O “metaverso” tem sido um dos assuntos mais comentados recentemente; afinal, essa ideia – uma nova camada de realidade que integra o mundo virtual e o real – não só parece ter saído direto de um filme de ficção científica, como teve seu nome originado em obras deste tipo. E agora, novas tecnologias nos trazem diretamente para um futuro que ainda parece um tanto fantasioso. Mas do que se trata realmente essa novidade e como ela pode interferir na educação?
Quem explica sobre o assunto é Bia Negri, parte do time de business development do Edify Education – segundo ela, o termo “metaverso” apareceu pela primeira vez na obra de ficção Snow Crash, de Neal Stephenson, em 1992. Nela, conhecemos um mundo onde a vida passou a acontecer em um espaço digital imersivo que substitui a internet. O interessante é que mais de 30 anos se passaram antes do termo vir à tona novamente – isso aconteceu quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome de seu site Facebook para Meta, fazendo referência à realidade de Snow Crash; mais do que isso, o empresário também anunciou sua intenção de construir esse ambiente virtual de verdade.
Uma boa maneira para começar a entender o assunto, diz Bia, é por meio da análise do termo “metaverso”: “meta quer dizer além, e verso faz referência ao universo”, explica. “Então, o metaverso, de forma bastante simplificada, é alguma coisa que está para além do universo como conhecemos hoje”. Além disso, a profissional aponta a mudança da internet discada – em que as pessoas acessavam pontualmente as informações para buscar dados muito específicos – para a internet móvel – com a qual temos acesso a informações 24 horas por dia, 7 dias por semana – como um fator importante na concretização do metaverso. Afinal, a ideia dessa tecnologia é seguir para uma nova fase da internet, como foi profetizado no livro de Neal Stephenson – mas dessa vez, ela se tornaria mais “incorporada”.
“O que isso quer dizer? Que em vez de você apenas ver o conteúdo, você está no conteúdo”, conclui Bia. Desse modo, como um sucessor da internet, o metaverso deve ser um conjunto de protocolos, tecnologias, linguagens, conteúdos e experiências em um contexto cada vez mais imersivo, que “aos poucos vai fundindo as fronteiras entre o mundo físico e o mundo virtual”. E enquanto é claro que essa ideia pretende mudar o mundo e as relações como um todo, é válida a pergunta: o que ele significa, especificamente, para a área da educação?
Para Bia, é importante, inicialmente, entender uma diferença essencial: “enquanto a educação no metaverso se propõe a criar experiências de aprendizagem dentro desse novo contexto, existe também a educação para o metaverso, que fala sobre como devemos nos preparar para isso, seja pela capacitação da mão de obra para atuar nesse novo contexto ou seja pelo ensino de novas habilidades que nos ajudem a lidar com esse novo momento”. Ou seja, antes de podermos experienciar a educação por meio – e no meio – do metaverso, precisamos nos preparar para utilizar essa ferramenta.
As possibilidades dessa colaboração são inúmeras, diz Bia; inclusive, o próprio Meta – antigo Facebook – trouxe, no final de outubro, algumas visões para o futuro nesse sentido. Por meio delas, foram apresentados cenários onde, por exemplo, uma aluna consegue ter uma experiência mais imersiva para realizar um trabalho sobre o sistema solar, interagindo com o sistema para coletar informações como se realmente tivesse se teletransportado para o espaço; outro fazendo referência à possibilidade de viajar não só entre lugares mas entre épocas, permitindo esse tipo de experiência imersiva como auxiliar no ensino de história, por exemplo, de forma que os alunos possam visitar a Roma antiga ou presenciar a evolução de cidades pelo tempo; e outro cenário focado no ensino superior ou técnico, onde os alunos poderiam aproveitar a simulação de uma sala de cirurgia, por exemplo, para treinar suas técnicas antes de aplicá-las em pessoas reais.
