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O uso da inteligência artificial no ensino básico já é uma realidade. Apesar do surgimento de novas ferramentas, como do ChatGPT, há anos o avanço na tecnologia está impulsionando transformações tanto na gestão escolar quanto no processo de ensino e aprendizado dos alunos.

Para se aprofundar sobre esse assunto, o Escolas Exponenciais conversou com Guilherme Camargo, CEO e fundador da Sejunta, consultoria especializada em tecnologia educacional.

Confira agora a entrevista:

 

Escolas Exponenciais: Qual o impacto do uso da inteligência artificial na educação?

Guilherme Camargo: ‘Educação’, de uma maneira geral, tem sido afetada pelas mudanças na sociedade com o passar dos anos. As mudanças são variadas, passando pela crescente adoção de dispositivos móveis pelas famílias e pelos estudantes, jogos de cartas temáticas, popularização da internet, demanda crescente do bilinguismo, entre outras. A Inteligência Artificial (IA) é mais uma dessas mudanças e deveria ser tratada assim como tratamos a internet, por exemplo. 

É importante refletir sobre a seguinte pergunta: ‘A nossa instituição de ensino continuará sem utilizar internet daqui para frente?’. É muito difícil uma instituição de ensino continuar existindo sem o uso da internet na parte administrativa e educacional.

Portanto, a escola deverá aprofundar análises sobre a IA, criar regras e contexto para o uso da tecnologia e, por fim, ser transparente com as famílias e com a comunidade escolar sobre as políticas adotadas.

Há diversos artigos científicos e pesquisas sendo realizadas exatamente neste momento para que se possa compreender melhor o impacto da IA. O que se sabe, por hora, é que a IA pode ser utilizada para criar experiências personalizadas de aprendizagem, facilitar o acesso à informação, apoiar educadores ao elaborar planos de aula e avaliações, entre outros itens. 

O grande diferencial é que estas atividades podem ser realizadas em questão de minutos, permitindo que o próprio educador esteja mais focado na experiência de aprendizagem do que na montagem dos materiais. Isso por si só, já tem um potencial transformador na educação. 

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EX: Na sua opinião, como essas novas inteligências artificiais podem contribuir com o processo de ensino e aprendizagem?

Guilherme Camargo: A Inteligência Artificial permite que os educadores façam mais coisas com menor esforço, otimizando o seu tempo e aumentando a produtividade. Quando o educador está mais focado na criação das experiências de aprendizagem do que na correção das atividades ou em outras tarefas mais ‘operacionais’, ele será capaz de desenhar atividades que sejam mais ativas, com significado para os estudantes e também ter mais tempo para se desenvolver profissionalmente.

Do lado do estudante, as ferramentas de IA podem contribuir muito com a criação de textos e com o desenvolvimento de projetos. Sem orientação, as diferentes ferramentas podem acabar dando um direcionamento impreciso e informações incorretas sobre determinado tópico, ou seja, assim como qualquer outra ferramenta utilizada em educação, sem orientação, o resultado pode ser indesejado e prejudicar o processo de aprendizagem.

A grande ‘sacada’ das instituições de ensino que saíram à frente com relação à IA é a de institucionalizar a ferramenta, criar regras para o seu uso e integrá-la de maneira pensada com o objetivo de favorecer os processos de ensino e aprendizagem e também os próprios objetivos macroscópicos da instituição, reforçando a visão e a mensagem para a comunidade escolar.

 

EX: Escolas de Nova York proibiram o uso do ChatGPT. Proibir ou estabelecer regras para o uso? Qual seria a melhor decisão para as escolas, na sua opinião?

 Guilherme Camargo: A grande razão pela qual as escolas de Nova York proibiram o uso do ChatGPT se deve ao medo de a ferramenta ser utilizada para produções com potencial de plágio e sem autoria dos estudantes.

Na minha visão, proibir as ferramentas de Inteligência Artificial não resolve o problema original, que é engajar os estudantes em propostas ativas de aprendizagem que permitam que eles expressem os seus diferentes conhecimentos e habilidades em projetos multi-temáticos. 

Regulamentar o uso do ChatGPT, orientar e educar os estudantes sobre a plataforma, sobre o seu potencial e sobre os diferentes usos é fundamental para que o recurso passe a ser considerado no desenvolvimento de projetos. Para “mitigar” os potenciais problemas de uso da plataforma, é estratégico que a própria escola repense a sua estrutura de avaliação e indicadores de sucesso. 

Caso a escola ainda avalie os estudantes com base em provas e testes padronizados, o ChatGPT definitivamente será um problema. Agora, caso a escola avalie o desenvolvimento dos estudantes com base em habilidades, solução de problemas complexos, criatividade e capacidade de integrar recursos em diferentes projetos, o ChatGPT passa a ser parte de um organismo muito maior e deixa de ser relevante no resultado final.

 

EX: Como a gestão escolar e os professores podem se preparar para o uso de inteligências artificiais, como o ChatGPT? Qual o melhor caminho para entender sobre essas ferramentas e decidir o melhor uso na escola?

Guilherme Camargo: Cada dia que passa, mais e mais conteúdos sobre essa e sobre outras ferramentas são publicados na internet. Ler sobre estas diferentes análises e sobre como especialistas em educação e empresas de diferentes setores estão utilizando a IA é um excelente começo.

No entanto, a fim de testar efetivamente o poder da ferramenta, gestores, professores e também estudantes podem acessar a ferramenta e realizar testes.

Abaixo, coloco ideias para cada um dos grupos, para que possam testar e se familiarizar com as plataformas:

Para gestores, coloque no ChatGPT:

  • Monte uma agenda de desenvolvimento profissional para o segundo semestre de 2023, evitando feriados brasileiros, com encontros presenciais de 2 horas a cada quinze dias em formato de tabela com temas que estejam relacionados ao uso de tecnologias móveis em sala de aula; 
  • Sugira 3 indicadores de sucesso que uma instituição de ensino básico no Brasil pode utilizar para medir o sucesso da adoção de tecnologias móveis nos processos de ensino e aprendizagem;
  • Como a adoção de tecnologias móveis em uma escola de ensino básico pode fazer com que a escola seja mais rentável?;

 

Para Professores, coloque no ChatGPT:

  • Monte um plano de aula com o uso de Aprendizagem Baseada em Problemas que considere como tema principal o problema do lixo na cidade. Neste plano de aula, integre as matérias de história, geografia e matemática pensando no sexto ano do ensino fundamental
  • Como deixar o modelo tradicional de avaliação de aprendizagem de estudantes na escola e adotar modelos que sejam focados em habilidades e que permitam o uso de diferentes ferramentas, como o ChatGPT, sem que o uso desta e outras ferramentas sejam determinantes no resultado final;

 

Para Estudantes, coloque no ChatGPT:

  • Eu estou livre nas terças, quartas e sextas-feiras entre 2 horas da tarde e 5 horas da tarde e eu tenho 3 meses até a prova do ENEM. Eu preciso de um plano de estudos semanal que aborde os temas do ENEM deste ano que me ajude a melhorar o meu desempenho na prova. Faça uma cobertura distribuída de maneira equilibrada de todos os tópicos ao desenhar a agenda e foque em exercícios práticos que me permitam absorver o conteúdo. Inclua um plano de revisão nesta agenda.
  • O professor acabou de apresentar para a turma a matéria de “Genética”, na aula de Ciências. Que conteúdos online gratuitos eu posso ler para que eu esteja à frente da turma em termos de conhecimento? Por favor, adicione links à suas sugestões

 

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