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Ferramentas ampliam as possibilidades de ensino, facilitam a comunicação entre alunos e professores, permitem acesso a conteúdos vistos em aula a qualquer momento e ajudam a colocar em direção e responsáveis

A experiência de ensino em meio à pandemia da Covid-19 deixou clara a necessidade de projetos tecnológicos educacionais nas rotinas em sala de aula (ou diante do notebook, tablet ou smartphone em qualquer lugar, como boa parte desse tempo exigiu) e demais ambientes escolares. Não que a pauta já não estivesse presente sobre a mesa dos gestores antes do quadro de emergência sanitária, mas a virada de chave representada pelo período modificou de forma permanente a ideia de “quando?” para “como?”, já que a resposta para a primeira pergunta é “agora”.

Entre instituições consultadas pelo Escolas Exponenciais, que já se valeram dessa experiência nos últimos anos, o primeiro passo para migrar da ideia para a ação passa pela mudança de mentalidade dos profissionais envolvidos e de demonstrar para eles, inicialmente, os ganhos representados pela implementação. “A mudança de mindset dos professores, pais e alunos é um processo contínuo que exige formação, com muita colaboração entre equipe de liderança, docentes e equipe de tecnologia. Muitas vezes é necessária a reorganização de conteúdos e como estes serão abordados com os alunos”, afirma Douglas Vilela, coordenador de Tecnologia Educacional da Sphere International School, rede de escolas inovadoras, bilíngues e internacionais, parte do Grupo SEB.

“O mais difícil é mudar as concepções e a cultura de trabalho, não é só ter recursos. É um árduo trabalho de unir as ferramentas que ampliam as possibilidades junto do trabalho pedagógico. Trata-se de um estado permanente de reflexão. O professor olhar para o lado e perceber que a instituição está apoiando é a medida mais importante para o desenvolvimento de um programa de tecnologia”, complementa Carlos Lambert, coordenador geral do Ensino Fundamental do colégio Poliedro de São José dos Campos (SP) – a instituição também tem unidades em São Paulo (SP) e Campinas (SP).

Normalmente, são medidas que contribuem para ampliar a “duração” da aula, já que o compartilhamento do conteúdo em ferramentas online – aplicativos e redes sociais – viabiliza consultas e discussões além do período de exposição em classe, assim como para oferecer dinamismo e atratividade, e consequentemente reter a atenção do aluno por mais tempo, ampliar o interesse dele sobre temas específicos e evitar a evasão escolar. Além disso, o papel da escola serve como filtro para informações que já estão naturalmente ao alcance deles em uma busca simples na internet, assim como para conectar gestores e responsáveis.

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No caso do Poliedro, Carlos Lambert diz que a percepção de necessidade de investimento nesse campo vem de longa data, há mais de dez anos, e que a maneira de organizar essa pauta passou pela criação do Departamento de Tecnologia Educacional, marcada pela exigência na curadoria, como um braço de inovação da instituição, permitindo que ideias fossem experimentadas e validadas a partir dali, como uma espécie de laboratório.

Ele reforça o papel da formação dos professores, “mais importante do que entregar diretamente um dispositivo nas mãos do aluno”. “Vimos muitos programas, nesse tempo todo, de implementação de projetos tecnológicos educacionais, e sempre entendemos que o principal problema era ter como primeiro passo entregar tecnologia para o aluno, sendo que o professor ainda não estava devidamente habilitado. A ideia foi começar pelo professor e construir uma rede de apoio. O departamento o tempo todo esteve ombro a ombro com os professores no sentido do desenvolvimento da tecnologia”, pontua.

Douglas Vilela, da Sphere, conta que a instituição trabalha com duas grandes frentes de projetos tecnológicos educacionais: um relacionado ao aluno, enquanto protagonista das ações, e outro relacionado às famílias, enquanto corresponsáveis pelo processo de formação do estudante – uma plataforma de gestão pedagógica permite que os pais possam acessar as atividades realizadas pelos estudantes, ver suas notas entre outras funções, por exemplo.

“Sob o ponto de vista do aluno protagonista, utilizamos um rol de plataformas educacionais que complementam os estudos, no sentido de fornecer mecanismos de engajamento com atividades direcionadas pelos professores, desafios com participação nacional e internacional e também como sistema de acompanhamento de habilidades através de relatórios com estatísticas de uso, acertos e erros”, afirma o coordenador de Tecnologia Educacional.

Projetos tecnológicos educacionais na prática

Ao ser perguntado sobre cases de projetos tecnológicos educacionais da Sphere, Vilela lembra que “todas as tecnologias são um meio para resolver problemas atuais e conectados com o mundo”. Também observa, ao mencionar um processo de ampliação e formação para uso das plataformas de gestão de atividades pedagógicas em 2019, o alinhamento de professores, coordenadores e direção. “O processo de integração desta tecnologia foi feito com muito mais tenacidade e organização”.

