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Você já parou para pensar que a arte na educação infantil é uma das primeiras possibilidades de expressão de um indivíduo? Por isso, proporcionar o contato com essa manifestação ainda na primeira infância é algo fundamental. Afinal, a importância da arte para a formação da criança está atrelada ao desenvolvimento da linguagem, da capacidade de interpretação, da criatividade e até mesmo do saber lidar com as próprias emoções

 


 
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As garatujas, que são os primeiros rabiscos de uma criança, ganham complexidade conforme os pequenos crescem. Aos poucos os traços se modificam e, então, chega-se ao desenho. E não importa se é com lápis, giz de cera, tinta, hidrocor ou caneta. Também tanto faz se é em uma folha sulfite, cartolina ou na lousa. O fato é que desenhar impulsiona o desenvolvimento de habilidades cognitivas e de expressão, além da coordenação motora 

Mais tarde, o desenho evolui para a construção das letras e, então, para o aprendizado da alfabetização. A educação literária, por exemplo, será responsável por possibilitar riqueza no vocabulário e a estruturação do pensamento. 

Entretanto, vale lembrar que o ensino da arte na educação infantil não deve ficar restrita apenas a expressão artística visual. Afinal, a criança deve ter um amplo repertório artístico na sua formação para que, no futuro, compreenda melhor o mundo e saiba se expressar com mais facilidade.

O teatro, o cinema, a dança e a música são exemplos de manifestações que devem ser incorporadas no dia a dia da escola. Enquanto o teatro e o cinema desenvolvem a comunicação, o vocabulário, o sonoro, o visual e o gestual; a dança amplia a percepção do corpo e desenvolve ritmo e movimento, assim como a música.

Infográfico: os benefícios da arte na educação infantil: ampliação do vocabulário, melhora na capacidade de expressão.

 

Objetivos da arte na educação infantil

A linguagem da arte envolve aspectos importantes ao desenvolvimento das crianças. Segundo a escritora Maria Helena Webster, autora do livro “Práticas Comentadas para Inspirar”, da Editora do Brasil, é por meio da arte que a criança aprende a ter autoconhecimento.

“A criança pequena com acesso às artes e as manifestações culturais na educação infantil aprende sobre si mesma, seu corpo, sobre os outros e sobre a sua cultura. Nas atividades com as artes visuais, a música e a corporeidade, as crianças expressam suas ideias, sentidos e sentimentos, o que é importante ao longo de toda sua vida”, afirma.

Para a arte-educadora Gabriela Pyles Barcellos, a arte é fundamental para estimular a criatividade. “Trabalhar com arte na educação infantil é imaginar uma sementinha que está sendo plantada naquela criança. A gente não consegue ver aonde vai chegar, mas sabe que vai ajudar para que, no futuro, seja uma pessoa mais criativa”, exemplifica. 

A profissional ainda ressalta que um dos objetivos da arte na educação infantil é possibilitar que os alunos tenham maior sensibilidade. “A criança que tem a sensibilidade mais aflorada se desenvolve melhor em todas as áreas da vida, porque ela consegue ter uma percepção melhor da realidade. Ela tem uma percepção mais transparente, sabe explorar as coisas com um pouco mais de riqueza, com atenção nos detalhes. Ela repara no mundo ao redor dela de forma mais sensibilizada”, pontua.

Já a mestre em psicologia da educação e doutora em antropologia visual Regiane Rossi Hilkner, ressalta que no processo de vivência artística, a criança é convidada a criar e não ser apenas uma espectadora passiva da arte alheia. “Assim, o ato de criar deve ser estimulado desde a educação infantil e preservado ao longo da vida, pois é fundamental ao desenvolvimento global do ser humano, principalmente nas primeiras apropriações, uma vez que no processo de criação, incentiva-se à imaginação”, completa. 

Entre os benefícios do aprendizado da arte, a educadora cita a prática da leitura, que proporciona às crianças experiências narrativas, riqueza de vocabulário, estruturação de pensamento, desenvolvimento da linguagem oral e escrita. 

