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O acesso à internet traz uma série de benefícios para toda a população, possibilita a conexão entre pessoas e é também instrumento para a educação, por exemplo. Mas, o uso da ferramenta por crianças e adolescentes leva também a uma série de preocupações, como os impactos na saúde mental dos mais jovens, ocorrências de bullying digital e acesso a discursos de ódio.

Essas e outras questões foram tema de discussão nesta segunda-feira (8), no 6º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, evento realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), com correalização do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI FGV Direito SP), do Instituto Alana e da SaferNet Brasil. Os painéis e debates podem ser acessados no Youtube

Segundo a Pesquisa TIC Kids Online, conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação do NIC.br, 76% dos usuários com idades entre 9 e 17 anos acessam a Internet mais de uma vez por dia e 43% das crianças e adolescentes viram alguém ser discriminado no ambiente digital.   

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que aproximadamente um em cada dez adolescentes (13,2%) já se sentiu ameaçado, ofendido e humilhado em redes sociais ou aplicativos. Consideradas apenas as meninas, esse percentual é ainda maior, 16,2%. Entre os meninos é 10,2%.

Nesse cenário, a saúde mental dos jovens é alvo de preocupação. Segundo a psicóloga e diretora da SaferNet, Juliana Cunha, um a cada cinco casos recebidos pelo canal de ajuda da entidade estava relacionado à saúde mental. “Esse fenômeno impacta a todos, especialmente adolescentes e jovens que estão hiper conectados, especialmente por conta da pandemia, mas a gente precisa olhar os dados e evidências para entender o que a gente pode fazer e como a gente pode endereçar melhor esse desafio”, diz.

Ajuda nas redes

O relatório Situação Mundial da Infância 2021 – Na minha mente: promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que, no Brasil, 22% dos adolescentes e jovens de 15 a 24 anos dizem que, muitas vezes, sentem-se deprimidos ou tem pouco interesse em fazer as coisas. Essa porcentagem é maior que a média encontrada nos 21 países que participaram do estudo, que é 19%.

Diante dessa situação, o Unicef criou uma ferramenta para que os jovens possam conseguir ajuda online, para que a internet possa servir também como um suporte. Segundo a Oficial de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do Unicef, Joana Fontoura, em parceria com diversas organizações, o Unicef lançou a plataforma Pode Falar que disponibiliza gratuitamente materiais de apoio e até mesmo um atendimento por chat. O site é voltado para pessoas de 13 a 24 anos.

As redes sociais também têm olhado para essa questão. “O tema da saúde mental tem ganhado muito espaço nos últimos anos, especialmente por conta da pandemia e do isolamento social. Sabemos que o isolamento social tem perturbado os relacionamentos dos adolescentes, aumentando a sensação de solidão. As redes sociais como o Instagram mostraram a utilidade para ajudar os mais jovens a manter e desenvolver relacionamentos  a distância. Jovens passaram mais tempo nas redes sociais e isso fez com que muitos começassem a questionar qual o impacto das redes sociais nos adolescentes”, diz o gerente de Políticas Públicas do Instagram, Gabriel Recalde.

De acordo com Recalde, o Instagram tem buscado aprimorar ferramentas para barrar a divulgação de conteúdos que podem ser danosos aos usuários. No trimestre de abril a junho, foram identificados e removidos cerca de 3 milhões de conteúdos sobre suicídio e automutilação em todo o mundo. Além disso, quando uma pessoa busca por esses termos, recebe uma notificação com orientações sobre onde pode conseguir suporte.

Discursos de ódio

Outro ponto de discussão foi a propagação de discursos de ódio na internet, que têm também impacto na saúde mental dos usuários. “A gente precisa aprender a conviver com o diferente, muitas vezes o que a gente acaba vendo, principalmente nas redes sociais, é que as pessoas simplesmente se fecham nas suas opiniões sobre todo o qualquer tema e estão muito pouco dispostas a ouvir diferentes perspectivas e pontos de vista, o que acaba exacerbando a intolerância e a falta de diálogo”, diz a Coordenadora do programa de educação midiática (Educamídia) no Instituto Palavra Aberta, Daniela Machado.

Segundo Daniela, é preciso investir em educação midiática. “Eu acho que educação midiática tem essa função de nos habilitar e ajudar a desenvolver um conjunto de competências para que a gente possa tirar um melhor proveito do que a tecnologia tem a nos oferecer”. Ela enfatiza, que nas redes, os usuários são tanto consumidores quanto produtores de conteúdo e que isso deve ser feito de maneira responsável.

A educação midiática está prevista na Base Nacional Comum Curricular – documento nacional que estipula o que todos os estudantes têm direito a aprender – e deve passar a fazer parte do currículo das escolas do país.