Mulheres representam apenas 35% dos estudantes matriculados em STEM
Aos 13 anos, Rayssa Leal tornou-se a brasileira mais jovem a receber uma medalha olímpica. Na última segunda-feira (26), a adolescente conquistou a medalha de prata na categoria street dos Jogos Olímpicos. A jovem atleta fez história e mostrou a importância de ampliar a discussão sobre o papel da feminino na sociedade. Assim como as mulheres podem e devem ocupar todos os esportes, na educação também não é diferente.
Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas, apenas 35% dos estudantes matriculados em carreiras de ciências, tecnologia, engenharias e matemática (STEM, na sigla em inglês) são mulheres. Quando se foca nas engenharias (produção, civil e industrial) e na tecnologia, o cenário é ainda pior: elas não chegam a 28% do volume total de estudantes.
Isso se reflete também no universo corporativo. Apenas 13% das empresas têm CEOs mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa divulgada pela consultoria Talenses e pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) em 2019.
A gerente de produto do Sistema de Ensino Aprende Brasil, que atende a mais de 200 municípios brasileiros, Damila Bonato, ressalta que os materiais didáticos e atividades propostas desde a Educação Infantil são fundamentais para estimular o interesse das meninas em áreas que, historicamente, foram vetadas a elas.
“Os instrumentos didáticos e pedagógicos usados durante a infância precisam ser desenvolvidos para despertar a curiosidade por questões ligadas à tecnologia e à ciência. Atualmente, há muitos recursos tecnológicos que podem ser aplicados desde cedo e que, combinados com uma equipe pedagógica preparada, permitem que as meninas se sintam encorajadas a se aprofundar nesses assuntos”, avalia.
Meninas precisam ser apresentadas às ciências na educação básica
Sônia Elisa Marchi Gonzatti é professora de física e coordenadora do projeto Meninas na Ciência, na Univates (Universidade do Vale do Taquari), no Rio Grande do Sul, além de integrar o grupo de pesquisa “Ciências Exatas, da Escola Básica ao Ensino Superior”.
Para ela, o que falta no Brasil é apresentar as meninas às muitas possibilidades das ciências desde a Educação Básica. “Precisamos trazer mais atividades experimentais para a escola básica, desde os anos iniciais. O Brasil não tem tradição em ensino experimental e investigativo, o que é importante para meninas e meninos”, destaca.
No entanto, como as meninas já são minoria em cursos de graduação em STEM, elas precisam de uma atenção pedagógica ainda mais cuidadosa. “Elas precisam se sentir incluídas nessas atividades. É normal que os meninos tomem a frente porque recebem mais brinquedos voltados à lógica, então é papel dos professores permitir que as meninas coloquem a mão na massa, treinem suas habilidades, mexam nos experimentos”, pontua.
Colocá-las em uma posição de protagonismo e liderança em projetos científicos e de experimentação é fundamental. Outra maneira de permitir que elas sonhem com carreiras em STEM é levar para encontros e palestras de mulheres cientistas que já se destacam em suas áreas de estudo e atuação.
Para a oficial de Programas de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Mariana Braga, é preciso parar de reforçar os estereótipos de gênero que pregam que o homem e a mulher têm papéis distintos a cumprir.
“É como se houvesse padrões de carreira para meninas e outros para meninos. Mudar isso também cabe às escolas, elas têm a missão fundamental de trabalhar pela equidade de gênero. É na escola que se começa a garantir o acesso das meninas a melhores condições no mercado de trabalho”, explica.
De acordo com a especialista, isso pode ser modificado por meio da desconstrução dos papéis designados às meninas, com atividades simples que mostram a importância da participação de todos – meninos e meninas – nos trabalhos domésticos, por exemplo.
“Confio muito na criatividade dos professores brasileiros para chamar os estudantes a uma reflexão profunda. Assim, eles poderão entender que as meninas são capazes de entrar nas carreiras científicas, da mesma forma que os meninos podem encarar outras carreiras historicamente vistas como femininas”, afirma.