Museu do Ipiranga: materiais educativos ajudam planejar visitas escolares
Desde que foi aberto, no século 19, o Museu do Ipiranga estabeleceu uma relação muito próxima com a educação formal, mantendo uma grande proximidade com o público escolar, professores e estudantes, para cumprir sua função de divulgar o conhecimento histórico produzido em várias das pesquisas desenvolvidas com o seu acervo. Não por acaso, muitas pessoas possuem lembranças de excursões escolares ao edifício-monumento.
Com a reinauguração do museu em setembro, após as obras de restauro e ampliação, o museu pretende continuar este processo e tem previsto para o início de 2023 o retorno das visitas educativas. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento de diferentes projetos pedagógicos e fomentar a apropriação das discussões propostas pela instituição a partir de obras do acervo.
Um material educativo já está disponível para servir de apoio aos professores da rede de ensino básico (fundamental e médio) para entender sobre os assuntos tratados nas exposições. São oito livretos, além de um guia chamado Por onde começar, que explica como planejar a visita e usar os materiais didáticos. Todos estão disponíveis gratuitamente em versão digital no site do museu neste link.
Todos os livretos se iniciam com um mapa da localização de sua exposição no edifício. Há também uma introdução, que apresenta o tema da exposição e os caminhos escolhidos para mobilizá-la no material. Os textos foram desenvolvidos a partir de perguntas e convites à observação de objetos e imagens que compõem as exposições e por meio de consultas às pesquisas realizadas pelas equipes curatoriais. O objetivo é provocar professor e alunos a refletirem sobre os temas levantados pelo museu.
Os conteúdos de cada livreto não estão organizados na mesma ordem em que as salas expositivas foram montadas. Isso significa que o professor irá encontrar propostas de reflexão sobre objetos que podem estar expostos em salas diferentes. Esse formato deve-se à opção de trabalhar os conceitos fundamentais de cada exposição articulados a partir de um olhar educativo.
Na seção “Bora Refletir?”, por exemplo, são propostas aproximações entre os temas das exposições e aspectos diversos do cotidiano e da atualidade, como futebol, histórias em quadrinhos etc. Há também a seção “Profissões no Museu”, em que são apontados os diferentes profissionais que trabalham no museu e suas contribuições para os processos curatoriais. São apresentados os trabalhos do historiador, engenheiro, arqueóloga, fotógrafo, entre outros.
Para Entender o Museu do Ipiranga
O livreto apresenta a exposição que está localizada no Piso Térreo do Museu do Ipiranga, que pretende ser um ponto de partida para compreender como o museu foi criado e para apresentar os trabalhos de organização e estudo de coleções. Ao visitar a exposição, o visitante vai perceber que as histórias do edifício e do museu são apresentadas paralelamente pelas salas. Os aspectos relacionados ao edifício são abordados primeiro, desde sua construção até sua mais recente reforma. Em seguida, é apresentada a trajetória da instituição museológica, em especial sua forma de trabalhar atualmente.
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Uma História do Brasil
O livreto apresenta a exposição Uma História do Brasil, que integra o conjunto expositivo Para Entender a Sociedade. Para visitar a exposição é necessário percorrer o saguão, a escadaria e o salão nobre. Ela apresenta pinturas e esculturas realizadas a partir da década de 1920, e também a tela Independência ou morte!, de 1888.
As obras representam colonizadores, bandeirantes e personalidades que atuaram na Independência do Brasil. A maioria dos personagens foi escolhida para reforçar a ideia de que a formação do Brasil havia sido liderada pelos paulistas, uma forma de interpretar o passado brasileiro alinhada aos interesses das elites que governavam São Paulo naquele momento. Elas contam uma história do Brasil que foi construída a partir da visão de História predominante no início do século 20. Nos dias de hoje, grande parte dessa narrativa é considerada racista e não corresponde à interpretação da curadoria atual do museu sobre o passado.
Elas permanecem expostas na instituição porque estão integradas à decoração arquitetônica do interior do edifício-monumento e são tombadas como patrimônio cultural pelos órgãos de preservação. Por essa razão, o projeto decorativo não pode ser alterado. Ele é considerado um documento de como se narrava a história há 100 anos. Para auxiliar os visitantes a problematizar essa narrativa, a equipe curatorial inseriu recursos na exposição que abordam os processos de concepção e produção deste projeto e suas obras de arte.
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Passados Imaginados no Museu do Ipiranga
O livreto apresenta a exposição Passados Imaginados, que integra o eixo Para Entender a Sociedade, localizada no piso térreo do Museu do Ipiranga, e apresenta principalmente pinturas realizadas a partir da década de 1890.
Muitas dessas obras foram pensadas a partir dos interesses de uma elite que, naquele momento, detinha o poder de criar a narrativa sobre como o passado de São Paulo e do Brasil deveria ser visto e lembrado. As imagens representadas nas obras de arte desta exposição são apenas algumas das formas de pensar o passado dos brasileiros. Contudo, foram muito difundidas e, assim, se tornaram as principais referências para a construção de uma “visão” sobre como teria sido a história do Brasil.
A exposição recebeu o nome de Passados Imaginados porque nos convida a compreender as razões que levaram os artistas a imaginar o passado dessa forma, já que produziram suas obras em um momento muito posterior aos acontecimentos que retratam. É um convite a interrogar sobre essas imagens, a entender as escolhas que apresentam e o porquê de serem tão reconhecidas – tanto dentro quanto fora do Museu do Ipiranga.
