A expectativa em grande parte das escolas particulares de São Paulo era de flexibilizar os protocolos na volta às aulas. Mas o avanço da variante Ômicron do coronavírus, mais transmissível, freou qualquer tentativa de tornar o ambiente escolar um pouco mais próximo do normal. Para evitar o contágio, as instituições passaram a recomendar máscaras que protegem mais, comprar testes e fazer mapeamento da vacinação de funcionários e alunos.
As unidades não devem exigir comprovante de imunização dos alunos como condição para frequentar as aulas, mas reforçam campanhas para que as crianças se vacinem. O ano letivo em boa parte dos colégios paulistanos começa na semana que vem, com a expectativa de que as aulas não tenham de ser interrompidas.
No Colégio São Luís, na zona sul, famílias devem preencher uma ficha com o envio do comprovante de vacinação contra a covid-19 dos alunos. A escola lembra que, “segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a vacinação das crianças é obrigatória”. O de funcionários também é checado semanalmente para verificar a adesão à terceira dose.
O Equipe, na região central, pretende checar a imunização de alunos e professores. “Pedimos que todos enviem seus comprovantes de vacinação para mapearmos a cobertura vacinal da nossa comunidade. Não será um ‘passaporte’ propriamente”, disse Luciana Fevorini, diretora do colégio, que retorna com aulas presenciais na terça. Já no Colégio Stocco, de Santo André, será pedida a carteira de vacinação de cada criança. “Se ela não estiver em dia com qualquer tipo de vacina prevista no calendário, informaremos à família que essa situação precisa ser regularizada no prazo de 60 dias e caso não seja também notificaremos às autoridades competentes.” A falta de vacinas, porém, não impedirá a matrícula ou a presença, explica a escola.
Escolas da rede estadual passarão a exigir as carteiras de vacinação no fim do 1.º bimestre – as aulas começam no dia 2. A Secretaria Estadual da Educação explica que a não apresentação do comprovante não impede a matrícula, mas a escola tem a obrigação de informar o Conselho Tutelar. “As escolas particulares poderão seguir a determinação do Estado, mas são autônomas para definirem um prazo.”
Segundo Ligia Mori, diretora do Gracinha, na zona sul, haverá campanha para incentivar que todos se vacinem. “Faremos comunicados às famílias, ressaltando a importância da imunização, com divulgação nas TVs internas, cartazes, conversa com os alunos.”
O Santa Cruz, na zona oeste, afirma que todos os professores estão imunizados e boa parte já recebeu o reforço. A escola recomenda a vacinação dos alunos e também vai fazer um levantamento dos estudantes imunizados. Além disso, máscaras melhores já estão sendo exigidas no retorno que começou esta semana – as de pano devem ficar em casa. “Passaremos a exigir máscaras cirúrgicas de uso hospitalar com três camadas ou do modelo N95/PFF2 para alunos e educadores. Esta é uma medida de cuidado adicional no momento de alta transmissibilidade na pandemia”, afirmou a direção em comunicado aos pais.
Diretriz parecida é adotada pela Camino School, na zona oeste, que também estabelece uso de máscaras N95 ou KN95, mais filtrantes, para alunos e professores. Além disso, a escola comprou testes de covid para funcionários e estudantes. A intenção é usá-los no retorno, para identificar contaminados nas férias e reduzir riscos. Depois, os testes serão feitos em caso de suspeita.
Escolas como o Franciscano Pio XII e Augusto Laranja, na zona sul, também preveem afastar turmas em casos de contaminação. Na Grande São Paulo, a Escola Castanheiras pede novo teste ao aluno que, após resultado positivo, queira voltar antecipadamente.
Sem aulas
“Crianças sintomáticas, com tosse, febre, coriza devem ser afastadas imediatamente”, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Além disso, a criança também não deve ir à escola se tiver contato com um parente infectado. Para Kfouri, diante do alto número de casos de covid-19 é natural que as escolas também registrem infecções. Protocolos como uso correto de máscaras, ventilação, higiene das mãos, distanciamento e vacinação reduzem os riscos.
Professores, no entanto, temem mais contaminações com a reabertura. A Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp) vai enviar ofício ao governo estadual, pedindo adiamento do retorno. “Todos queremos voltar, mas com segurança e sem risco de recuar”, afirma Celso Napolitano, presidente da Fepesp.
A Secretaria da Educação do Estado afirma que é fundamental ter os estudantes nas escolas. E que a presença dos alunos é obrigatória desde novembro. Protocolos na rede estadual incluem álcool em gel, máscaras, medição de temperatura, identificação e afastamento dos casos positivos e seus contatos.
Suécia aprova, mas não recomenda
A Agência de Saúde da Suécia aprovou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19, mas não recomenda a imunização nesta faixa etária. “Com o conhecimento que temos hoje, com baixo risco de doenças graves para crianças, não vemos nenhum benefício claro em vaciná-las”, disse Britta Bjorkholm, oficial da agência.
O argumento das autoridades sanitárias é de que as crianças possuem um risco muito menor de desenvolver formas graves da covid-19 em comparação com os adultos. A partir dos 12 anos, a agência recomenda a imunização no país. Bjorkholm acrescentou ainda que a decisão pode ser revisada se a pesquisa mudar ou se uma nova variante tiver impacto na pandemia.
Desde o início da pandemia, a Suécia tomou um rumo diferente de seus vizinhos na Escandinávia. No início, defendeu a tese da “imunidade de rebanho” e isso provocou um número de mortes e casos bem superior ao de outros países da Escandinávia. Neste mês, a Suécia deu um salto na média móvel de casos e saiu de um patamar de 8 mil por dia para quase 40 mil, seu recorde em toda a pandemia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Julia Marques e Paulo Fávero