5 min de leitura

Ensinar química de forma prática e dinâmica tem sido um dos maiores desafios para os professores que atuam nessa área. Para superar as barreiras na aprendizagem, como teorias abstratas, pouca aplicação cotidiana e falta de estrutura, pesquisadores da USP criaram métodos para o ensino médio, trazendo a química para o dia a dia dos alunos e tornando o conhecimento mais interessante durante as aulas.

Os métodos O ensino de Química a partir de informações de produtos comerciais: desvendando o mistério dos rótulos, que apresenta estudos de química com base em rótulos de produtos consumidos no dia a dia, e Análise de objetos de conhecimento e habilidades de química em casos investigativos e construção de um ambiente virtual voltado para professores do ensino médioque desenvolveu a plataforma Quimicasos com estudo de casos para professores aplicarem durante as aulas,  atuam como facilitadores do ensino de química nas escolas. 

Ambos foram desenvolvidos no programa de pós-graduação em rede nacional (Profqui), no campus da USP em Ribeirão Preto oferecido pelo Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). O programa tem sede na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integra 22 instituições de todo o Brasil. O programa fomenta atividades e pesquisas para professores atuantes, com aprofundamento de temas da química, revisão e formação atualizada de conhecimentos pedagógicos.

 

Dificuldades do ensino de química nas escolas 

Na análise de Paulo Olivi, professor do Departamento de Química da FFCLRP, “um dos principais desafios é desmistificar a ideia de que a química e a física são matérias chatas, e aumentar o interesse dos alunos pelo conhecimento”. Para isso, “é preciso aproximar a química da realidade dos alunos, com estratégias ligadas ao cotidiano, para que o aluno possa trazer a química para a sua realidade e levar temas atuais para a sala de aula”.

Para Ellen Diniz Vilela, professora do ensino médio e mestre pelo programa Profqui da FFCLRP, a linguagem “abstrata” da química é um dos maiores problemas no ensino da matéria, já que “envolve muitos cálculos matemáticos, além da linguagem própria da química, que torna o conhecimento do componente curricular muito difícil para os alunos”. Esses fatores, segundo Ellen, desmotivam o estudante. 

Driblar essas barreiras, segundo Sandro Marcelo da Silva, também professor do ensino médio e mestre pelo PROFQUI, é “construir o  conhecimento científico dos alunos, por meio da contextualização e interdisciplinaridade dos saberes, promovendo integração dos conteúdos”. 

 

Conhecimento de química por meio de rótulos de produtos

Para compensar a falta de estrutura e conhecimentos práticos nas aulas de química, o pesquisador Sandro Marcelo da Silva decidiu adotar rótulos de produtos para ensinar os alunos do ensino médio. A ideia foi criar uma rotina de leitura dos rótulos juntamente com conhecimentos teóricos apresentados em sala de aula, para que “eles tivessem uma interação melhor e tirassem dúvidas observadas por meio das diferenças e informações contidas nos rótulos das embalagens”, explica o pesquisador.

Silva conta que conceitos como PH, que mede a acidez dos produtos, e teorias sobre concentração foram usadas na análise dos rótulos, aproximando o conhecimento com o cotidiano dos alunos. “Além dos conceitos, o aluno também aprendia a interpretar os rótulos, podendo verificar qual produto era mais saudável, por exemplo”. 

A interpretação de rótulos auxilia, inclusive, no conhecimento do produto que está sendo adquirido, muitas vezes equivocado pela falta de leitura. Silva conta um caso onde “estava no supermercado e um casal, comprando azeite, optou por uma opção mais barata que os outros produtos. Ao conferir o rótulo, percebeu que o produto tinha composição de 50% azeite e 50% óleo de soja, ou seja, um óleo misto, por isso o preço menor”. 

 

Estudos de casos em plataforma virtual

Com o objetivo de desenvolver um ambiente virtual como produto educacional para professores de química do Ensino Médio, Ellen Diniz Vilela criou o site Quimicasos, com Estudos de Casos para professores adaptarem e utilizarem em sala de aula. 

Em um dos estudos, chamado de Desinfetando falsas notícias, o garoto Fernando descobre que seu pai quer beber água sanitária como método de prevenção ao coronavírus, depois de ter recebido uma fake news pelo WhatsApp. O objetivo é que o aluno, ao ler a história, determine soluções para convencer o pai de que ingerir a substância não causa efeito nenhum contra a covid-19. A proposta aborda questões de fake news e química simultaneamente. 

Por meio dos estudos de casos investigativos disponibilizados, Ellen explica que “a proposta é baseada na participação ativa do aluno, como protagonista”. As investigações fazem com que “o aluno busque identificar o problema para determinar possíveis soluções, desenvolvendo múltiplas habilidades sem nem perceber, principalmente as habilidades específicas de química”. 

O estudo conta com investigação de 11 casos baseados em literatura e revisões bibliográficas, além de um caso criado pela pesquisadora. Todos os casos são pautados em atividades pedagógicas para despertar interesse dos alunos. O Quimicasos também recebe sugestões dos usuários para novos casos.

 

Escolas Exponenciais recomenda

Como tornar o ensino de química mais dinâmico? Projeto auxilia professores do ensino básico. Clique aqui e confira essa matéria.

 

* Por: Eduardo Nazaré e Vinícius Botelho / Jornal da USP