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Arte é expressão. Por que, então, a arte na escola muitas vezes ainda se limita a atividades conteudistas e apostilas, mantendo a prática do ensino tradicional?

Para auxiliar diretores de escolas e equipes pedagógicas nessa busca por novos processos de aprendizagem, veja abaixo 5 formas para inspirar e ensinar artes aos alunos da educação básica. 

1- Busque o que interessa ao aluno

“É muito comum que as escolas sigam um planejamento anual, feito com base em uma apostila. Esse formato ignora o que atrai o interesse dos alunos. É preciso entender o que aquela turma gosta, o que desperta sua atenção”, diz Ana Tatit, mestre em Artes Plásticas e professora do Instituto Singularidades.

O ensino de artes na educação básica é fundamental para o desenvolvimento de habilidades, tais como criatividade e comunicação, e para o reconhecimento de aptidões. No entanto, para que isso ocorra, é importante que os estilos e formatos de arte apresentados aos alunos, dialoguem com sua realidade.

Entender o que desperta o interesse do estudante significa levar em conta tanto a sua faixa etária, como o seu contexto social. “Grafite é arte. Funk e rap são arte, assim como outras formas de expressão artística. Elas devem estar na escola até mais que as outras porque muitas vezes estão até mais presentes no cotidiano do aluno”, diz Tatit.

2- Não foque apenas nos clássicos

Eles não precisam ficar de fora, mas as aulas não devem ser apenas sobre os artistas mais renomados como Picasso, Monet ou Michelangelo

“A temática retratada por esses artistas não faz parte do mundo das crianças. É preciso primeiro entender o que desperta o interesse dos alunos, para depois introduzir esses clássicos. Do contrário, não faz sentido a eles”, diz Tatit.

Na escola Eliezer Max, no Rio de Janeiro, os professores elegeram a Semana de Arte Moderna de 1922 como tema inspirador para o ano. Para que os alunos não tivessem contato apenas com os artistas mais conhecidos e renomados, os docentes passaram a trabalhar os nomes que estavam em um movimento paralelo, produzindo uma arte hoje considerada mais “brasileira” do que a dos modernistas. 

“O Museu de Arte Moderna do Rio fez um curso de formação para professores mostrando quem eram esses artistas que ficaram à margem da Semana de Arte. Era o nascimento do movimento negro, isso despertou muito mais o interesse dos alunos do que só falar de Abaporu [uma das principais obras de Tarsila do Amaral e símbolo do movimento modernista]”, conta Thelma Polon, diretora da escola. 

3- Ensinar arte na escola não é reproduzir

Para as duas educadoras, as atividades no ensino de artes devem permitir e incentivar que as crianças encontrem suas próprias formas de expressão. Elas não devem simplesmente copiar quadros ou pintar obras que foram impressas. 

“A repetição e a reprodução não dão espaço para a criatividade. Ao propor atividades dessa forma, o professor pede para o aluno abrir mão da sua própria forma de expressão. Técnicas e movimentos artísticos podem e devem ser apresentados, mas não são a finalidade do ensino de artes”, diz Tatit.

Ela propõe que as atividades estimulem os alunos a expressarem seus sentimentos, histórias e cultura de forma livre. É possível apresentar referenciais a eles, mas sem exigir que eles os reproduzam.

4- Lembre das demais formas de arte

Em geral, o ensino de arte na escola é focado apenas na sua manifestação visual, ou seja, pinturas, quadros, esculturas, retratos. As educadoras destacam que essa é uma visão limitada de todas as possibilidades de expressão artística. 

Música, dança, teatro também devem ser exploradas como formas de arte. “Sei que muitas vezes essas expressões aparecem em outras atividades, mas, em geral, em atividades extracurriculares. É importante que os jovens vejam essas modalidades também como arte”, diz Tatit. 

5- Estimule a expressão

Para Polon, quando os jovens sentem que as expressões artísticas que os tocam, são respeitadas pelos professores, eles ficam mais à vontade para criar e se manifestar.

“Eles passam a olhar para o mundo de forma diferente, se sentem confortáveis em ter sua própria linguagem e assim se expressam com mais facilidade. Desde que passamos a nos atentar mais para o ensino de artes, nossos alunos têm tido notas mais altas na redação do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, conta a diretora.

Segundo ela, a melhora no desempenho não é reflexo apenas do aprimoramento da técnica de escrita, mas consequência das aulas de artes, onde os alunos desenvolvem opinião própria, ganham repertório e, principalmente, passam a se sentir mais confiantes a se expressar.

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