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A pandemia prejudicou a saúde financeira de muitas instituições de ensino particulares, mas também esquentou o setor educacional, como mostram os dados do Censo Escolar 2022 com o aumento do número de matrículas, e a possibilidade de venda de uma escola. Por se tratar de um mercado ainda novo e em expansão é preciso tomar cuidados e conhecer o processo antes da negociação. 

“É um mercado muito aquecido. De um lado, muitas escolas pequenas que podem estar com a saúde financeira prejudicada. De outro, poucos investidores grandes que têm interesse em incorporar essas unidades”, explica Maurício Berbel, CEO da Alabama Consultoria Educacional

Apesar do aquecimento desse setor ainda ser considerado novo, estima-se que já tenham sido movimentados cerca de R$ 80 bilhões no país com essas aquisições. Houve também uma migração do interesse dos empresários da área: se antes, as grandes negociações ocorriam no ensino superior, agora, foram para a educação básica. 

“É um negócio que dá resultado por um prazo mais longo e tem também maior previsibilidade. Na faculdade, o aluno fica por quatro anos. Na escola, são 14 anos. É mais estável também porque são os pais que pagam a mensalidade, ou seja, têm uma renda mais estável do que um jovem”, explica. 

 

Venda de uma escola: tamanho das unidades 

Além de um investimento mais seguro e duradouro, os investidores também encontraram um mercado farto para trabalhar. Segundo dados do Censo Escolar, o Brasil tem cerca de 40.000 escolas particulares, com cerca de 8 milhões de estudantes. Sendo que a maioria delas, mais de 80% são de pequeno porte, ou seja, tem menos de 250 alunos. 

“Antes, os grandes grupos buscavam comprar escolas grandes, com mais de mil alunos, que tinham um nome forte. Agora, eles estão indo atrás das menores por entender que elas são uma boa forma de expansão da marca”, diz Berbel.

Por conta do aumento da procura dos investidores pelas escolas, Berbel diz que os donos precisam se atentar às propostas oferecidas ao pensar na venda de uma escola.

Segundo ele, atualmente, há dois principais tipos de pessoas interessadas em vender escolas: aqueles que enfrentam dificuldades financeiras ou quem administra uma unidade familiar e não tem quem possa dar continuidade ao negócio. 

“A venda pode ser uma boa alternativa tanto para aquelas escolas que estão precisando de uma injeção de capital ou para os donos que começam a pensar na sucessão da administração, que querem se aposentar de forma mais tranquila”, diz. 

 

Ajuda especializada para a venda de uma escola

Para Berbel, a primeira dica para quem pensa na venda de uma escola é procurar ajuda especializada no assunto para evitar prejuízos. Por falta de informação, alguns donos acabam recorrendo a corretores de imóveis e acabam prejudicando ainda mais os negócios. 

“O cuidado e o sigilo na hora da venda são muito importantes e o corretor trabalha com uma estratégia oposta. Ele é um profissional que divulga, promove publicamente a venda. Isso traz muita insegurança para os pais dos alunos que podem acabar por tirar os filhos da escola, criando uma situação ainda pior”, conta. 

Os donos podem procurar diretamente os grandes grupos educacionais ou então contratar consultorias especializadas em gestão escolar para auxiliar nesse processo. 

 

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Pré-avaliação e tese de venda

Segundo Berbel, consultorias especializadas ajudam as escolas a entender o valor do negócio que têm em mãos para negociar. A pré-avaliação, por exemplo, leva em conta o número de alunos, valor da mensalidade, número de funcionários, possíveis dívidas, etc. 

“É importante também que as escolas assinem um termo de confidencialidade, especificando quais são as informações confidenciais e como guardá-las. Isso evitar que elas se prejudiquem com as famílias e alunos durante a negociação.”

 

Avaliação técnica

Depois de montar o plano de venda, as consultorias começam a buscar investidores que busquem negócios com o perfil da escola a ser vendida. “Nesse momento, nós já calculamos o valor da escola e vamos atrás do grupo que pode fazer uma boa oferta para ela.”

Nessa fase, os donos da escola assinam também um termo que autoriza a consultoria a buscar investidores. Esse documento prevê valores, comissionamento, prazos.

 

Auditoria e contrato 

Ao encontrar o investidor e uma proposta interessante, se inicia de fato o processo da venda. Para que o contrato seja finalizado, é preciso antes ser feita uma auditoria que visa, além de confirmar as informações sobre faturamento e gastos da escola, identificar riscos do negócio e contingências a serem consideradas nas negociações. 

Quando as informações colocadas na avaliação inicial não correspondem à realidade, se os negócios são geridos com muita exposição a riscos (fiscais e trabalhistas, por exemplo), essas questões são apontadas na auditoria e podem comprometer o avanço das negociações.

Após a auditoria, são acertados detalhes finais, por exemplo, passivos (como dívidas trabalhistas) que a escola terá de arcar após a venda. É nessa fase também que são definidos prazos, valores, formas de garantias para as partes, situações previstas e seus encaminhamentos e, também, maneiras de gerenciar e encaminhar os casos omissos no contrato. É importante a assessoria jurídica especializada para cumprir bem esta etapa final do processo.


Comunicação com as famílias e funcionários

Segundo Berbel, é só após a assinatura do contrato de venda de uma escola e com todos os detalhes acertados, que se deve comunicar a comunidade escolar. “Não tem porque falar sobre isso antes de ter certeza de que a venda vai se concretizar.”

“Ao saber exatamente como se dará a venda e em quais termos, por exemplo, se o quadro de professores ficará inalterado, se o diretor continua atuando na escola, é que se pode tranquilizar pais, alunos e funcionários.”

 

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