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Assim que as escolas fecharam as portas como medida para conter o avanço do coronavírus, em 2020, o acesso a atividades remotas se mostrou desigual: em maio de 2020, 79% dos estudantes brancos já tinham conteúdo on-line, contra 70% dos alunos negros. A proporção é ainda pior quando é considerada a classe social: 84% para estudantes brancos com renda de mais de dois salários-mínimos e apenas 68% para os negros em famílias que recebem até dois salários-mínimos.

Com o passar dos meses durante a pandemia, e com os esforços das redes de ensino, esses números foram diminuindo. Em setembro de 2021, praticamente 100% dos perfis analisados afirmavam ter acesso ao conteúdo, digital ou impresso.

Para entender as desigualdades de raça ou cor no acesso à educação durante a pandemia, Itaú Social, Fundação Lemann e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) encomendaram à Plano CDE uma análise a partir dos dados das edições da pesquisa “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada pelo Datafolha entre maio de 2020 a setembro de 2021 com pais e responsáveis por crianças e adolescentes da rede pública.

Reabertura de escolas

A reabertura das escolas também foi diferente para alunos brancos e negros. Em setembro de 2021, 74% dos estudantes brancos contavam com suas escolas abertas, contra 63% dos negros. Os números são ainda mais díspares quando consideramos a classe social: 53% para alunos negros com renda abaixo de dois salários-mínimos e 83% para os brancos com famílias recebendo mais de dois salários-mínimos.

“A reprodução de padrões de desigualdade da sociedade brasileira no processo de reabertura das escolas preocupa pelos potenciais prejuízos para o futuro desta geração. Os estudantes negros, que já sofreram com o menor acesso a conectividade enquanto estavam com aulas remotas, têm hoje menos garantia de retorno às escolas, o que pode afetar negativamente o seu aprendizado e a própria permanência na escola. Acreditamos em uma educação pública de qualidade para todas e todos e, para isso, precisamos de políticas públicas que utilizem dados e informações de forma a garantir qualidade com equidade”, afirma Daniel de Bonis, Diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann.

Medo de desistir da escola

O estudo ainda aponta que o receio dos pais com a evasão escolar cresceu em todas as dinâmicas familiares analisadas. No entanto, os estudantes negros com renda de até dois salários-mínimos seguem em desvantagem: metade (50%) deles está em risco de desistir dos estudos. Esse número é de 31% entre os brancos com renda de mais de dois salários-mínimos. Neste caso, o gênero também influencia: 47% de pais ou responsáveis por meninos negros de famílias mais pobres têm medo dessa desistência, contra 36% para as meninas brancas com renda maior.

*Com informações da Fundação Lemann e Itaú Social