Alunos com altas habilidades e superdotação: qual é o papel da escola?
Apesar de não existir um número oficial, estima-se que cerca de 10% da população mundial é considerada “superdotada”, ou seja, pessoas que têm alta habilidade em pelo menos uma área das inteligências. Altas habilidades e superdotação (AH/SD) se caracterizam pela elevada potencialidade de aptidões, evidenciadas no alto desempenho escolar.
E quanto mais cedo essa pessoa for diagnosticada, melhor! “Segundo a OMS, qualquer população tem 5% de pessoas com altas habilidades cognitivas, e de 12 a 15% de pessoas com altas habilidades em outras áreas (artes, música, corporal ou cognitivas específicas). Se a gente ficar no meio, em 10%, em uma escola que tem 100 crianças, vamos encontrar 10 superdotados. Em um estado como São Paulo, que tem 40 milhões de habitantes, são 4 milhões de superdotados. Onde se encontram essas pessoas?”
Quem levanta o tema é Ada Cristina Toscanini, presidente da Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação (APAHSD), uma organização não governamental fundada em 2005, para promover políticas de orientação e atendimento a pessoas com altas habilidades.
“Nós começamos a avaliar crianças aos 4 anos e vamos até os 12 anos. Depois disso, as pessoas começam a ter problemas maiores, pois passaram muito tempo de suas vidas sendo podadas e lidando com muitas frustrações. Nesse caso, provavelmente vão precisar de ajuda psicológica, neurológica ou psiquiátrica dependendo do perfil de cada uma e de como ela conseguiu se adaptar ao ambiente que frequenta”, afirma.
A associação dá cursos e palestras para pessoas do ramo da educação, orienta famílias, faz diagnósticos por meio de testes psicológicos e pedagógicos e oferece terapias específicas para quem precisa, com trabalhos semanais para que as crianças assumam sua identidade e se relacionem melhor com os outros.
Segundo Ada Cristina, é fundamental que professores e gestores estejam atentos aos sinais dados pelas crianças que apresentam comportamentos diferenciados e encaminhe a família a procurar ajuda de um especialista.
“A escola não pode diagnosticar (alta habilidade não é doença). Se uma criança apresenta um comportamento diferenciado, é um profissional da área de AH/SD que pode detectar a alta habilidade”, explica.
Há diferença entre altas habilidades e superdotação?
Ada Cristina Toscanini diz que existe um mito de que a superdotação é global, ou seja, que as pessoas são superdotadas em tudo.
“A superdotação não é global, se dá por áreas. Por exemplo, a criança pode ter alta habilidade só em uma ou várias inteligências, por isso se deixou de usar o termo superdotação para se falar em altas habilidades”, ressalta.
A dificuldade da detecção
Para a presidente da APAHSD, existe uma grande dificuldade nas escolas para detectar crianças com altas habilidades e superdotação, que muitas vezes são confundidas com crianças hiperativas, com déficit de atenção, distúrbio comportamental, distúrbio desafiador opositor, bipolaridade e autismo.
“Muitas vezes só chama a atenção da escola a criança que apresenta problema. Quando a criança se desenvolve rapidamente, não há preocupação, tudo o que se diz é que elas aprendem rapidamente e que não é preciso fazer nada. Isso é um erro, tem muito o que se fazer. Essas crianças têm necessidades especiais”, pontua.
De acordo com Ada Cristina, alunos com altas habilidades têm demandas especiais que precisam ser atendidas e tratadas de forma diferenciada. E a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação de 2012, foi muito importante para assegurar o direito à educação especial.
Ela explica que professores e gestores devem estar por dentro do assunto, para saber quais são as crianças que precisam ser encaminhadas a um profissional especializado. “Se os professores não estão bem inteirados do que são altas habilidades e de quais são as características das crianças, fica muito difícil de detectá-las.”
Uma das características é ser seletivo e ter poucos amigos com os mesmos interesses e objetivos, motivo pelo qual podem ter dificuldades em encontrar um grupo ao qual pertencer.
“Devemos ter em conta que essas crianças aprendem rapidamente na escola e se negam a fazer exercícios de fixação em casa, por isso, as tarefas precisam ser diferenciadas e desafiadoras, deve ter enriquecimento curricular na área onde apresenta a alta habilidade (o que não significa adiantar matéria e sim aprofundar o que está sendo dado)”, afirma.
Quando se trata de crianças que não têm habilidades cognitivas, mas sim, artísticas, musicais, corporais, são ainda menos reconhecidas, sendo que apresentam as mesmas características.
Ada Cristina explica que não existe uma instituição de ensino que faça um trabalho específico para essas crianças. O que há no mercado educacional são escolas com conteúdo mais elaborado, para que essas crianças se sintam melhor.
“Escolas tradicionais e apostiladas não são as melhores escolas para essas crianças, pois a educação se torna maçante, entediante”, orienta.
Altas habilidades e superdotação: um tema novo a ser trabalhado e discutido
Ada Cristina explica que os estudos sobre altas habilidades acontecem a partir de 1980 com o surgimento da Teoria das Inteligências Múltiplas, e no Brasil, somente em 2007 começaram a ser detectadas as crianças com altas habilidades nas diferentes inteligências.
“Tudo é muito recente. Há um tempo, o que determinava se uma pessoa era superdotada era o teste de QI, mas esse tipo de teste não detecta todo tipo de habilidade.”
Ela explica que o teste de QI não consegue avaliar áreas como música, artes, corporal, e como já explicado anteriormente, em áreas cognitivas específicas.
Conheça 15 características de alunos com altas habilidades e superdotação
- Aprende fácil e rapidamente em determinadas áreas específicas
- É original, imaginativo, criativo e não convencional
- Está sempre bem informado, inclusive em áreas não comuns
- Pensa de forma incomum para resolver problemas
- Tem uma personalidade persuasiva, manipuladora e tem ampla capacidade de influenciar os outros
- Mostra senso comum e não tolera tolices
- É inquisitivo e cético, está sempre curioso sobre o como e o porquê das coisas, é frequentemente argumentativo e gosta de realizar pesquisas
- Trabalha de forma independente, preferindo realizar tarefas de forma individual
- Mostra percepções incomuns
- Resiste a rotina e a repetição
- Apresenta vocabulário avançado e tem facilidade para se expressar
- Mostra grande interesse por temas abordados por adultos
- É muitas vezes perfeccionista
- Apresenta forte senso crítico
- Tem comportamento desafiador
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