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O ensino de conceitos teóricos nem sempre é tarefa simples. Diante da dificuldade de professores de química em ilustrar princípios como o da isomeria (substâncias de átomos iguais com propriedades diferentes), a química Cibele Zanatta da Silva Pereira usou realidade aumentada na criação de um aplicativo para auxiliar na hora de ensinar química orgânica.

Batizada de IsomeriAR, a novidade é fruto da pesquisa de mestrado de Cibele na área de ensino de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Além de facilitar a atividade docente, acredita a pesquisadora, o aplicativo estimula o interesse dos alunos ao relacionar a tecnologia presente no dia a dia com a ciência.

A escolha da isomeria é explicada pela pesquisadora por tratar-se de um tema que ainda deixa os alunos com muitas dúvidas. É um conceito da química referente a substâncias com mesma fórmula molecular, mas com propriedades ou estruturas diferentes (arranjos espaciais distintos), que, normalmente, é demonstrado em sala de aula através de figuras 2D.

A orientadora de Cibele, professora Márcia Andreia Mesquita Silva da Veiga, conta que com o IsomeriAR é possível “projetar com sucesso, na tela dos dispositivos móveis, imagens tridimensionais de compostos orgânicos, o que permite a interação manual do usuário com as moléculas virtuais e, o mais importante, é acessível ao estudante de escolas públicas”.

Funciona em sistema similar ao jogo Pokemon Go, lançado em 2016. O aluno só precisa escanear um QR Code – disponibilizado em cards para os professores – para ver, ampliar, diminuir ou rotacionar a molécula em realidade aumentada.

Construção do aplicativo para ensinar química

Para o desenvolvimento do IsomeriAR, Cibele contou inicialmente com dois programas, o Unity, ferramenta própria para o desenvolvimento do aplicativo, e o Vuforia, instrumento que possibilita a função da realidade aumentada.

Em um segundo momento foram utilizados outros dois aplicativos, o Jmol, que já é utilizado por químicos para a visualização de estruturas químicas em 3D, e o Blender, que permite a criação e edição de imagens animadas e vídeos.

Cibele conta que a ideia de desenvolver o sistema “pareceu uma proposta ousada e até impossível”, principalmente pela parte técnica do aplicativo, assunto que a pesquisadora confessa que não tinha muitos conhecimentos. “Tive que estudar cada um dos programas utilizados e aprender sobre as funcionalidades de cada um para adequar o seu uso ao que eu precisava”, afirma.

Sobre as propostas metodológicas para uso em sala de aula e ensinar química, as pesquisadoras garantem que o IsomeriAR pode facilitar a identificação espacial das moléculas e a escrita de fórmulas moleculares, estruturais e em bastão, servindo ainda ao ensino de propriedades físicas dos compostos orgânicos.

E, segundo a professora Márcia, o aplicativo já está em tratativas com a Agência USP de Inovação para registro e ainda este ano deve ser disponibilizado para ser aplicado em salas de aula. De acordo com a professora, as demonstrações já realizadas foram muito positivas. “Os alunos ficaram absolutamente encantados; o aluno poderá manusear, rotacionar, ampliar e reduzir o tamanho dos objetos virtuais, além de poder comparar duas estruturas químicas simultaneamente.”

O IsomeriAR foi apresentado no trabalho Desenvolvimento de um aplicativo de realidade aumentada para o ensino de isomeria: o uso de dispositivos móveis como facilitadores no processo de aprendizagem da química orgânica, dissertação de Mestrado Profissional em Química em Rede Nacional – PROFQUI, defendida por Cibele em abril deste ano.

Imagem: Tela do app IsomeriAR – Arte sobre foto: Freepik
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