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Saber como atuar diante de uma crise é um dos principais desafios da gestão escolar. Assim como ocorreu na pandemia e, mais recentemente, com a onda de ataques às escolas, a atuação do gestor é fundamental para enfrentar os momentos difíceis e tranquilizar professores, alunos e famílias.

“Em momentos de crise, a gestão escolar deve, mais do que nunca, assumir o papel de educadora. Não só do portão para dentro, mas também do portão para fora”, afirma Marcelo Xavier, diretor de ensino da Inspira Rede de Educadores.

Para se aprofundar sobre esse assunto, o Escolas Exponenciais entrevistou o profissional. Confira agora o bate papo.

 

Escolas Exponenciais: Qual o principal papel da gestão escolar em momentos de crise, como a pandemia e os ataques às escolas?

Marcelo Xavier: Em momentos de crise, a gestão escolar deve, mais do que nunca, assumir o papel de educadora. Não só do portão para dentro, mas também do portão para fora.

Na pandemia, por exemplo, enquanto a sociedade ainda se perguntava quanto tempo teríamos de isolamento ou como seria a nova realidade, as boas escolas do país assumiram a vanguarda do processo, criando alternativas para que, mesmo com todas as dificuldades, seus alunos seguissem se desenvolvendo mesmo que à distância.

Em episódios, como a recente onda de ameaças de ataques às escolas, cabe à gestão escolar a manutenção da serenidade. É muito difícil para as famílias, dado o forte envolvimento emocional, conseguir enxergar o cenário com clareza, muitas vezes colocam todo o foco em uma fração do cenário e deixam de enxergar o todo.

Ao longo das últimas semanas cheguei a ouvir, por exemplo, que as escolas deveriam manter seguranças armados nas portas das escolas. Evidente que a boa intenção de quem solicita isso visualizando minimizar um tipo de risco não avalia os diversos outros riscos que aumentam com a presença de um segurança armado em um ambiente onde circulam tantas crianças e adolescentes. 

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EX: Diante de momentos desafiadores, o que deve ser priorizado na gestão escolar?

Marcelo Xavier: Jamais podemos perder o foco sobre a principal missão de uma escola que é a formação completa de seus alunos. Quando uma escola age de forma impulsiva ou se apavora perdendo a serenidade, ela falha com a missão de ser um exemplo de como devemos agir nos momentos mais difíceis.

As crises fazem parte da vida, a maneira como lidamos com elas é que nos faz aptos a sermos protagonistas. Isso também se aprende na escola. Nossos alunos também vivem suas crises, suas dificuldades e sempre ensinamos a agir com tranquilidade, focando no que é importante e evitando precipitações. Nos nossos momentos de crise não podemos agir em contradição com os nossos ensinamentos.

 

EX: Como deve ser a relação da gestão com toda a comunidade escolar nessas épocas de crise?

Marcelo Xavier: Essa resposta não se restringe apenas aos momentos de crise. Escola e comunidade escolar precisam desenvolver uma relação de parceria. Esta relação precisa ser mais forte do que uma relação meramente comercial, visto que temos com as famílias um nobre objetivo em comum.

A gestão escolar não pode se permitir ser refém das famílias numa relação em que o risco de um término da relação comercial seja mais importante do que a força de uma parceria consistente entre escola e família.

Ser um bom gestor escolar não é atender a todas as demandas, até porque as demandas das famílias muitas vezes apontam para caminhos divergentes. Ser um bom gestor é saber ouvir, ser capaz de discernir o que são boas sugestões e ter a firmeza de, com muita didática, explicar para as famílias os motivos que levam a escola a tomar determinadas decisões.


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EX: Por fim, quais os melhores caminhos para a escola sair de uma crise?

Marcelo Xavier: Primeiro, entender que nem sempre há um “pó de pirlimpimpim” que solucione crises instantaneamente. Muitas vezes a solução é dada imediatamente, mas precisará de um tempo para que a inércia da crise passe. Leva um tempo para que toda comunidade perceba que o motivo que gerou a crise já foi solucionado.

Um erro comum de gestões escolares é, na ansiedade de eliminar todo e qualquer ruído gerado por uma crise, tomar decisões em cima de decisões, perdendo a identidade perante seu público e gerando uma crise ainda maior do que a original.

 

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