O coordenador pedagógico é a peça central para o bom funcionamento de qualquer escola. Com as transformações que o ambiente escolar passou nos últimos anos, o papel desse profissional se tornou ainda mais necessário e complexo.
A principal atribuição de um coordenador pedagógico é ser o articulador dos professores, alunos e pais tanto na parte de convivência social como na pedagógica. Como essas relações se tornaram mais complexas após a pandemia, essa articulação ganhou ainda mais importância.
Portanto, atualmente, o coordenador teve de assumir um papel de mediador de conflitos.
Gerenciador emocional
A volta dos alunos às salas de aula, após meses de ensino remoto durante a pandemia, trouxe para as escolas uma série de dificuldades de convivência social e déficits de aprendizado. E é o coordenador pedagógico quem tem sido responsável por gerenciar esses novos conflitos e buscar soluções para eles.
“Há uma mudança no papel desse profissional no pós-pandemia, ele assumiu um papel de gerenciador emocional”, diz Maria Márcia Malavasi, professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em projeto político pedagógico.
“Ele precisa lidar com os conflitos trazidos pelas crianças depois desse tempo afastadas das escolas, fazer a gestão das famílias que estão muito apreensivas com o aprendizado dos filhos e incentivar e motivar os professores a lidar com esses novos desafios”, explica Malavasi.
Segundo a especialista, antes do período de isolamento, os coordenadores tinham uma função muito mais focada em clarear as linhas pedagógicas da escola e garantir o cumprimento do projeto pedagógico. Mas, agora, precisam priorizar ações para facilitar as relações intraescolares e gerenciar conflitos.
“Ele não deixou de fazer o que fazia em relação ao projeto pedagógico, mas ganhou uma nova atribuição. Essa nova função é muito mais voltada para o campo psicológico, social”, diz a professora.
Maior demanda para o coordenador pedagógico
Priscila Manetta, diretora do colégio Itatiaia, na Aclimação, região central de São Paulo, também avalia que a pandemia trouxe novas demandas para os coordenadores pedagógicos. Eles tiveram de estreitar a comunicação com as famílias e alunos.
“O coordenador sempre precisou responder às expectativas, dúvidas e anseios das famílias. Mas essa demanda se tornou muito maior e recorrente depois da pandemia, já que as famílias estão muito mais preocupadas com as dificuldades de relacionamento das crianças, de aprendizado e desenvolvimento.”
“Por isso, os coordenadores precisam buscar novas estratégias para se comunicar melhor com as famílias. Acalmá-las ou alertá-las quando forem necessárias intervenções entre os alunos”, diz Manetta.
Malavasi lembra que nenhum educador, incluindo os coordenadores pedagógicos, foram formados com conhecimentos necessários para lidar com as demandas surgidas durante a pandemia. Por isso, destaca que essas novas habilidades estão sendo desenvolvidas agora e na atuação prática.
“É um desafio muito grande para esse profissional que está absorvendo os impactos desastrosos da pandemia em todos os três segmentos da escola (alunos, família e professores) e procurando caminhos para amenizar esses efeitos. É um momento novo para qualquer coordenador.”
Adaptações pedagógicas
As educadoras destacam ainda que são os coordenadores que programam as atividades pedagógicas, por isso, estão à frente da reorganização dos currículos escolares após a pandemia. Ou seja, ajudam os professores a reorganizar o planejamento pedagógico pensando nos déficits de aprendizado dos alunos.
“Em um movimento inédito e que precisou ser feito de forma rápida, os coordenadores precisaram replanejar o conteúdo pedagógico para que, ao final de cada ciclo, os alunos tenham aprendido o necessário, o conteúdo básico para cada fase. Foi preciso lapidar os currículos e definir o que era indispensável”, diz Malavasi.
Essa nova função dos coordenadores destacou a importância de que esses profissionais estejam bem familiarizados com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o documento nacional norteador dos currículos, e com as práticas pedagógicas mais atuais.
O que é levado em conta na hora da contratação do coordenador pedagógico?
Para as educadoras, o fator de maior destaque para a contratação de um coordenador pedagógico é a experiência em sala de aula.
“É um cargo em que só a teoria não ajuda. É preciso ter experiência de sala de aula, de contato com os alunos. A vivência é que faz diferença para desenvolver um bom profissional, já que ele terá de atuar em várias frentes”, diz Manetta.
Por valorizar a vivência profissional, a maioria das escolas opta por contratar seus próprios professores para assumir os cargos de coordenação. “Ao promover alguém do próprio quadro, sabemos qual experiência possui, se está alinhada e familiarizada com nosso projeto pedagógico, com as famílias da nossa escola”, diz a diretora.
Além da experiência profissional, Manetta destaca também a importância do profissional ter uma boa formação contínua, tanto sobre sua área de atuação específica, como de gestão escolar.
“Sempre aconselhamos nossos profissionais a procurarem cursos de pós-graduação em neurociência ou psicopedagogia. São duas áreas do conhecimento que auxiliam muito na atuação do coordenador”, explica.
Características mais valorizadas
Diante de tantos e tão variados papéis exigidos na atuação dos coordenadores, as escolas elencam algumas características valorizadas na hora da contratação. A primeira delas é ter boa capacidade de gestão de pessoas, já que esse profissional será responsável por liderar e motivar os professores e alunos.
Para uma boa gestão de pessoas, é necessário que esse profissional tenha boa comunicação, empatia, capacidade de liderança, dinamismo, proatividade e resiliência.
*Matéria atualizada em 30/05/2022, às 20:20pm