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As escolas lidam diariamente com uma série de dados para avaliar o ensino de seus alunos, mas poucas sabem que essas e outras informações podem ajudá-las durante a campanha de matrícula. 

Tendência em diversos outros setores econômicos, o uso do conceito de data driven chegou recentemente também ao mundo da educação. Esse termo se refere a processos organizacionais orientados por dados, ou seja, quando a tomada de decisão se baseia na análise de dados – e não em intuições.

“As escolas têm disponível uma série de dados que elas mesmas produzem, mas não sabem usar. Assim, os gestores continuam tomando decisões com base na sua intuição, mas sem comprovação dos dados”, conta Fabrício de Paula Silva, pesquisador do Escolas Exponenciais e especialista em educação. 

Dados da educação no Brasil

Um exemplo são os dados do Censo Escolar, que as próprias escolas fornecem ao Ministério da Educação, ou informações públicas como as que constam nos microdados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). 

“Esses dados são públicos e podem ser usados de forma estratégica. Por exemplo, uma escola pode identificar em que série tem uma entrada maior ou perda de alunos. A partir daí ela vai investigar os motivos para ajustar as decisões”, diz Silva.

No entanto, o especialista recomenda que as escolas busquem dados mais refinados e aprofundados para melhorar a tomada de decisões. Ele cita, por exemplo, a Certificação Escolas Exponenciais, uma pesquisa que mede o grau de satisfação das famílias com a instituição de ensino.

A pesquisa identifica os motivos que levam as famílias a manter ou querer tirar os filhos da escola. Também mostra quais pontos positivos e negativos os pais enxergam na instituição. 

“Saber o que os pais pensam faz muita diferença na hora de traçar a estratégia de rematrícula. É importante que as escolas saibam quantas famílias pensam em mudar de instituição e saibam por qual motivo para que possam mudar”, diz o pesquisador.

“Costumo dizer que a campanha de rematrícula começa no primeiro dia do ano letivo. Porque a relação das famílias com a escola é constante e exige confiança”, complementa.

Como funciona a Certificação Escolas Exponenciais

A Certificação Escolas Exponenciais define para cada escola uma nota, com base nas respostas dos pais. Essa nota é construída a partir da avaliação do grau de fidelização e satisfação das famílias dos alunos matriculados. Através de formulários que são enviados aos responsáveis é mensurado o grau de satisfação dos pais através do NPS (Net Promoter Score).

Em 2021, a média das escolas avaliadas atingiu 74 pontos no NPS. A pesquisa do último ano também identificou que oito em cada dez famílias pretendiam manter os filhos na mesma instituição em 2022.

“É importante que as escolas saibam como ela está e também como estão as outras instituições. Se a média de fidelização dos alunos é de 80%, considero que seja preocupante uma escola que tenha um percentual menor que esse”, diz Silva.

Na última pesquisa, entre os pais que pretendiam mudar os filhos de escola, a justificativa mais apresentada, por 16%, foi o fato da localização da instituição ser longe de casa ou do trabalho. Em seguida, com 13%, aparece a falta de comunicação com a equipe pedagógica. 

“A análise dos dados nos mostra que pais que se sentem mais informados sobre a vida escolar dos filhos têm maior satisfação com a escola. Então, um ponto importante para melhorar a fidelidade das famílias é garantir que elas se sintam bem informadas e participantes”, diz. 

Como a Certificação Escolas Exponenciais auxilia os gestores?

A própria Certificação Escolas Exponenciais é uma boa forma de ajudar na comunicação com as famílias. Foi o que perceberam os gestores do Colégio Múltiplo, em Campinas. A instituição participa da certificação desde 2019. 

“Quem está na direção de um colégio, lida com problemas o tempo todo. Mas as reclamações que mais chegam, em geral, vem de um grupo pequeno de pais que faz mais barulho. Com isso, a escola não vê o que está incomodando a maioria das famílias, que fica insatisfeita e quieta”, conta Luiz Afonso Jaria, consultor de gestão e inovação da unidade. 

Segundo ele, muitas vezes as escolas tentam resolver os incômodos desse pequeno grupo de pais e podem criar problemas para a maioria. 

Jaria conta que a pesquisa ajudou o colégio, por exemplo, a decidir sobre o fim do uso de material didático de sistemas educacionais no ensino médio. A direção temia que os pais não fossem gostar da retirada desse material, mas a pesquisa indicou que esse não era um fator determinante para as famílias. 

“A escola ia começar um novo projeto para o ensino médio e o material não se encaixava na proposta pedagógica. Ainda assim, havia um medo de que a retirada não fosse bem recebida. O que descobrimos é que os pais valorizavam outros aspectos do nosso ensino e o material utilizado era pouco considerado por eles”, diz.

Segundo a pesquisa de 2021, os três fatores mais citados pelos pais para se manterem satisfeitos com a escola são: cuidado e atenção pessoal com seu filho (27%), qualidade na formação acadêmica dos alunos (25%) e qualificação da equipe pedagógica (22%). 

Saiba como o uso de dados contribui para impulsionar tomada de decisões dos diretores escolares.