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E se você desse aos seus alunos a oportunidade de planejarem suas próprias trajetórias escolares? Para muitos, uma realidade distante, talvez até impossível, mas para Mildren Lopes, especialista em psicopedagogia e co-fundadora da Comunidade e Escola Maria Peregrina, o aprendizado se constrói em conjunto – alunos, família, escola e comunidade.

Situada em São José do Rio Preto, a Maria Peregrina adota uma proposta pedagógica baseada nas experiências e nos relatos das crianças e seus familiares; é o que chama-se de pedagogia de projetos. “O projeto que vem do aluno, o aluno que fala o que quer pesquisar e assim as aprendizagens surgem. E todo o currículo que nós temos que cumprir, daqui do nosso estado de São Paulo, entra dentro do projeto do aluno”, explica Mildren.

No trabalho com projetos, o aluno é inserido em grupo de pesquisa e então desenvolve projetos a partir do seu interesse, claro, com o apoio do corpo docente. Esse itinerário pode ser resumido em três fases:

  1. O orientador ajuda os alunos a identificarem o foco do projeto e as questões que precisam ser respondidas;
  2.  Os alunos realizam um trabalho de coleta de dados;
  3. O professor conduz e planeja uma atividade para que os alunos narrem em seguida.

Paralelamente, a inteligência múltipla de Gardner é estimulada na execução dos projetos. Por ser uma escola que nasceu da arte, como descreve a co-fundadora da Maria Peregrina, a todo momento trabalha-se com os alunos questões existenciais, contemplando também, de forma individualizada, as dimensões biopsicossocial e espiritual.

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Mas afinal, o que é inovar?

A Maria Peregrina é uma escola integral. Na parte da manhã, os alunos estão envolvidos em seus projetos e no período da tarde participam de atividades artísticas, esportivas e tecnológicas (música, teatro, judô, ballet, tecnologia da informação, etc.). Não há mensalidades, apenas doações, trabalho voluntário e muita colaboração. 

Para se adaptar ao ensino remoto imposto pela pandemia, algumas mudanças foram necessárias, por exemplo, a adoção do Google Classroom. Uma tecnologia à serviço da educação, mas que não substitui o que é humano, o afeto e o respeito pelo outro.

“A inovação se chama humanidade, inovação se chama vínculo. Humanidade, porque o computador, tecnologia, robótica é consequência, se não tiver humanidade, respeito pelo aluno, sua família e forma de aprender, esse computador, essa tecnologia […] vai ser mais um instrumento, mas não vai ter tanta eficácia. A humanidade é a inovação do século 21”, declara Mildren.

Quem também abraça a ideia de que o olhar humano deve anteceder a tecnologia é Flávio Lavorato, engenheiro e diretor administrativo no Colégio Parthenon. “Inovar é olhar para o cliente, para o aluno, para a comunidade, olhar para os processos internos e pensar o que podemos fazer de melhor? […] não precisamos criar o novo, precisamos olhar para aquilo que temos e fazer daquilo melhor, pensando sempre na perspectiva do cliente”.

Situado em Guarulhos, o Colégio Parthenon tem como missão ser uma escola formadora e acolhedora, comprometida com o ingresso dos alunos no mundo do conhecimento e do trabalho. Já são mais de 40 anos formando cidadãos íntegros e conscientes das suas responsabilidades socioambientais.

Inovar também é fortalecer vínculos

Para Flávio, o reconhecimento da comunidade escolar como unidade indissociável é determinante para lidar com os desafios da pandemia. Afinal, é essa mesma comunidade que faz parte da rotina escolar do aluno e, consequentemente, influencia na sua formação escolar e cidadã. 

“Nada é melhor que a comunicação clara e efetiva para nos aproximarmos dessa comunidade como um todo. Então, é necessário trazer essas pessoas (famílias, professores, coordenação e zeladoria, manutenção) para perto da escola e agora a gente precisa aproximar, acolher e ouvir essa comunidade como um todo”, comenta. 

Flávio ainda conta que identificou uma oportunidade de inovar para fortalecer, em especial, o vínculo com as famílias: ouvi-las! Questionários online foram a fim de capturar a percepção dos pais acerca das atitudes tomadas pelo colégio logo no início do confinamento, quando o ensino remoto emergencial foi adotado.

Com a devolutiva das famílias foi possível, por exemplo, identificar os pontos de melhoria e dar continuidade às ações exitosas. “Tudo isso foi muito importante, porque a gente aproximou a família e nos aproximamos delas, do mesmo jeito que enxergamos os medos das famílias, os anseios, as insatisfações ou até mesmo as satisfações das famílias, conseguimos mostrar para eles o real objetivo daquilo”.

A segunda ação desenvolvida no Parthenon foram os encontros com temáticas variadas, Flávio explica: “Percebemos logo nos primeiros meses, que a culpa por parte das família aumentou muito, eles não estavam dando conta de ajudar a escola nesse momento. Então, a gente fez um encontro para falar dessa culpa. Nós fizemos outro encontro para contar um pouco do currículo, antes, o pai nem sabia o que era um conceito estruturante”.

Já na Escola Maria Peregrina, a família é tão atuante quanto o aluno no processo de aprendizagem, exercendo uma participação efetiva e formativa. Para consumar essa união, Mildren relata que a família também é matriculada na escola e desenvolve projetos. 

“Muitas chegam em nós nesses momentos de encontro com a família “o projeto da minha família é que meu casamento está ruim, nós não queremos, mas também a gente não vê outra solução, precisamos de ajuda da escola”. Então, a escola vai desenvolver junto com essa família, junto com esse casal, o que vamos fazer para restaurar esse casamento?”.

Para finalizar, a co-fundadora da Maria Peregrina ressalta que propósito e inovação devem caminhar lado a lado. “Todos sabem da metodologia, as nossas famílias, nossos adultos, os pais, os avós, os tios, os responsáveis, sabem de inteligências múltiplas, avaliação contínua, pedagogia de projetos […] eles sabem disso, desenvolvem e aprovam isso conosco. Eu acredito que isso hoje é uma inovação para a escola brasileira”.

Assista à palestra completa:

Especial Bate Papo com Gestores Escolares:
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