Construir um currículo que aprimore e estimule o aprendizado dos alunos é um desafio para todo educador. Por isso, é importante conhecer mais a fundo a neurociência, que vem se mostrando uma grande aliada quando o assunto é educação. Mas você sabe exatamente como a neurociência e a educação se relacionam?
Neurociência é o estudo científico da estrutura e funcionalidade do sistema nervoso central humano. Essa ciência é considerada interdisciplinar, dada a sua relação com outras áreas de conhecimento, como a pedagogia, a psicologia, a física… Uma de suas subdivisões é a neurociência cognitiva, que estuda como o ser humano aprende, como os impulsos externos chegam ao nosso cérebro, como processamos novas informações, como adquirimos conhecimento a partir de nossas experiências, como construímos nossas memórias e como acessamos o que foi armazenado, processando informações e transformando tudo em aprendizado.
Como a neurociência pode ajudar no processo de aprendizagem?
No universo da educação, ser capaz de entender como o nosso cérebro reage a estímulos externos tem extrema importância. É dessa forma que educadores se preparam para desenvolver os melhores estímulos para seus estudantes e para aumentar a qualidade do aprendizado, tornando-o mais atrativo e inovador.
Não há dúvida de que um aluno engajado é um aluno mais capaz de absorver o conteúdo ensinado. Segundo a neurociência, esse aluno consegue armazenar a informação a longo prazo, transformando aprendizado em conhecimento para a vida toda. E uma aula com maior diversidade estratégica tem maior chance de transformar o conteúdo em uma memória de longo prazo.
“A neurociência traz conceitos que são muito interessantes tanto no âmbito de inovação como no âmbito de aprendizado e desmistifica muitas coisas. Uma delas é que a inteligência é algo fixo, quando, na verdade, a inteligência é plástica, móvel, progressiva. A neurociência traz esse conceito de neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura de acordo com a experiência.”
Quem diz isso é Nathalia Pontes, Coordenadora de Produto na PlayKids, plataforma com mais de 5 mil desenhos, jogos educativos e livros digitais para crianças aprenderem brincando.
Foi a partir da década de 90 que a produção científica deu um grande salto no estudo da neurociência, com novos exames de imagem que mostraram que o aprendizado deixa o cérebro mais funcional. Pesquisas foram feitas não só com observação externa, mas com aparelhos de encefalograma, para monitorar as ondas cerebrais durante atividades escolares e processar essas informações em computadores.
Nathalia, que também é gestora educacional, além de mestranda em Psicologia da Educação, escritora e ilustradora, ressalta que uma das descobertas da neurociência que podem ajudar muito as escolas e seus alunos é a importância de motivar os estudantes.
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“Motivação é um ponto crucial no aprendizado e no desenvolvimento, assim como entender como o conteúdo vai ser aplicado no dia a dia do aluno. O uso de jogos é muito eficaz para isso.”
Outro ponto ressaltado por quem entende do assunto é a importância das emoções no processo de aprendizado. A neurociência mostra que o aspecto emocional interfere intensamente na nossa cognição, ou seja, quanto mais emoção positiva uma aula tiver, mais o aluno vai se lembrar dela. Uma das ferramentas que vêm sendo amplamente utilizadas com sucesso para desenvolver a inteligência emocional dos alunos é a realização de atividades em grupo.
“Controle emocional tem que ser aprendido desde criança, a partir dos 3 anos, e se estende ao longo da vida. Por isso é um ponto de constante melhoria, para entender como devemos lidar com as nossas emoções”, diz a coordenadora da Playkids. “Toda vez que o aprendizado está associado a uma emoção positiva, a uma memória positiva, esse aprendizado é mais forte. O mesmo acontece com emoções negativas, o que é aprendido em momentos de muito estresse e ansiedade provavelmente esse conhecimento será atrelado a isso. As emoções têm que ser consideradas no processo educacional. É aconselhável criar condições que levem a um maior autoconhecimento emocional e tentar criar um ambiente o mais agradável possível.”
Diante disso, é importante trabalhar as relações interpessoais entre professores e alunos, de forma a aumentar a comunicação entre eles, a troca de experiências construtivas, a empatia e o sentimento de segurança no ambiente de ensino.
Especialistas destacam ainda que é fundamental trabalhar o foco nos estudantes. Segundo a neurociência, atenção não é uma característica inata, por isso, é possível ensinar um aluno a ter mais concentração.
Nathalia explica ainda que o cérebro não tem necessidade – nem capacidade – de processar todas as informações que chegam até ele e que, por isso, a atenção envolve mecanismos que vão de preferências a experiências anteriores, necessidades, até a estado emocional. “A atenção é basicamente um mecanismo de defesa, pois o cérebro tem que escolher entre milhões de opções naquela que ele vai focar. Por isso a importância de contextualizar, para ter mais chance de significância.”
Vale encerrar com a frase do vencedor do Prêmio Nobel de Medicina, o neurocientista austríaco Eric Kandel: “aprender significa criar memórias de longa duração.”
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