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Tornar a sua escola mais criativa é um grande anseio de muitos diretores e mantenedores. Pode parecer complicado em um primeiro momento, mas saber encarar a criatividade como uma ferramenta para superar desafios e problemas, faz com que o gestor use dessa possibilidade para ter mais sucesso dentro da escola. 

A especialista Emilly Fidelix, professora de pós-graduação no Instituto Singularidades e criadora do @seligaprof, aponta que a palavra criatividade, no século 21, está ligada a resolução de problemas, inovação e disrupção, e, por isso, muitas vezes ela nos parece algo distante e inerente aos gênios.

Temos uma ideia pronta de que ser criativo é criar uma obra de arte ou uma grande escultura, mas Emilly ressalta que a criatividade também está atrelada a inventividade e inovação, a dar uma nova solução para um pequeno problema e a buscar propostas diferentes. 

Emilly diz que a criatividade também está presente no interesse ou no olhar curioso, e principalmente na interdisciplinaridade. 

“Quando a gente diz ‘pensar fora da caixa’, o bacana talvez seja pensar além da minha caixa, além da minha disciplina, da minha grande área de conhecimento e perceber que tudo isso está atrelado”, sugere.

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Como a inovação é essencial para a evolução da escola?

A especialista cita o caso de Leonardo da Vinci, que é considerado o grande gênio da humanidade até os dias de hoje, para ilustrar sua ideia. Segundo ela, o biógrafo de Leonardo Da Vinci disse que ele não era a pessoa mais inteligente que havia nos tempos dele, mas tinha a capacidade de pensar como um artista e como um cientista, ou seja, na interdisciplinaridade. 

“Isso deu a ele a capacidade de visualizar os contextos teóricos, de criar e de inventar. Foi o que trouxe tanta adaptabilidade para o Leonardo da Vinci criar coisas em áreas tão diferentes”, exemplifica.

Emilly explica que a construção de uma escola mais criativa está na união das pessoas, com tecnologias, para formar uma cultura de inovação. A escola 4.0, que ainda pensamos como a “escola do futuro” abraça o erro e forma cidadãos com mentalidade de cientista.

“Cientistas no sentido de serem críticos e autônomos, de terem liberdade para criar, testar e errar. Ali é o momento de errar e aprender errando também, então, é preciso aplaudir quem acerta e é preciso aplaudir quem erra e tem coragem o bastante de errar, perceber e perguntar: ‘mas por que eu errei? Me ajuda?’ É essa cultura inovadora e criativa que eu preciso conectar também à cultura da minha escola”, resume a professora Emilly Dantas.

Pensamento vertical e pensamento lateral

Depois de mostrar que a criatividade não é sinônimo de genialidade, a professora Emilly Dantas observa outro aspecto que deve ser levado em consideração para deixar as escolas mais criativas: se espelhe em ideias que já foram aplicadas.

“A criatividade não é inventar algo do zero, mas é se inspirar no que veio antes da gente, e para isso eu preciso ter repertório cultural”, explica. 

Ela cita o psicólogo Edward de Bono, da Universidade de Oxford, e sua teoria do “pensamento literal” para encarar a criatividade como uma ferramenta de resolução dos problemas. Bono divide o pensamento em dois:

  • O pensamento vertical, que é quando eu tenho a possibilidade de sim e de não. É um pensamento lógico, racional, analítico, detalhista, olha os fatos e, por isso, segue padrões. 
  • O pensamento lateral, que é responsável pela reorganização das ideias, dos dados existentes e duvida daquilo que está posto. Com ele, é possível criar algo para buscar novos caminhos inovadores e inéditos. 

Emilly exemplificou o funcionamento desses pensamentos da seguinte forma: Podemos estar olhando para uma imagem de tigres e eu digo para você que há várias imagens escondidas de rostos de tigres e dou cinco segundos para encontrar tudo isso. Diante daquela pressão de resolver o problema, a gente acaba não conseguindo porque vou bloquear o pensamento lateral. Depois, quando a gente analisa o problema com calma e vemos que temos a possibilidade de resolvê-lo, começamos a aceitar a criatividade e liberar o pensamento lateral.

Medo de errar

Um mundo que muda rapidamente e onde lidar com o incerto é uma constante. Assim é definido o mundo VUCA – sigla em inglês para Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade).

Dentro deste contexto, Emilly faz um questionamento: errar é humano? E como nós lidamos com o erro? 

A especialista conta que em seus cursos online presencia muito professor chorando ao relatar os erros, o medo da experimentação e daquela pressão por acertar sempre. Mas que tipo de educação se constrói nesse sentido?

Emilly Dantas volta a usar Leonardo Da Vinci como exemplo ao citar que muitas de suas invenções não saíram do papel por não serem práticas ou necessárias e, por isso, muitas foram abandonadas nos estágios iniciais. 

Com isso, a especialista quer mostrar que a criatividade não se constrói da noite para o dia, e que exige muito trabalho. É preciso fazer experimentações, sujeitas a erros e acertos, para conseguir encarar e solucionar desafios.

“A criatividade e a inovação são ferramentas para resolução de problemas. Nós precisamos ser e formar pessoas criativas que podem errar, que podem experimentar, que podem imaginar”, sugere. 

Emilly cita como exemplo as crianças do jardim de infância, que realmente são estimuladas a pensar fora da caixa. “No século 21, nós não jogamos essa caixa fora, a gente preenche com um novo repertório, conhecendo outras realidades e práticas, e trago isso para dentro da minha realidade na educação”, explica.

Planejamento estratégico em uma escola criativa

É preciso de um planejamento estratégico para que a escola consiga ser criativa. Emilly Dantas ressalta que é preciso entender a parte pedagógica, a parte da família, o marketing, os estudantes, enfim, todos os lados que minha escola possui, pois a gente só consegue melhorar aquilo que conhecemos.

Com esse raio X em mãos, é hora de traçar o planejamento. Para isso, pergunte-se:

  • Quais são os pilares da nossa escola? 
  • Quais são as palavras-chave que definem a nossa escola? 
  • Que cultura nós queremos construir ou reforçar? 
  • Como nós queremos ser lembrados? Quando tudo isso passar, como que a minha escola será lembrada? 
  • Como nós desejamos sair desse desafio? Melhores? Fortalecidos? 
  • Os alunos são fãs da escola? Falando bem da escola, tendo experiências incríveis dentro das possibilidades? 
  • Quais são as metas para os professores e eu como gestor? Metas para um ano, para cinco anos, para dez anos…
  • O que eu preciso fazer para melhorar esses processos? 

Faça um brainstorm e ouça toda a equipe e os estudantes para conseguir entender o que está indo bem na prática pedagógica e na instituição, e quais são os pontos de melhoria.

Valorização do professor 

A especialista Emilly Dantas ressalta a necessidade de valorização do professor, o que ela chama de “coração da escola”. 

“O professor no século 21 deixa de ser somente aquele que transmite conhecimentos para ser cada vez mais um designer de experiências de aprendizagem”, diz. 

Ela cita instituições nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália que contratam não mais professores, mas designers de experiências de aprendizagem.

No Brasil, o que Emilly percebe é que já existem escolas com estruturas 4.0, mas com aulas 1.0 e atividades 2.0, ou seja, mostrando que a tecnologia por si só não faz nada sozinha. “Eu preciso de professores bem formados e de uma cultura que dialogue com pessoas. A melhor tecnologia ainda é a interação humana, mesmo que mediada por máquinas, então, se a tecnologia nos dá as respostas, eu estou formando pessoas que farão boas perguntas?”, questiona.

Assista à palestra completa:

Como tornar sua escola mais criativa?