“É importante ressaltar que, uma vez que a criança tenha acesso à estética e às artes, ela terá maior facilidade de disseminar as manifestações artísticas que ocorrem no seu cotidiano. E, assim, ao chegar à idade adulta, terá um bom repertório de arte, facilitando a compreensão e aprofundamento de seu olhar sobre o mundo e as pessoas, com nuances mais criativas e sensíveis sobre a realidade que o cercará e a causa humana”, enfatiza. 

 

Como trabalhar artes na educação infantil

Para a escritora Maria Helena Webster, autora do livro “Práticas Comentadas para Inspirar”, da Editora do Brasil, a arte na educação infantil é o principal meio de trabalho pedagógico. “Às experimentações artísticas garantem a aprendizagem em todas as áreas do conhecimento apontadas no currículo da educação infantil. Pode-se propor pesquisa corporal, gráfica, oral, textual, científica e matemática, partindo-se das experimentações artísticas”, afirma.

Entre as atividades artísticas para sala de aula, uma dica da mestre em psicologia da educação e doutora em antropologia visual Regiane Rossi Hilkner é utilizar a arte literária por meio da leitura de livros pela professora e/ou alunos. “É interessante fazer rodinhas de conversas informais sobre determinado livro lido ou outras histórias que gostam, porque gostam e o que aprendem com elas. Faça apresentação de um livro somente com a ilustração para que as crianças, a partir da arte visual, criem a própria história. Da mesma forma, apresente somente a história para que os alunos a ilustrem. A reprodução coletiva de uma história também é um recurso muito interessante”, exemplifica.

Como trazer à prática

A Escola da Vila, de São Paulo, por exemplo, realiza um evento cultural bienal voltado à divulgação da produção literária da escola, que é a ‘Vila Literária’. A atividade visa incentivar a leitura e escrita. Na ocasião, ocorre ainda feira de troca de livros, exposições de cartazes com poesias, contação de história, além da participação de autores e ilustradores de livros. Entre os valores propostos pela instituição, está a busca pela autonomia, cooperação e conhecimento dos alunos. 

Já os planos de aula de arte da profissional Gabriela Pyles Barcellos, que atua como arte-educadora no Núcleo de Educação Integrada da Fundação Romi, em Santa Bárbara d’Oeste (SP), também buscam o protagonismo do aluno. De acordo com a educadora, a escola tem ensino híbrido e possui como objetivo tornar o aluno autor do próprio processo de aprendizagem, sendo o professor apenas o mediador dessa etapa.

 

Saiba mais sobre o papel do professor diante das novas tecnologias no processo educativo

 

Sendo assim, Gabriela permite que os alunos participem da elaboração e realização de toda a aula. “As aulas de artes quase sempre partem de alguma pergunta que eu faço, uma problemática que eles tenham que resolver de maneira artística. Pode ser relacionado a algum artista que estamos estudando, algo que tenha contexto com a vida deles, contexto com a cidade ou algum tema que eu trago e eles vão me dando ideias de como trabalhar. Ou ao contrário, eles trazem algum tema e eu vou dando direcionamento de como podemos trabalhar dentro do campo das artes”, exemplifica.

Por meio dessa iniciativa, as crianças são constantemente estimuladas a usar a criatividade, além de desenvolverem a autonomia. “Sempre contextualizo sobre o motivo de fazer aquela atividade. Se vamos fazer um arco-íris, eu vou explicar o motivo. Ou vamos lá fora, ver o tempo ou, então, porque a professora deles falou sobre o tempo na sala e, por isso, estou trazendo essa ideia para a sala de arte”, acrescenta. 

E para que os educadores possam desenvolver cada vez melhor o trabalho de artes na educação infantil, a dica dos especialistas é buscar sempre atualização. “A educação continuada é importante a todo profissional, independentemente de sua área de atuação. Aos educadores é imprescindível, pois trabalham no contato direto e próximo com o ser humano em formação. Na área das artes, aconselho aos professores buscarem instituições, materiais bibliográficos e pesquisas reconhecidas e que, com seriedade, apresentem a relevância da arte e da necessidade de uma alfabetização estética que deve começar antes da alfabetização da escrita”, orienta Regiane.

Inclusive, a atualização, capacitação e formação para os colaboradores faz parte de uma estratégia para atrair e motivar talentos na área educacional que você, gestor escolar, pode conferir.