Identificar e acompanhar crianças superdotadas são fundamentais para formação
Há poucos dias, Miro Latansio Tsai, um garoto brasileiro de apenas 5 anos, foi reconhecido como o mais jovem do mundo a descobrir asteroides. O antigo recorde era de outra brasileira, Nicole Oliveira, de oito anos. Além desses casos, ocasionalmente nos deparamos com crianças que conseguem realizar feitos incríveis, nos mais variados âmbitos, como no esporte, na ciência ou na arte.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição, a professora Helena Rinaldi Rosa, especialista em avaliação psicológica, do Instituto de Psicologia da USP, analisa as crianças-prodígio e as diferenças e particularidades ao longo de suas formações.
Identificar uma criança superdotada não é tão simples quanto parece. Procurar um profissional especializado e acompanhamento é o caminho mais comum, o reconhecimento começa quando “a criança faz alguma coisa muito extraordinária, muito acima do que a gente espera da média das crianças, esse é o jeito que as pessoas acabam fazendo. Mas existem instrumentos de psicologia, por exemplo, testes”, afirma a professora.
Segundo Helena, “existem testes de qualquer coisa hoje, muitas habilidades são testadas. No teste, por exemplo, se a criança está acima de 90% da população da idade dela, ainda assim não é exatamente uma criança superdotada, ela teria que estar acima dos 97, 98%. É um número bem alto e traz um problema também nessa identificação de como discriminar se a criança é muito inteligente ou superdotada.”
A probabilidade de uma criança ser superdotada é pequena. Assim como na curva de Gauss, a maior parcela de casos de ocorrência se concentra no padrão, na média. As crianças-prodígio são desvios do padrão e, portanto, exceções. Ainda assim, é complicado traçar um perfil com precisão.
“É uma curva, não tem um ponto de corte, é uma gradação, por isso que faz o que a gente chama de avaliação psicológica, que não é só aplicar um teste de inteligência, inclui, mas observa também, por exemplo, aspectos emocionais, aspectos motores da criança. Então, às vezes, a criança pode ter um desempenho ou se comportar como uma criança superdotada para compensar alguma dificuldade que ela possa ter em outra área, por exemplo, emocional”, diz a professora.
Educação e acompanhamento
A educação e o acompanhamento das crianças são fundamentais. Por isso, Helena Rinaldi entende que é preciso “ficar mais atento com essas crianças enquanto pais, quer dizer, acompanhar mais de perto, não que as outras não precisem, as outras crianças, vamos chamar de normais ou típicas, como a gente chama hoje na psicologia, elas também precisam de um acompanhamento o tempo todo. Mas a criança superdotada, talvez por isso mesmo, tenha alguma dificuldade social, por exemplo, de relacionamento, de ir numa escola que na verdade não é para ela.”
Uma das questões que geram discussão é o impacto que essas habilidades podem ter no desenvolvimento das crianças. Para a professora, é importante que elas sejam incentivadas, mas em equilíbrio com outras atividades da vida infantil: “Eu acho que a criança deve ser sempre estimulada. Por mais superdotada que ela seja, acho que ela tem, mais ainda, por ser superdotada, uma contribuição a dar socialmente e ao mundo. O que não pode é deixar que isso gere mais problemas para a criança, ao invés de uma boa adaptação no mundo. Eu acho que sempre a criança deve ser estimulada, mas também ser estimulada a brincar, estimulada a curtir a sua infância, enfim, no seu desenvolvimento.”
A implementação de mais políticas públicas pode ser um caminho interessante para o desenvolvimento de crianças superdotadas.“Talvez a gente pudesse pensar que seria importante, assim como já existem algumas linhas de políticas de inclusão, principalmente das crianças mais deficientes, seja físico seja mental, talvez pensar que também as superdotadas precisam de políticas públicas para serem inseridas nesse mundo de gente média, vamos dizer”, comenta a professora, que completa ao indicar um perigo na atitude dos pais: “Acho que precisamos de políticas que possam ajudar a criança e também dessa mudança de comportamento dos pais, que, às vezes, acham que criança fez alguma coisa, ‘aí ela é um gênio’, e querem que ela seja um gênio sem deixar que ela seja criança.”
Por João Dallara / Jornal da USP