Gestão Escolar: conheça os principais conceitos e métodos
Ano letivo novo, hora de estar atento ao colocar em prática o que foi escolhido de melhor para seus alunos, famílias e também para seu corpo docente e staff em geral. Hora de focar naquela palavra tão importante do vocabulário escolar: gestão.
Gerir uma escola não é somente administrar uma escola. É bem mais do que definir orçamentos, otimizar fluxos, controlar processos, organizar calendários e bater metas. Fazer uma boa gestão escolar é garantir um bom ensino e a sustentabilidade da instituição, levando em consideração o aspecto humano, com base na máxima de que somente os recursos materiais não garantem a qualidade de uma escola. Isso porque, enquanto a “administração escolar” envolve a ideia de “controle de processos”, a “gestão” leva também em consideração o aspecto humano, aparecendo com uma nova abordagem no gerenciamento das escolas.
Confira também:
Gestão Escolar Democrática: uma realidade possível?
Cada vez mais a gestão escolar está centrada nas pessoas, fazendo cada vez mais uso de modelos modernos e democráticos, com decisões que envolvem toda a comunidade escolar, embora existam ainda muitas instituições que preferem o modelo tradicional, concentrado nas decisões do diretor ou mantenedor.
Mas entre o preto e o branco, existem tons de cinza, assim como existem muitos modelos de gestão, diante da diversidade também diferentes tipos de escola, seja por proposta pedagógica, tamanho, localização, propósito. E não existe um único modelo de gestão que seja ideal para todos.
Os dois principais modelos de gestão escolar:
Entre muitos modelos de gestão escolar, dois se destacam e sintetizam todos os outros: a gestão centralizada, também chamada de burocrática, e a gestão descentralizada e participativa, também conhecida como gestão democrática.
1) Gestão burocrática e administração centralizada
Neste modelo, a diretoria trabalha com total autonomia para tomar decisões, sem participá-las a outras pessoas envolvidas na comunidade escolar. É um modelo hierarquizado, com cargos e funções bem especificados, sempre com orientação do diretor, que assume a responsabilidade de supervisionar todas as tarefas executadas. Nesta gestão, a comunicação geralmente é verticalizada, com grande ênfase no resultado – e não tanto nas relações interpessoais. Algumas escolas que exercem uma gestão clássica já começaram a mudar o modelo e a investir em decisões compartilhadas com seus coordenadores e outros colaboradores.
“O processo de decisão envolve alguns elementos, como a qualidade das pessoas envolvidas, a qualidade das informações obtidas e do processo decisório em si. Nesse sentido, fica fácil perceber que a decisão mais centralizada acaba sendo limitadora, pela capacidade de uma só pessoa analisar uma grande quantidade de informações e pela capacidade de tomar decisões a partir dessas informações. Então, talvez a única vantagem da centralização seja a agilidade, conseguir tomar decisões mais rápidas, uma vez que depende de uma só pessoa. E essa vantagem às vezes é crucial”, explica Maurício Berbel, cofundador da Alabama Consultoria Educacional. A Alabama atua exclusivamente no segmento de educação, prestando serviços de consultoria em gestão estratégica para escolas de todo o Brasil.
“Numa instituição em que há uma cultura de descentralização do poder, o que se tem são decisões tomadas sobre um volume mais amplo de informações, vários pontos de vista e, se esse processo for bem feito, isso eleva a qualidade das decisões. Mas muitas vezes isso gera o risco de um atraso nas entregas”, completa Maurício, Mestre em Administração de Empresas pela USP, professor, consultor e autor de livros.
2) Gestão participativa ou gestão democrática
Este tipo de gestão tem como base a tendência internacional de descentralizar a gestão escolar, priorizando a participação de toda a comunidade escolar na tomada de decisões, na programação de objetivos, na implementação de atividades. Ou seja, envolvendo, gestores, coordenadores, professores, funcionários, alunos e pais.
Confira também:
Gestão participativa: como esse modelo pode ajudar as instituições de ensino
Um grande desafio da gestão democrática, como afirmou Maurício acima, é que relações mais horizontais costumam gerar processos mais demorados, pois envolvem articular muitas opiniões diferentes sobre cada tema. Chegar a definições de forma dinâmica e ágil é sempre um desafio. Val lembrar que existem saídas para isso, como criar cronogramas para o planejamento de ações, determinando datas limite para a tomada de decisões.
