Como as escolas ao redor do mundo têm lidado com a suspensão das aulas?
Segundo a Unesco, 1,5 bilhão de alunos de 188 países está longe das salas de aula tradicional, desde que foram adotadas medidas de isolamento social em combate ao coronavírus. Esse número representa cerca de 89,5% de toda a população estudantil do mundo.
No Brasil, todos os Estados decidiram suspender as aulas em instituições públicas e privadas, oficialmente, desde de 23 de março, para os cerca de 48 milhões de alunos brasileiros matriculados do ensino fundamental ao superior.
Já na China, desde que eclodiu a pandemia, as escolas foram fechadas e rapidamente colocou-se em prática um esquema de educação remota, por meio de sessões de tutoria online e aulas transmitidas por canais estatais de TV- estratégias adotadas para os cerca de 240 milhões de crianças e jovens chineses do ensino fundamental ao superior. Nos Estados Unidos são 76 milhões estudantes em casa, mas não há um formato único para educação à distância que, na maioria dos estados, deve durar até o final do ano letivo americano (maio/junho).
Em conversa com o Escolas Exponenciais, famílias ao redor do mundo contam como as instituições de ensino tem se organizado para o ensino fora da sala de aula.
A educação na Europa em tempos de pandemia
A visual merchandising Natália Dutra Marques, de 31 anos, que mora em Lisboa, conta que o governo português suspendeu as aulas, por meio de decreto, desde o dia 16 de março. A medida foi adotada desde as creches até as universidades. Agora, o ano letivo continua por meio de aulas online.
“Existe uma plataforma onde o professor entra online com os alunos da turma no horário normal que seriam as aulas na escola e, assim, consegue dar as explicações da aula. Depois, ao invés de provas para avaliar, o professor envia trabalhos para serem feitos pelos alunos com prazo de entrega. Normalmente, tem que entregar no mesmo dia”, explica.
Já o filho de Natália, um menino de apenas 4 anos que frequentava um jardim de infância, recebe semanalmente sugestões de atividades. “Aqui em Portugal a escola só é obrigatória a partir dos 6 anos. Então, os alunos até essa idade estão mais livres, já que ainda não têm um compromisso obrigatório com a escola. A escola do meu filho envia por e-mail uma planificação do que iriam trabalhar naquela semana com as crianças e os trabalhos manuais que iriam fazer”, conta.
A designer afirma que a professora explica como introduzir o assunto, mas deixa claro a não obrigatoriedade de cumprir a tarefa, uma vez que muitos pais e mães estão trabalhando em casa, com menos disponibilidade para auxiliar nas lições.
Com as aulas suspensas desde 16 de março, a profissional de marketing Marjan Akavan, de 35 anos, que mora em Lugano, na Suíça, também tem recebido por e-mail, semanalmente, as atividades escolares do filho, que tem 3 anos e 8 meses.
“Tem sido bastante fácil. As professoras têm interagido bastante conosco através de e-mail, e temos recebido todo o material semanalmente. Tentamos manter a rotina, de manhã fazemos as tarefas e leitura de livros e à tarde jogos e brincadeiras”, explica.
A mesma medida também foi adotada na França, segundo a psicóloga Mirsha Grissel, de 37 anos, que atualmente mora em Paris. Mãe de duas meninas, de 5 e 3 anos, ela conta que a escola envia um livro de atividades, que é dividido por semanas. Ainda por e-mail, as professoras também compartilham pequenos desafios aos alunos.
“Os livros nós mesmo imprimimos. E os desafios são tranquilos. Um deles, por exemplo, a criança tinha que identificar em casa objetos que comecem com a letra T”, exemplifica.
Já a ativista pelas mães, crianças e natureza Anne Rammi, de 40 anos, que é idealizadora do @mamatraca, relata que, em Londres, na Inglaterra, as atividades dos três filhos estão sendo disponibilizadas no próprio site da escola.
“Não existe uma plataforma de educação online, com professor dando aula virtual. Mas é uma tentativa de mitigar o atraso com a vida acadêmica e manter as crianças em contato com algo que eles estavam aprendendo, sem muita expectativa de atingir metas, nada disso”, pontua.
Lá, as aulas foram suspensas oficialmente dia 20 de março e, de acordo com Anne, a medida deve continuar até setembro. Nesse período, o ano letivo continuará de forma virtual. “Por escolha minha e do pai dos meus filhos, a gente está refletindo todos os dias sobre o que é importante as crianças aprenderem nesse momento. E a gente sabe que o tempo de convivência em família, entre mães e filhos, pais e filhos, casais, todos esses desafios da convivência são importantes de ser explorados”, pondera.
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A experiência nos EUA
Segundo a agência de notícias Reuters, nos EUA, grande parte dos estados decidiram que as escolas permanecerão fechadas pelo resto do ano letivo, que lá termina entre maio e junho.
Enquanto isso, a jornalista Luciana Savioli, de 40 anos, que mora em Austin, capital do Texas, conta que precisa de criatividade e dinamismo para complementar as tarefas da filha, que tem 9 anos, até a escola oficializar um programa online.
Segundo a jornalista, quando começaram a ser registrados os primeiros casos do novo coronavírus no país, as crianças estavam em férias escolares. Então, a oficialização da suspensão das aulas aconteceu no dia 23 de março. Em um primeiro momento, Luciana ressalta que a instituição enviou apenas uma folha de tarefas.
“Austin é tão espalhado que tem lugares que a internet não chega. Então, tem crianças que não têm acesso. A escola fez um planejamento de atividades que não requeria internet, como olhar o céu com o filho e pedir para ele descrever as fases da lua, e depois desenhar a lua. Eram atividades básicas, que a criança faz em dez minutos”, lembra.
Para conseguir preencher os horários da filha, Luciana criou um cronograma com as disciplinas escolares, incluindo até mesmo educação física, onde a menina brincava no pula-pula que há na casa da família. As atividades tinham duração e até o almoço fazia parte da programação.
A jornalista ainda recorreu a sites e aplicativos educativos para auxiliar nos estudos, e comprou um livro específico para a 4ª série. “Comprei um livro que eu já conhecia, que tem atividades de todas as matérias. Quando eu não tinha nada planejado, eu falava para ela fazer as atividades do livro”, explica.
E, assim, Luciana foi mesclando livro e tecnologia, até que a escola começou a enviar um programa online, com 20 slides que devem ser usados semanalmente pelas crianças.
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