Planos para educação revelam falta de metas e superficialidade dos programas
A nota técnica Enfrentamento dos Desafios Provocados pela Pandemia da Covid-19 na Educação Brasileira – Uma Avaliação dos Planos de Governo dos Candidatos a Presidente e a Governador de São Paulo no Segundo Turno, publicada pela Rede de Pesquisa Solidária na semana passada, tem como propósito avaliar seis pontos para a educação: desafios gerados pela covid-19; retomada de investimentos e infraestrutura das escolas; diminuir a evasão escolar; retomada e reforço do ensino na volta presencial das aulas; acesso à internet e propostas para o avanço da vacinação contra o novo coronavírus; e medidas sanitárias.
Defasagem na educação pós-pandemia
Para isso, os planos de governo de Jair Bolsonaro (PL), Lula da Silva (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) foram avaliados. Com o advento da pandemia, as escolas foram fechadas e a adaptação não foi igual para todos, principalmente na rede pública. Isso gerou uma defasagem no aprendizado, que deverá ser recuperado nos próximos anos por meio de políticas públicas eficientes. Sobre isso, todos os quatro planos de governo reconhecem esse problema, mas de maneiras diferentes.
O programa de Bolsonaro, por exemplo, não aprofunda quais seriam as medidas tomadas para recuperar o que foi perdido, enquanto o de Lula discute a desigualdade tecnológica. De maneira geral, nenhum dos planos se compromete com novos investimentos ou apresentam metas concretas para enfrentamento das desigualdades na questão da recuperação da educação.
Acesso à internet na Educação
“A adoção do ensino remoto agravou as desigualdades educacionais devido à baixa qualidade das políticas adotadas e à demora em seu aprimoramento”, diz a nota. Dessa forma, não apenas correr atrás do que foi perdido é importante, como pensar no futuro da educação híbrida, também. A universalização do acesso à internet é comentada em todos os planos, menos no de Tarcísio.
Luiz Guilherme Cantarelli, mestrando do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e membro da Rede de Pesquisa Solidária, comenta que a preocupação com as diretrizes do MEC e seu papel como coordenador foi deixado de lado no período da pandemia. “Caberia aos candidatos e eventuais eleitos ter uma preocupação com a retomada desse papel para mitigar essas questões”, diz. Essa preocupação está em falta nos programas.
Evasão escolar
“É uma questão muito preocupante. Principalmente em relação ao ensino médio, é um problema já persistente no sistema público brasileiro e, com a pandemia, se agravou consideravelmente”, lembra Cantarelli. Tanto Lula como Bolsonaro não tomam consciência desse assunto, complementa. No âmbito estadual, Tarcísio e Haddad tocam no tema da evasão escolar e da saúde mental. Na contramão, Haddad se diferencia dos outros três, porque tem muita proposta para reduzir evasão escolar, como bolsa de estudos, discussão sobre saúde mental e violência na escola. É o programa que discute de maneira mais completa a evasão.
Vacinação e covid-19
Com relação à covid-19 nas escolas, que ainda preocupa os pais, ainda mais em um cenário de aumento de casos, os planos deixam a desejar. No âmbito federal, Bolsonaro não cita a vacinação e Lula não especifica o combate a esse vírus em particular. Já no plano estadual, Tarcísio segue a linha de seu aliado e não cita a vacinação. O único que apresenta de forma mais clara a vacinação, principalmente em crianças, é Haddad. “Não apresentam políticas específicas para reduzir as desigualdades locais e regionais que foram agudizadas durante a pandemia da covid-19”, diz a nota.
A proposta de Haddad para a educação, portanto, destaca-se em relação às demais, já que é pauta principal de sua campanha por ter ocupado, no passado, o cargo de ministro da Educação. “O programa do Haddad é o único que realmente tem programas estruturados com metas específicas para as questões”, conclui Cantarelli. Analisando de maneira geral todos os temas propostos à avaliação, o programa de governo de Lula cita a maioria deles, mas de forma superficial. Guilherme Cantarelli ainda lembra que Tarcísio não cita a maioria das questões e Bolsonaro, pouco superior a ele nessa questão, não cita – ou o faz de maneira superficial – investimentos, vacinação e evasão.
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