionistas”.

 

Por Vinicius Botelho / Jornal da USP