Quase dois anos depois do início da pandemia do novo coronavírus, o Estado de São Paulo vai liberar o uso de máscaras ao ar livre, em espaços em que não haja teto, como adiantou o Estadão na semana passada. Entre eles estão áreas abertas de shoppings, praias, parques e calçadas. A recomendação vem do comitê de especialistas, que se reuniu ontem para analisar a situação atual da pandemia no Estado. O uso obrigatório de máscaras em São Paulo está em vigor desde maio de 2020.
Segundo fontes com acesso às discussões, no entanto, ainda não foi decidido se as máscaras serão desobrigadas nos espaços abertos também das escolas. Há a possibilidade de elas serem liberadas apenas nas atividades esportivas escolares, como aula de educação física.
De acordo com dados do governo do Estado, São Paulo tinha até ontem 98,86% da população elegível (com mais de 5 anos) vacinada com pelo menos uma dose. Foram aplicadas no Estado mais de 101 milhões de doses do imunizante. São Paulo é o Estado líder em vacinação no Brasil, superando porcentualmente também números de países como Japão, Itália, França, Alemanha e Estados Unidos. O Estado prevê para o próximo mês a aplicação da quarta dose da vacina em idosos.
A secretaria municipal da Saúde da capital já havia recomendado esta semana que as máscaras deixem de ser usadas ao ar livre, por causa do cenário epidemiológico atual, com as menores taxas de internações e ocupação de UTI desde 2020, e a alta cobertura vacinal na cidade. Ao menos cinco Estados já tornaram facultativo o protetor facial contra a covid-19. Em dois deles – Rio Grande do Sul e Santa Catarina -, crianças estão liberadas do uso inclusive nas escolas. Santa Catarina, assim como Mato Grosso do Sul, Maranhão e Rio de Janeiro já não obrigam o protetor facial em ambientes abertos. No Distrito Federal, o uso de máscaras deixou de ser obrigatório em locais abertos desde segunda-feira.
No início da semana, a cidade do Rio de Janeiro passou a ser a primeira capital do País a liberar o uso de máscaras também em lugares fechados. No ano passado, o município já havia liberado a proteção ao ar livre.
Em todo o Estado de São Paulo, as taxas de novos casos, internações e mortes pela covid-19 estão caindo com o avanço da vacinação, mas a discussão com relação ao uso de máscara entre as crianças esbarra principalmente nas taxas de imunização. Ontem, o índice chegou a 70% das crianças vacinadas com a primeira dose, mas a segunda dose ainda está em 19,39%. São 821 mil faltosos entre 6 e 11 anos.
Segundo o Estadão apurou, o governador João Doria (PSDB) é favorável à liberação também nos espaços abertos das escolas. Hoje, comitê e membros do governo vão se reunir para tomar a decisão e fazer o anúncio em seguida.
DISCUSSÃO
O Centro de Contingência da Covid-19 chegou a discutir liberar as máscaras em escolas que tenham mais de 90% das crianças vacinadas. No entanto, integrantes mais conservadores do grupo consideram que se houver aumento de internações em decorrências de festas do carnaval isso aconteceria apenas nesta semana.
Além da vacinação, há membros do comitê que acreditam que o momento de recreio e educação física são os mais preocupantes porque as crianças respiram de maneira ofegante e transpiram. Pesquisas mostram que academias, por exemplo, são locais de grande contaminação de covid. Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso de máscaras para crianças em atividades físicas.
Países como Reino Unido e Estados Unidos também passaram a liberar o uso de máscaras em espaços abertos e nas escolas, inclusive na sala de aula. É intenso o debate no mundo todo sobre a retirada da proteção para crianças. Estudos científicos publicados recentemente sobre o tema não são conclusivos. Alguns apontam impactos importantes nas interações com professores e colegas. Outros não reportam esses efeitos.
Movimentos como o Escolas Abertas defendem, com base em pesquisas que falam do prejuízo ao desenvolvimento das crianças, que as escolas deixem de exigir a proteção em todos os ambientes. Na segunda-feira, pais e crianças do Escolas Abertas protestaram na frente da casa do secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, pela mudança nas regras nas escolas e liberação das máscaras. Outro argumento é o do que as crianças, que já sofreram grande impacto com as escolas fechadas durante a pandemia, estão sendo penalizadas, já que há mais fiscalização nas escolas para o uso de máscaras do que no restante dos lugares, como restaurantes, festas, shows etc.
Outro problema em São Paulo, segundo fontes, é uma normativa publicada pela Secretaria da Saúde mês passado que diz que as escolas podem ser fechadas em caso de surto de covid, configurado por apenas dois casos suspeitos ou confirmados. O Estadão revelou que o secretário da Educação, Rossieli Soares, foi surpreendido com a nova norma em fevereiro e tem defendido publicamente que ela seja mudada. Ele acredita que, se as máscaras forem retiradas, é preciso também flexibilizar a definição de surto, caso contrário, as instituições podem acabar sendo fechadas muito facilmente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Renata Cafardo e Pedro Venceslau