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A palavra democracia nunca esteve tão presente no cotidiano brasileiro como agora, que sofreu um atentado sem precedentes na história nacional, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas. Para especialistas, a principal forma de evitar que essa situação volte a ocorrer é ensinar a democracia em sala de aula, para as futuras gerações do país. 

Abordar esse tema na escola significa tratar do exercício pleno da cidadania, isto é, da compreensão do que são os direitos e deveres para compor a sociedade. Por isso, os educadores dizem que a democracia deve ser trabalhada todos os dias em sala de aula. 

“Trabalhar a democracia na escola não é falar sobre partidos ou políticos, mas trabalhar a sua essência: ela é a base para uma comunidade organizada e respeitosa. Se queremos formar cidadãos respeitosos, empáticos e conhecedores de seus direitos, esse é o caminho”, diz Louise Santos, professora de sociologia de uma escola privada de em São Paulo.

O que é trabalhado ao abordar democracia em sala de aula?

Educar para a democracia é ensinar a importância da empatia, do respeito às diferenças e da preservação dos direitos e liberdades individuais para a construção da cidadania. Louise explica que a democracia é um princípio orientador da escola e não apenas um conceito a ser trabalhado em uma única disciplina. 

“É a forma como a escola se organiza, como dá voz e respeita a individualidade de seus alunos. Por isso, ela está presente em todas as séries, em todas as disciplinas e em todos os espaços. Ela está presente, por exemplo, no momento em que os alunos decidem qual será a brincadeira do recreio”, explica Louise. 

Por isso, os educadores dizem que os princípios democráticos começam a ser trabalhados desde os primeiros anos escolares, quando a criança ainda está na educação infantil. 

Maria de Fátima Pupo, diretora da Escola Girassol, em Jaú, conta que as crianças de 3 anos já são introduzidas ao conceito. 

“É algo muito simples, mas que introduz a elas a noção do coletivo. Quando as professoras pedem, por exemplo, para a turma escolher qual livro vai ser lido, é para ensinar que é preciso respeitar a decisão da maioria”, explica a diretora.

Democracia em sala de aula: da introdução à compreensão

Segundo Maria de Fátima, as crianças pequenas se tornam familiarizadas com os princípios da democracia em sala de aula, ainda que a discussão não se aprofunde. 

“A criança nessa idade não precisa entender o contexto, mas aprender a respeitar o diferente, esperar sua vez, saber se expressar. Que são os princípios fundamentais da democracia”, diz.

Para os especialistas, a partir dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) é possível aumentar a complexidade dos aspectos que compõem a democracia. Por exemplo, discutir com eles sobre o que se trata uma assembleia, pedir para que tragam situações de preocupação coletiva para serem trabalhadas em sala de aula. 

“Isso pode ser feito em todas as disciplinas. Em ciências, por exemplo, podemos tratar sobre problemas ambientais e pedir para que discutam os impactos coletivos e pensem em soluções”, explica Louise. 

Segundo ela, já nesta etapa, os alunos podem ser apresentados ao significado formal da democracia. “O termo é originário da Grécia e significa o ‘governo do povo’. Esse é um conceito que crianças dessa idade já compreendem, ainda que à sua maneira, porque já tem experiência com a participação cidadã dentro da escola.”

A democracia e seus diversos formatos

Com os alunos mais velhos, a partir do 6º ano do ensino fundamental, o conteúdo em sala de aula pode abordar os diversos formatos da democracia, como a representativa (o formato aplicado no Brasil), participativa ou deliberativa e o parlamentarismo.

“A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) prevê que esse conteúdo seja trabalhado a partir dessa etapa. A ideia não é só apresentar os diversos formatos, mas com isso mostrar aos alunos como ela funciona na prática no nosso país. Por exemplo, explicando quem pode votar, como funcionam as eleições”, explica Louise. 

Para uma atividade prática, ela propõe que as turmas façam eleições para representantes de sala, simulando as regras brasileiras. Ela também sugere que sejam abordadas as funções de cargos políticos, como o que faz um deputado ou presidente. 

Atuação política não é partidária

Para Patrícia Bianco, presidente do Instituto Palavra Aberta, por conta do excesso de desinformação no cenário político, há uma confusão no entendimento sobre o que significa educar para a democracia. 

“Educar nossos alunos democraticamente é entender que todos nós temos uma atuação política na sociedade, o que não significa defender um partido ou político. Significa que toda ação que praticamos tem influência no coletivo.”

Ela lembra que também é papel da escola dar espaço para que os alunos, especialmente os mais velhos, possam formular opiniões sobre os diversos temas que circulam pela sociedade. 

“Nessa idade, eles já têm consciência crítica e consciência de si e precisam de um espaço para elaborar e debater com os colegas. Assim, teremos uma geração que saberá conviver com o diferente, com o contraditório de forma respeitosa.”

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