Bia afirma que, apesar de tudo isso parecer um futuro distante, já existem nos dias de hoje vários indícios de que esse é o caminho que estamos seguindo. Um desses indícios – e talvez o mais forte – são os games, como Roblox e Fortnite, que já estão desenvolvendo soluções baseadas em educação; “também no próprio site do Roblox já preveem que até 2030, ou seja, não falta muito, vamos ter um universo de 100 milhões de estudantes engajados em aprendizado de alta qualidade no metaverso”, conta a especialista.
Os games são muito importantes para a criação do metaverso porque têm uma capacidade única de engajar os usuários, criando uma sensação de imersão muito forte – o que, visto de uma ótica educacional, pode ajudar escolas e professores a garantirem o envolvimento do aluno com seu aprendizado. Além de aventuras, os games também podem fornecer também a exploração de problemas do dia a dia do mundo real, ajudando no desenvolvimento de habilidades como computação, empatia e cidadania digital.
Outros indícios mencionados por Bia são os diversos eventos online que aconteceram durante a pandemia; ela conta que o Hub, evento de educação da Edify, foi um bom exemplo desse fenômeno. “Nós criamos um mundo virtual no qual as pessoas podiam transitar entre os prédios, que era como chamávamos, e acessar diferentes conteúdos, fazer networking, de fato ter essa experiência imersiva completa”, relata. Similarmente, a CodeBuddy – escola de programação para crianças da empresa – pode ser considerada outro indício; nesse ambiente, as crianças podem se preparar para interagir com esse novo tipo de conteúdo e tecnologia.
Esse tipo de iniciativa é fundamental porque, apesar da inevitável animação que vem com as novas tecnologias, é preciso que prestemos atenção para ensinar a próxima geração a lidar com tudo isso e utilizar esses recursos de maneira positiva, em vez de serem apenas consumidoras passivas da informação. Essa preocupação é mostrada, inclusive, pela BNCC, que categoriza a cultura digital como sua quinta competência – reconhecendo o papel da tecnologia no desenvolvimento da nova geração de modo que não podemos ignorá-la ou negligenciá-la. Ao mesmo tempo, essa competência encoraja o aluno a dominar a tecnologia para que possa utilizar seus recursos, como o universo digital, de maneira saudável, ética e positiva (a seu favor e a favor da sociedade).
O letramento midiático – ou seja, “desenvolvimento de conhecimentos, de habilidades e de atitudes que são necessárias para que as pessoas saibam interpretar os diferentes tipos de mídia e se comportar diante delas”, segundo Bia. Em um mundo tão impactado por uma quantidade tão alta de informação, é imprescindível que tenhamos a capacidade de analisar questões como a confiabilidade, a imparcialidade e a integridade dessa informação. Novamente, só dessa maneira podemos utilizá-las de forma saudável, em vez de apenas nos mantermos como consumidores passivos.
Com o passar do tempo, o mundo parece cada vez mais globalizado, e com a chegada de novas tecnologias como o Metaverso, a tendência é que isso se intensifique; “estaremos cada vez mais próximos de pessoas e experiências ao redor do mundo, e isso só reforça a importância de conseguirmos nos comunicar com essas pessoas”, lembra Bia. “Então, a educação bilíngue também se torna cada vez mais importante para a educação e para o desenvolvimento das próximas gerações”. É nítido que várias dessas habilidades estão conectadas, relacionadas entre si tanto quanto as pessoas ao redor do mundo – e lidar com essa quantidade de informação, além de uma oportunidade única, também é um desafio.
Como tudo na vida, o Metaverso – e tudo que vier com ele – será algo com o qual precisaremos nos acostumar, mas mais importante ainda: será necessário saber estudar e analisar as melhores formas de usar tais recursos ao nosso favor, tendo a consciência de que haverá um período de adaptação tanto para alunos quanto para professores – e esse período pode não ser completamente linear, mas depende de uma educação paciente como toda nova tecnologia.
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