Tendência de alta nas matrículas deve permanecer, afirmam especialistas
O Ministério da Educação (MEC) divulgou recentemente os dados do Censo Escolar 2023, revelando um cenário de crescimento nas escolas privadas brasileiras. De acordo com as estatísticas, houve um aumento de 4,7% no número de matrículas em comparação ao ano anterior, representando um acréscimo de 423 mil novos alunos nas instituições particulares.
A tendência positiva na rede privada contrasta com a realidade enfrentada pela rede pública, que registrou uma queda significativa, com mais de 500 mil alunos deixando as instituições no mesmo período.
Para 2024, a expectativa na rede particular é de que a trajetória de crescimento seja mantida, segundo Mayana Teixeira, assessora pedagógica da plataforma Amplia. No entanto, ela ressalta a importância de considerar diversos fatores que podem influenciar essa projeção, como a situação econômica do país, políticas governamentais relacionadas à educação e eventos externos inesperados, como a pandemia de Covid-19.
Diante desse cenário, Mayana afirma que as escolas particulares podem buscar estratégias para aproveitar esse aumento nas matrículas e atrair ainda mais alunos. Ela sugere investimentos em marketing e comunicação destacando os diferenciais da instituição, como programas educacionais inovadores, corpo docente qualificado e infraestrutura moderna.
Além disso, a assessora pedagógica acredita que a promoção de parcerias com empresas locais e a realização de eventos abertos à comunidade podem contribuir para aumentar a visibilidade da escola.
“Estratégias como programas de bolsas de estudo, descontos e flexibilidade nos horários e modalidades de ensino também são formas de tornar a educação privada mais acessível e atrativa para famílias de diferentes faixas de renda”, sugere.
Consultor sugere estratégias para aproveitar alta nas matrículas
Com base nos dados do Censo Escolar 2023, Maurício Berbel, consultor da Alabama Consultoria Educacional, destacou que o crescimento no número de matrículas na rede privada atingiu todas as etapas de ensino. Segundo ele, os números mostram altas de 3,6% na educação infantil, 1,1% no ensino fundamental e 4,7% no ensino médio.
Para Berbel, o aumento reflete o retorno gradual à normalidade após o período de pandemia. Ele ainda espera que o crescimento se mantenha de 2023 para 2024. No entanto, o consultor ressalta a importância de analisar os microdados do Censo Escolar 2023 para compreender as nuances específicas de cada região e faixa etária.
Durante a pandemia, por exemplo, enquanto houve uma redução geral no número de matrículas nas escolas particulares, Berbel destaca que houve municípios em que as matrículas na rede privada cresceram mais de 10%.
De acordo com ele, essa análise detalhada dos microdados permite às escolas entender melhor a dinâmica da concorrência local e desenvolver estratégias mais adequadas para atrair e reter alunos.
O consultor enfatiza a importância da agilidade por parte das escolas para captar as matrículas que estão retornando para a rede particular. Reforçar a comunicação para estar mais presente na comunidade e ganhar destaque através do boca a boca são estratégias recomendadas.
Além disso, Berbel ressalta a importância de zelar pela média de alunos por turma, buscando uma melhor ocupação das salas de aula. Se a escola não dispõe de vagas para captar mais matrículas novas, ele sugere avaliar duas alternativas básicas: dividir turmas (aumentando a capacidade e os custos) ou reduzir descontos (usando a escassez de vagas para elevar o ticket e a rentabilidade da instituição).
Esforços para captação de matrículas devem ser concentrados nas séries iniciais
Para Jair dos Santos Junior, professor e consultor das Santos JR Consultoria Educacional, dentre os fatores que impulsionam essa tendência de alta no número de matrículas, estão as dúvidas suscitadas pelo Ministério da Educação em relação à Base Nacional Curricular (BNCC).
“Essas incertezas podem levar as famílias que têm condições financeiras a fazerem esforços adicionais para matricular seus filhos na rede particular, buscando uma educação mais estável e alinhada com seus valores e expectativas”, afirma.
O especialista ressalta que a decisão de onde os filhos irão estudar é tomada com cuidado pelas famílias, e a troca de escola geralmente só ocorre quando há motivos reais e preocupantes. Os pais, segundo ele, fazem o possível para evitar sobressaltos e atrasos na formação dos filhos, muitas vezes já pensando no futuro acadêmico e profissional das crianças desde as séries iniciais.
Nesse contexto, Santos recomenda que os esforços de captação de alunos se concentrem nas séries iniciais, destacando os aspectos qualitativos do acolhimento e do ambiente que será proporcionado ao estudante. Ele ressalta que a segunda onda importante de captação ocorre para o ensino médio, com foco nos melhores resultados obtidos nos vestibulares das grandes universidades e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para garantir o sucesso na captação de alunos, o especialista enfatiza a importância de uma plataforma de comunicação abrangente, que inclua redes sociais, comunicação tradicional e eventos de portas abertas, mas principalmente, destaca a necessidade de uma excelente recepção da equipe que apresenta a escola aos pais que visitam a instituição.
“A atenção aos detalhes, o treinamento da equipe, a linguagem precisa e a apresentação pessoal são fatores fundamentais que contribuem para a conversão no momento da visita dos pais”.
O que é o Censo Escolar
Coordenado pelo Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Censo Escolar é uma pesquisa estatística essencial para a educação básica, realizada em colaboração com as secretarias estaduais e municipais de Educação, e abrange todas as escolas do país, tanto públicas quanto privadas.
Os dados englobam diversas etapas e modalidades da educação básica, incluindo o ensino regular, a educação especial, a educação de jovens e adultos (EJA) e a educação profissional.
As estatísticas de matrículas obtidas no Censo Escolar são fundamentais para o repasse de recursos do governo federal e para o planejamento e divulgação das avaliações realizadas pelo Inep. Além disso, o levantamento traz informações essenciais para compreender a situação educacional do Brasil, das unidades federativas e dos municípios.
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