“Nós temos a plataforma de leitura, Scholastic, as salas de aula virtuais do Google Classroom, e os equipamentos de Design, como a impressora 3D e a cortadora a laser. No Y8 os alunos estão usando o Arduino, uma plataforma de prototipagem open source de computação física, para construir um decibelímetro como parte de uma unit de Design. No Y9 estão usando a mesma plataforma para construir um sensor de temperatura, umidade, pressão, luminosidade, dentre outras funções”.

Douglas Vilela aponta o compartilhamento de recursos, como notebooks e tablets, como outro case interessante. “Criamos um sistema de agendamento prévio dos dispositivos da escola. Assim, os professores têm autonomia para reservar, retirar e devolver os dispositivos da unidade diante de sua demanda. Desta forma, isso cria uma organização do uso, minimiza o conflito através de uma agenda compartilhada entre os docentes e potencializa as atividades dos alunos com plataformas digitais”, argumenta.

Antes mesmo da pandemia, ferramentas para o ensino híbrido já eram usadas com foco nos alunos do 5º ao 9º ano. A partir do fechamento da escola para atividades presenciais, a sala de aula virtual foi estendida para todas as séries, desde a Educação Infantil. Os aplicativos de matemática,  leitura em inglês e português, e em outras áreas do conhecimento passaram a ser utilizados com mais foco na personalização do ensino, “uma vez que os alunos apresentaram diferentes graus de engajamento com as aulas à distância e, portanto, os desafios também eram bastante heterogêneos”, segundo o coordenador de Tecnologia Educacional da Sphere.

Lousa digital e caderno do aluno

O olhar do Poliedro para a tecnologia ao longo de mais de uma década, segundo Carlos Lambert, resultou na inclusão da lousa digital na rotina de ensino, além de aplicativos e programas, da sala digital, da utilização do ambiente Office 365 da Microsoft e do caderno do aluno, que garante acesso ao conteúdo elaborado pelo professor permanentemente. “Isso nos permitiu desenvolver junto aos professores novas tecnologias, sem que o professor tivesse, necessariamente, que fazer uma disrupção. Eles foram experimentando possibilidades paulatinamente, sem que a aula expositiva desaparecesse do cenário”.

O coordenador geral do Ensino Fundamental da unidade de São José dos Campos (SP) explica que a lousa digital dispensou o giz e o apagador dos materiais carregados pelos professores até as classes. “Eles já trazem a aula pronta e com acesso à internet, isso otimiza o tempo da aula. A implementação foi rápida e o primeiro passo do empoderamento do professor”. Entretanto, ele entende a criação do caderno do aluno como ainda mais importante. O projeto passou por pilotos em 2018 e 2019, até ser estabelecido em 2020.

“Hoje os nossos alunos têm todo o caderno, todas as anotações, as aulas dos professores, espaço colaborativo para projetos, tudo isso no ambiente do notebook dele. Isso é um poderoso instrumento de trabalho, porque nos permitiu desenvolver junto aos professores novas metodologias, em que o professor não tivesse necessariamente que ter atitudes disruptivas. Eles foram experimentando, pouco a pouco, novas metodologias. Aulas invertidas, fazer aula em estação, tudo isso foi sendo feito paulatinamente, sem que a aula expositiva desaparecesse do cenário”. 

Lambert complementa que o reflexo no desempenho dos estudantes, a partir da implementação dos projetos tecnológicos educacionais, foi especialmente visível nos anos finais do Ensino Fundamental, entre 11 e 14 anos. “Essa estrutura permitiu um desenvolvimento bastante significativo da aprendizagem, vemos isso pelos índices de reprovação, que são extremamente baixos. Esse projeto ajudou muito.”

Curadoria: entender qual é a demanda

O incentivo à inovação e à presença da tecnologia levam a uma ampla oferta de possibilidades no mercado levadas até o conhecimento das escolas. Além da criatividade para inserção de ferramentas, antes é importante procurar saber quais são as demandas internas, que podem partir dos alunos e dos professores, para então chegar a um resultado que insira todas as partes envolvidas no processo de ensino. Nesse aspecto, é importante que as instituições saibam fazer a curadoria.

Carlos Lambert, do Poliedro, volta a enaltecer o papel do Departamento de Tecnologia Educacional e do alinhamento com os demais envolvidos. “Hoje essa cultura já está mais sedimentada, tanto na equipe de pesquisa de aplicativos e programas, quanto nos próprios professores, que também demandam algumas ferramentas tecnológicas. Esse é o grosso do trabalho, é o trabalho feito diariamente no planejamento das aulas e na escolha de estratégias. Existe uma gama realmente muito grande de possibilidades. Você tem ferramentas para apresentação de conteúdo em sala de aula, para verificação de aprendizagem, para desenvolvimento de projetos”.

No caso da Sphere International School, Douglas Vilela afirma que a integração de qualquer plataforma de projetos tecnológicos educacionais passa por um rigoroso processo de alinhamento entre a plataforma e o currículo. “Posteriormente, é visto a capacidade desta tecnologia agregar resultados para os estudantes e proporcionar feedbacks aos professores e familiares. A plataforma deve entregar informações como atividades realizadas, minutos de acesso, qualidade do engajamento, entre outras informações que são necessárias para que haja evidência de que ela está sendo eficaz no processo de ensino-aprendizagem”.

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