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Territórios em Disputa
A exposição faz parte do eixo Para Entender a Sociedade, localizada no piso B, na Torre Central, e apresenta uma das coleções mais antigas do museu: objetos produzidos entre os séculos 16 e 19 feitos em pedra. Há também mapas e instrumentos de navegação, que registram a formação do território brasileiro a partir da colonização portuguesa.
A curadoria propõe a compreensão desse processo a partir das disputas entre diferentes agentes: exploradores europeus, religiosos católicos e diferentes grupos indígenas. A partir dos objetos, discute as formas de conquista, divisão e posse dos territórios que hoje chamamos de Brasil.
A exposição também conta com recursos multimídia que exploram temas como o surgimento das primeiras vilas, a invasão e colonização dos territórios indígenas e as estratégias de divisão, ocupação e registro do território por meio da cartografia. O livreto também propõe refletir sobre a atualidade das disputas em torno das demarcações de terras indígenas. Notícias de jornais das últimas décadas, por exemplo, indicam como esses conflitos põem em risco a sobrevivência desses grupos.
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Mundos do Trabalho
O livreto orienta sobre a exposição que integra o eixo expositivo Para Entender a Sociedade. Ela está localizada no piso A do Museu do Ipiranga e procura destacar os trabalhadores, as ferramentas e os produtos da ação de diferentes profissões. Possui análises de alguns dos instrumentos de trabalho e imagens presentes na exposição, buscando apresentar uma forma de investigar o tema do trabalho por meio da cultura material.
A exposição busca refletir sobre ações de trabalhadores do campo e da cidade no Brasil, nos séculos 19 e 20, e convida a pensar que todo trabalho pressupõe planejar, dominar técnicas, pôr a “mão na massa” e criar, mobilizando esforços físicos e intelectuais. A ideia é que ao observar os objetos, o visitante avalie de que materiais são feitos, reflita sobre as técnicas e o tempo empregados para sua elaboração e pense sobre seu uso para a fabricação de outros objetos, imaginando os gestos executados pelos trabalhadores, além de tomá-los como formas de representação do próprio trabalho.
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Casas e Coisas no Museu do Ipiranga
Livreto com base na exposição Casas e Coisas, que faz parte do eixo Para Entender a Sociedade, está localizada no piso A do Museu do Ipiranga e apresenta diversos objetos do ambiente doméstico usados por diferentes segmentos sociais, em especial aqueles mais abastados e medianos.
A exposição convida a refletir sobre os objetos domésticos e seus usos, ornamentos e materiais. Considera que a participação dos objetos domésticos na formação de identidades individuais é parte de um longo processo que se iniciou no século 18 nos meios aristocráticos e da alta burguesia da Europa ocidental. Esse processo se difundiu e se consolidou no século 19 entre as classes médias, tornando-se parte da cultura ocidental na virada do século 19 e ao longo do século 20.
Na exposição, esses objetos são apresentados em três eixos: objetos utilizados nas áreas sociais da casa e que podem ser relacionados ao universo feminino; objetos que pertencem ao universo masculino que marcam a conexão entre o espaço público da rua e o espaço privado da casa; e objetos utilizados na cozinha, área frequentemente associada ao trabalho feminino, de donas de casa ou empregadas domésticas.
A intenção é demonstrar que os objetos participam da construção de valores e significados que se espalham, ultrapassando fronteiras temporais e espaciais.
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A Cidade Vista de Cima
Livreto que orienta sobre a exposição A Cidade Vista de Cima, que faz parte do eixo expositivo Para Entender a Sociedade, localizada no piso C, articulando-se com a área do novo mirante do museu, no Piso Mirante. São dois novos espaços que os visitantes podem acessar após a reforma do edifício do museu.
A exposição busca promover uma conexão entre o público e a paisagem externa a partir da comparação de vistas urbanas de diferentes temporalidades, tomadas a partir do alto do prédio do museu ou feitas a partir de pequenas aeronaves e com o uso de drone.
Por meio dos registros fotográficos é possível notar as transformações pelas quais a cidade passou desde a década de 1920, data das imagens mais antigas apresentadas na mostra, até o início dos anos 2000, quando se identifica o adensamento da paisagem com a construção de prédios residenciais. Tendo as fotografias como ponto de partida, o visitante é convidado a refletir sobre as transformações vividas pela cidade em que mora.
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Ciclo Curatorial
O livreto é dedicado a quatro exposições, que apresentam as etapas do ciclo curatorial: coletar, catalogar, conservar e comunicar. Essas exposições fazem parte do eixo Para Entender o Museu. O ciclo curatorial indica um “caminho” que os objetos de museus percorrem, mostrando que o fluxo de trabalho em um museu é contínuo, ao contrário da visão de museu como um depósito de coisas velhas.
A exposição Coletar: imagens e objetos é dedicada a apresentar a atividade da coleta por meio de cartões-postais, rótulos de embalagens, retratos e esculturas decorativas; Catalogar: moedas e medalhas se debruça sobre as coleções mais antigas do museu para explicar a atividade de catalogação; Conservar: brinquedos traz objetos muito variados nas suas formas e materiais para apresentar os desafios da conservação; e Comunicar: louças exibe objetos de porcelana, faiança, vidro e plástico associados, principalmente, à alimentação para mostrar atividades desenvolvidas no processo de comunicação das coleções.
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Foto: Arte sobre foto de Cecília Bastos/USP Imagens