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Como transformar uma instituição de ensino em uma escola inclusiva? Essa é uma das dúvidas que ainda se faz presente no dia a dia de muitos diretores. E, para esclarecer essa questão, um dos pontos principais é entender que uma escola é inclusiva quando está preparada para receber todas as pessoas da comunidade.

“Tornar a escola inclusiva faz parte de um processo maior, que é formar uma sociedade inclusiva. E o primeiro passo para isso é abrir a porta para todos os estudantes, independentemente de suas características e necessidades específicas”, afirma Juliana Postigo Amorina Borges, fonoaudióloga e diretora presidente do Instituto ABCD, organização social que se dedica a melhorar a vida de brasileiros com dislexia.

Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que trabalha pela promoção da equidade e qualidade da educação básica pública do país, também compartilha do mesmo pensamento.

Ela afirma que essa transformação deve ser um compromisso político da escola. “A intenção precisa estar expressa no projeto político pedagógico e efetivamente presente não só em ações e estratégias desenvolvidas na escola, mas também nas interações que acontecem no dia a dia”, pontua,

Sendo assim, Anna Helena reforça a importância de os gestores acreditarem que toda criança e adolescente podem aprender e se desenvolver.

“Ao pensarmos em inclusão, é fundamental considerarmos as(os) estudantes com deficiência, transtornos do espectro autista ou altas habilidades. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de considerar as enormes desigualdades educacionais que também acabam por excluir as(os) alunas(os) pobres, negras(os), indígenas, quilombolas, da zona rural ou periferias das grandes cidades”, ressalta.

Nesse sentido, a especialista acrescenta que “para tornar uma escola inclusiva é fundamental um compromisso de todas(os), com todas(os)”. Entretanto, ela lembra que é necessário a instituição de ensino disponibilizar condições materiais concretas, desde estrutura física até condições de trabalho adequadas para os professores. Confira um artigo sobre a importância das capacitações dos educadores para a educação inclusiva.

 

Marta Gil faz reflexões sobre o processo para a escolar ser inclusiva

 

Para Marta Gil, coordenadora executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, não há uma resposta pronta sobre os principais caminhos para tornar uma escola inclusiva.

Porém, algumas reflexões podem trazer contribuições valiosas para essa transformação, tão importante e necessária.

“Não há receita: cada escola tem sua história, sua trajetória e uma relação com o bairro onde está localizada. A escola está aberta à interação com a comunidade local? Esta, por sua vez, se sente representada e ouvida? O Plano Político Pedagógico (PPP) reflete valores e ações que contemplam a inclusão?”, questiona.

De acordo com Marta, essas são algumas das perguntas que podem representar o início do processo que visa tornar a escola inclusiva. “Como todo processo, tem um ponto de partida, mas nunca de chegada, pois a inclusão está sempre em movimento: cada aluno (a) que chega, cada ampliação do olhar, cada nova informação traz desafios e transformações”, explica.

A especialista ainda pontua que, para a escola ser verdadeiramente inclusiva, é necessário começar olhando para dentro de si mesma e refletindo sobre esses questionamentos.

“O PPP inclusivo pode ser um bom ponto de partida: para revisitá-lo, vale a pena conhecer a legislação atual, em especial a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), que foi acolhida pela Constituição Federal (1988) com status de Emenda Constitucional (Decreto Legislativo 186/2008) e concretizada pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) e também a Base Nacional Curricular (2017)”, orienta.

 

Considerações sobre uma escola inclusiva, na visão de Marta Gil

 

  •         Ter um diagnóstico – ainda que simples – do perfil de seus alunos com deficiência e também dos que têm dificuldades de aprendizagem;

  •         Elaborar o PAI – Plano de Atendimento Individual (que pode receber outros nomes);

  •         Incorporar o conhecimento e a experiência anterior da equipe educacional (gestão, coordenação e professores) na prática cotidiana;

  •         A escola tem Sala de Recursos Multifuncionais? Caso não tenha, os alunos elegíveis para o Atendimento Educacional Especializado são encaminhados para outra escola? Como é o entrosamento entre o professor da sala comum e o professor de AEE?

  •        O PPP Inclusivo deve ser revisitado nos horários destinados para estudo e incorporar estes procedimentos; também deve ser conhecido pela equipe educacional, sem ficar em uma gaveta.