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A maioria das pessoas associa o dia 31 de outubro com o Halloween. Mas você, gestor, sabia que o Dia das Bruxas também é o Dia do Saci? A data foi criada a partir de uma Lei Federal, por iniciativa da Comissão de Educação e Cultura, em 2003, com o objetivo de valorizar o folclore brasileiro e uma de suas figuras mais famosas.

E foi por esse motivo que o Escolas Exponenciais conversou com a arte-educadora, contadora de história e atriz Bia Giménes, que deu explicações sobre esse personagem da nossa cultura. Bia é especialista em cultura e educação pela FLACSO Brasil e professora de arte, teatro e cultura popular em duas escolas de São Paulo.

“É muito importante festejar esses dias com as nossas figuras populares, ao invés de ficar somente na apropriação de uma outra cultura, como no caso do Halloween. O Dia das Bruxas faz sentido na sociedade norte-americana. Quando isso chega ao Brasil, é como uma apropriação cultural, as pessoas não entendem exatamente o porquê daquela tradição”, explica.

Além disso, a profissional destaca que os alunos possuem bastante influência diária de elementos norte-americanos e europeus, e por isso é importante a valorização da cultura brasileira.

“Quanto mais reaproximamos a nossa cultura popular das crianças dentro da escola, mais elas vão se lembrar disso no futuro e perpetuar essas histórias”, ressalta.

 

Comemorando o Dia do Saci nas escolas

Bia Giménes nos ajudou a montar uma lista repleta de dicas que podem ser divertidas e render bons momentos de criação na sua escola e com os alunos. Confira.

  1. Reúna os alunos em uma roda e conte para eles histórias sobre o Saci Pererê

  2. Organize uma peça de teatro para que os estudantes atuem nesse universo do folclore. Crie indumentárias, cenário de uma floresta e cenas que contêm a história do Saci.

  3. Crie um concurso de desenho sobre o tema.

  4. Invente uma música com os alunos para contar em forma de vídeo a história do Saci.

  5. Faça a corrida do Saci, uma prova simples na qual os alunos correm com uma perna só. “Quando eu faço essa corrida, eu organizo de quatro em quatro, é muito simples e faz o maior sucesso”, diz Bia.

  6. Faça uma oficina de arte para criar bonecos de Saci, gorros vermelhos, redemoinhos, tranças como se fossem rabos de cavalo…

  7. “Outra coisa que as crianças adoram é a arapuca do Saci. Nessa brincadeira as crianças usam peneiras e garrafas para capturar o seu Saci. O Saci passa a ser seu e você passa a ter todo o poder sobre ele.”

  8. “Os alunos podem fazer também uma roda e uma criança fica no meio e tem que tentar fugir, como se fosse o Saci tentando escapar da arapuca.”

 

Dia do Saci: entenda um pouco mais sobre essa ilustre figura 

O Saci é um ser mítico da raça negra, de estatura baixa, que tem somente uma perna, mas mesmo assim se locomove rapidamente. Ele usa um gorro vermelho na cabeça e está sempre com um cachimbo na boca. O Saci vive na floresta e é conhecido por suas travessuras. Adora pregar peças nas pessoas e “aprontar” com os animais.

Quem primeiro retratou o Saci em histórias infantis foi o escritor Monteiro Lobato, no Sítio do Pica-Pau Amarelo, em 1921, e foi a partir daí que a lenda ficou conhecida em todo o Brasil. Isso aconteceu três anos depois de Monteiro Lobato publicar o livro “Sacy-Pererê: Resultado de um Inquérito”, primeira publicação que registrou a lenda do Saci, em 1918. 

Segundo Bia Giménes, o escritor Câmara Cascudo, no livro “Dicionário do Folclore Brasileiro” explicou que o Saci é um produto da mistura dos três povos que formaram o povo brasileiro: o indígena, o africano e o europeu. 

“Os indígenas já tinham a figura de um menino com duas pernas que protegia as matas e ajudava as pessoas que se perdiam na floresta. Já o povo africano tinha um orixá que tinha uma perna só e conhecia todas as ervas. O europeu, por sua vez, tinha em sua cultura um ser que atrapalhava a vida das pessoas. Então, muito provavelmente, o Saci é uma mistura dessas figuras mitológicas em um personagem só”, afirma.

Há também quem diga que, para os índios, o Caa Cy Perereg tinha cabelos vermelhos e o poder de ficar invisível para confundir os caçadores na floresta. Teriam sido os escravos negros que modificaram a história, transformando o pequeno índio em negro e colocando um cachimbo na boca dele. 

O hábito de fumar seria atribuído à influência das culturas indígena e africana, nas quais esse hábito era comum. E a perda da perna se justificaria por um acidente em uma luta de capoeira. Já o gorro vermelho teria sido inspirado nas toucas conhecidas no folclore do norte de Portugal.

 

Curiosidades para abordar com os alunos no Dia do Saci

O Saci é conhecido por suas travessuras. Muitas travessuras. Ele faz tranças nos rabos dos animais durante a noite, esconde objetos para as pessoas ficarem doidas procurando, assobia bem alto para assustar os outros, troca o sal pelo açúcar, queima a comida das cozinheiras, derruba chapéus de viajantes e muito mais…

Para capturar o Saci, é preciso lançar uma peneira no meio de um redemoinho de vento. Uma vez capturado, é fundamental tirar o gorro da cabeça dele para que ele perca seus poderes sobrenaturais e, por último, é preciso guardá-lo dentro de uma garrafa.

As histórias do folclore brasileiro são uma delícia! E são, sem dúvida, um prato cheio para inventar atividades em escolas.

 

Dia do Saci é uma  oportunidade para contextualizar a história

Para Bia Giménes, os educadores não precisam descaracterizar o Saci por causa das maldades e do fumo de cachimbo. O importante é contextualizar a história para os alunos e deixar claro que tudo faz parte de uma lenda de outra época.

“Eu nunca tive problemas quanto à ética do Saci, até porque a nossa cultura está cheia desses personagens travessos, que ludibriam, e as crianças adoram. Tentar tirar o fumo e as travessuras, seria descaracterizar o Saci. Ele é esse personagem que faz o errado, as traquinagens, mas ele tem essa liberdade. Na psicologia chamam essa figura trickster, que é quem faz as coisas erradas. Seria o malandro, o pícaro, mas não devemos confundi-lo com o vilão. O que vale a pena explicar é como o folclore é construído, com valores de outras épocas. Importante contextualizar isso”, finaliza.