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A chegada do novo ensino médio – uma novidade desafiadora que exigirá adaptação por parte de gestores, educadores, famílias e estudantes em 2022 – traz consigo possibilidades e desafios em vários aspectos; fala-se muito sobre itinerários e cargas horárias, levando em conta que o novo modelo se diferencia por ser mais flexível em relação a disciplinas.

Viviane Jesuz, que trabalha há mais de 10 anos como professora e formadora de professores e atua como Coordenadora Pedagógica Sênior no Edify, afirma que dentro da BNCC existem quatro objetivos principais com o estabelecimento do novo ensino médio:

  • a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos construídos pelo aluno ao longo de todo o ensino fundamental;
  • a preparação dos jovens para o futuro do mercado de trabalho e da cidadania, de forma a criar uma vida integrada com seu papel na sociedade;
  • o desenvolvimento, junto dos alunos, da ética, autonomia intelectual e o pensamento crítico ao longo de todos os segmentos da educação;
  • e por fim, um foco, além de na teoria, na prática para que o aluno possa utilizar seu conhecimento para atuar na sociedade.

Além disso, de acordo com Viviane, a maior interseccionalidade entre as disciplinas significa que “nós também deixamos de olhar para as disciplinas como caixas, como fragmentos de conhecimento e passamos a olhar para todo esse conhecimento construído pelo aluno em diferentes áreas, mas áreas que não estão isoladas, e sim que se conectam e conversam umas com as outras”. Ou seja, dessa forma o objetivo é que as quatro áreas fundamentais do conhecimento – linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas e sociais – sejam trabalhadas de forma conectada.

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O ensino bilíngue no novo ensino médio

Lembrando que, na nova estrutura, 1.800 horas são voltadas à formação geral básica e 1.200 horas voltadas aos itinerários formativos, fica a pergunta: o que acontece com a educação bilíngue nesse novo cenário? 

“Dentro dessa nova estrutura, quando olhamos para a formação geral básica mais especificamente, vemos que a língua inglesa é apresentada como componente curricular obrigatório da formação geral básica, junto aos componentes curriculares de língua portuguesa e matemática” diz Viviane. Segundo a especialista, a disciplina deve permanecer “como ponte para construção do desenvolvimento comunicativo do aluno, para que ele possa se comunicar e desenvolver a sua competência intercultural, tendo assim acesso a outras culturas e possa também construir conhecimento através da língua inglesa”.

Como aplicar o ensino bilíngue no currículo escolar e na prática?

Segundo Viviane, existem quatro objetivos que podem ser aliados à educação bilíngue nos currículos construídos pelas escolas: focar em aprofundar as aprendizagens relacionadas às competências gerais, às áreas de conhecimento e à formação técnica e profissional; garantir a formação integral dos estudantes, cuidando para que eles desenvolvam autonomia para seguirem seus caminhos; promover a incorporação de valores universais como a ética, liberdade, democracia e justiça, que são essenciais para a formação integral dos estudantes; e por fim, desenvolver com os alunos habilidades que os ajudem a ter uma visão de mundo “ampla e heterogênea” que os prepare para tomada de decisões e para que possam desenvolver aspectos sociais, comunicativos, pessoais, profissionais e éticos, além da cidadania.

Levando em conta que as “trilhas” no cenário do novo ensino médio permitem duas possibilidades – aprofundamento e eletivas – Viviane afirma que é possível integrar a educação bilíngue no currículo de diversas formas, com propósitos científicos, criativos, propósitos de empreendedorismo, de mediação e intervenção cultural – permitindo que isso ajude o aluno a tornar sua jornada mais rica, mesmo com outras matérias. “Idealmente é importante que exista diálogo entre diferentes eixos estruturantes na construção de cada itinerário ofertado pela escola”, diz a professora. Esse modelo mais flexível traz muitas oportunidades, ela aponta, mas também muitos desafios.

Desafios e soluções

Compor um currículo interessante e integrado que atenda às demandas é um desses desafios, mas existem jeitos de tornar esse processo eficaz; “Para que a gente mantenha essa carga horária mínima, a escola vai precisar, dentro do que é oferecido para  todos os seus alunos, garantir que os alunos tenham as três horas semanais de unidades curriculares oferecidas em inglês”, avisa Viviane. “Mas isso pode aparecer, por exemplo, através de eletivas que possam ser oferecidas para todos os alunos”.

Além disso, ela lembra que é preciso definir e comunicar o currículo bem: “É importantíssimo que na documentação entregue pela escola, nós já tenhamos desde o início essa carga horária muito bem definida para cada uma das unidades curriculares que serão oferecidas”.

Parte da construção desse currículo é a educação bilíngue, e para integrá-la bem nós devemos, de acordo com Viviane, levar em consideração cinco pontos: 

  • A adequação da educação bilíngue à formação integral do aluno, considerando não apenas o desenvolvimento linguístico mas também possíveis projetos que podem ser feitos por meio da disciplina da linguagem e que permitam o desenvolvimento de habilidades diversas (em laboratórios de pesquisa, grupos de estudo ou oficinas em língua inglesa, por exemplo);
  • O repertório linguístico do aluno, dando a chance para ele se desenvolva e cresça, oferecendo mais possibilidades na língua;
  • A competência intercultural, que pode ser desenvolvida com a educação bilíngue nos currículos formativos e permite que o aluno tenha contato com culturas diferentes;
  • O olhar interdisciplinar, elemento fundamental para que os alunos possam criar conhecimento de forma integral e entender as conexões entre as áreas do conhecimento;
  • O elemento da perspectiva global, que o aluno deve desenvolver para entender seu lugar como cidadão em uma escala não apenas local mas mundial.

Esses cinco aspectos são importantes para uma inclusão efetiva da educação bilíngue no novo ensino médio; “Essas unidades curriculares oferecidas em língua inglesa podem fazer parte tanto de trilhas de aprofundamento, quanto de eletivas que podem ser oferecidas de forma transversal, pensando em um diálogo com diferentes áreas do conhecimento que podem ser oferecidas através de diferentes itinerários formativos, mas que podem ser cursadas por alunos que optam por esses diferentes itinerários”, explica Viviane. Por exemplo: uma oficina que trata a cidadania global pode incorporar as áreas das ciências humanas e sociais aplicadas, das ciências da natureza – e da linguagem, sendo realizada em inglês. 

Esse tipo de abordagem atende a um aspecto importante na BNCC: o uso da língua inglesa para possibilitar que os estudantes cooperem e compartilhem conhecimento de modo a agir criticamente na sociedade. “Temos muitas possibilidades dentro da educação bilíngue e espero que as nossas escolas, entendendo as suas demandas locais, possam também trazer esse elemento de enriquecimento curricular para os nossos alunos”, reflete Viviane – que lembra, também, que o processo dessa integração efetiva é válido tanto para escolas bilíngues (que oferecem carga horária mínima de 20% em inglês aos alunos) quanto para escolas de carga horária estendida em língua adicional. 

Assista a palestra completa:

Como integrar o ensino bilíngue ao Novo Ensino Médio?