Outra dificuldade é conseguir o engajamento de todos, inclusive de pais de alunos. Outro problema que vem sendo combatido, por exemplo, com o uso de aplicativos de comunicação escolar, como o Classapp. Os apps de comunicação aumentam o envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, o que acaba gerando benefícios para todos. No caso de escolas descentralizadoras, nas quais os pais de alunos participam do processo decisório, eles tendem a ficar mais atentos ao desempenho de seus filhos e a ter maior participação no dia a dia da vida escolar.
Os alunos, por sua vez, quando são ouvidos por gestores, se tornam mais engajados também durante as aulas. Já os professores e coordenadores pedagógicos se sentem mais valorizados e apresentam melhores resultados ao serem ouvidos no processo de tomada de decisões. Sem falar que a gestão democrática promove a divisão de responsabilidades e ameniza pressões, melhorando o ambiente de trabalho. Na gestão democrática, todos têm voz ativa e são agentes protagonistas na tomada de decisões.
“O que é interessante ressaltar aqui é diferenciar a responsabilidade do decisor do envolvimento de outras pessoas na decisão dele. Sempre que um diretor de escola delega uma decisão, ele delega autoridade, por exemplo, para um coordenador pedagógico agir em seu nome. Mas o diretor continua com a responsabilidade do todo. E isso tem que ficar claro em organizações mais descentralizadas, para que não surjam aquelas frases: “perguntou o que eu achava, mas decidiu diferente.” Essa é uma reclamação também muito comum entre alunos. Nem sempre trazer participantes para o processo decisório significa transferir a eles a tomada de decisão, o que se pede é colaboração, o que é muito importante e construtivo. Mas que também exige maturidade de todo o grupo”, diz Maurício.
“Outro ponto interessante é notar que as gerações mais novas são mais colaborativas, mais descentralizadoras do que as pessoas das gerações mais velhas. As pessoas que fazem parte da geração X, os baby boomers, são mais competitivas, mais centralizadoras.”
Maurício conta que trabalha prestando consultoria para muitas escolas familiares e que a hora de organizar o processo sucessório, de os pais passarem o bastão para os filhos, é a hora em que se inaugura um processo de descentralização do poder e que enriquece muito a cultura da empresa. “Os filhos, genros, noras, chegam com a ideia de grupos de trabalho com focos específicos, comitês, reuniões para decisões e trazem um novo estilo de gestão para aquela organização.”
Segundo o consultor, o melhor dos mundos é uma gestão equilibrada:
“O ideal é quando as decisões são tomadas na velocidade das demandas, principalmente em tempos turbulentos, incorporando a qualidade da participação de todos. Isso é o que a gente tenta construir de geração a geração nas escolas que estão em transformação constante.”
Se quiser conhecer uma dinâmica de grupo superinteressante para gestores em cursos de MBA, ouça, a seguir, uma parte da entrevista do Escolas Exponenciais com Maurício Berbel.
Conheça ainda os pilares nos quais estão apoiados os modelos de gestão:
- Gestão pedagógica: aquela que articula estratégias, métodos e conteúdo educacional, otimizando os processos pedagógicos a fim de melhorar a qualidade do ensino.
- Gestão administrativa: que visa otimizar os recursos materiais e financeiros da instituição de ensino, ou seja, administrar os bens patrimoniais como imóvel, móveis, materiais;
- Gestão financeira: tem o objetivo de otimizar o orçamento, organizando de forma eficiente o fluxo de caixa da escola, mantendo gastos e receita controlados e equilibrados.
- Gestão jurídica: trata das normas que regulam o setor de educação e contratos de forma geral.
- Gestão de recursos humanos: potencializando cada indivíduo de forma a melhorar sempre a performance geral da escola, mantendo engajamento do staff, formação continuada de profissionais, boas ferramentas de trabalho, espírito de equipe, mantendo a instituição atrativa ao mercado e a novos talentos.
- Gestão de comunicação: a gestão encarregada de manter um diálogo eficiente com os colaboradores, pais e alunos.
- Gestão de tempo e eficiência de processos: conferir com regularidade a eficiência de processos, se perguntando com frequência se as tarefas que estão sendo realizadas poderiam ser feitas de forma diferente e melhor.
Confira também:
Gestão escolar: seus desafios e como resolvê-los