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O que é Educomunicação? Resumidamente, é a forma de educar com recursos de mídia digital no cotidiano da vida escolar. É usar computadores, câmeras e celulares como ferramentas didáticas, criando uma estratégia de ensino atraente para alunos do século XXI: educação pela comunicação.

“A Educomunicação surgiu a partir da necessidade de unir educação e comunicação em um mundo totalmente conectado. É um modo de usar estratégias das diferentes mídias para desenvolver as aprendizagens dos estudantes numa sociedade global, fluida, volátil e que se comunica o tempo todo.” 

A explicação é de Cecília Resende, assessora pedagógica do Bernoulli Sistema de Ensino. O Bernoulli está presente em mais de 600 escolas em todo o Brasil e desenvolve soluções didáticas com tecnologia integrada para uma formação completa dos mais de 150.000 estudantes que utilizam suas soluções educacionais.

Um mundo conectado e digital 

Não há dúvida de que qualquer conteúdo escolar fica mais atrativo quando são conectados ao cotidiano dos alunos. O uso de mídias digitais é um grande aliado no processo de aprendizagem, criando caminhos de diálogo entre alunos e professores e toda a comunidade escolar.

O termo Educomunicação é atribuído ao pesquisador Ismar de Oliveira Soares, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Em um artigo publicado em 1997, Ismar definiu a Educomunicação como “o conjunto de ações capazes de integrar os meios de comunicação às práticas educativas, em consonância com aquilo que é exigido nos antigos Parâmetros Curriculares Nacionais (PNCs)”, hoje, recomendado pela BNCC- Base Nacional Comum Curricular .

Cecília Resende, professora há 35 anos, explica que a Educomunicação permite a aproximação da escola com os alunos e também com o resto do mundo, engajando estudantes de forma a torná-los protagonistas do seu processo de aprendizagem – e não somente ouvintes passivos de aulas expositivas. O resultado vem se mostrando excelente: quando o estudante ativo e participativo, coloca em prática o que aprende, resolve problemas e comunica suas soluções intervindo socialmente para o bem comum.

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Na Educomunicação, os professores atuam como mediadores, orientando seus alunos sobre projetos de seu interesse e trabalhados ao longo das aulas, estimulando a autonomia ,a crítica, a criatividade e capacidade de trabalhar em grupo para resolver problemas. Esses projetos são visibilizados e comunicados pela a produção de documentários, mostras de fotografias, construção de blogs, oferta de vídeos para Youtube, podcasts, programas de tevê, rádio e outras linguagens midiáticas.

“A Educomunicação dá voz e vez aos aprendizes, dá voz e vez às juventudes. Não vai existir neste século uma escola que não se comprometa com a participação do aluno na construção de seu conhecimento e que tenham voz ativa, expressando suas opiniões e se comprometendo com o que pensam, defendem e comunicam”, afirma Cecília.

Como colocar em prática a Educomunicação?

Segundo Cecília, o papel dos professores e gestores escolares é, entre outros, promover o engajamento comunicativo dos estudantes, de mobilizá-los por meio da ação comunicativa responsável . Para a especialista, é fundamental que gestores e professores criem oportunidades para que os alunos dialoguem, se expressem, ouçam e valorizem o conhecimento elaborado, aprendido e debatido nas salas de aula. 

“O papel do professor é mediar situações no ambiente escolar por meio de ações educomunicativas, levando para a escola práticas ligadas às linguagens, comunicações e mídias capazes de aproximar a realidade escolar do cotidiano do aluno também e transpor o que é aprendido na escola para além de seus muros.”

Cecília chama atenção para a importância de as escolas manterem um espaço aberto e claro para uma escuta ativa de seus alunos: “é preciso estabelecer relações horizontais e dialogadas, convidando toda a comunidade escolar a participar ativamente das ações comunicativas dentro da escola.”

Casos de sucesso da Educomunicação no Brasil

Existem muitos casos de escolas que usam a Educomunicação em materiais didáticos. Cecília Resende explica que Bernoulli Sistema de Ensino incentiva, por exemplo, a produção de podcasts por alunos no Ensino Médio, para abordar temas que antes seriam dados de forma expositiva e hierarquizada dentro da sala de aula. Em um país com muitas desigualdades em termos de acesso a internet, um grande veículo de disseminação da Educomunicação é o rádio, com professores ocupando a programação para levar o conhecimento adiante.

Na cidade de Santo Estevão/BA, quem sintoniza a Rádio Paraguassu FM, às 11 da manhã, uma vez por semana, ouve histórias contadas por professores, coordenadores e funcionários de escolas do município. A ação teve início em junho de 2020, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação.

Em Pindamonhangaba/SP, também foi criado um programa chamado “A Escola nas Ondas do Rádio”, para levar conhecimento aos alunos e motivar professores durante o período de aulas a distância. O programa, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, durante uma hora, na Radio comunitária 104,9FM, foi ideia de duas educadoras, que pensaram em usar o rádio como veículo de educação. O projeto mostrou que o impacto da voz do professor pode ser maior do que um texto escrito.

Na cidade de Caiacó, no Rio Grande do Norte, a Rádio Rural FM 102,7 tem um horário para transmitir aulas à noite, quando estudantes e trabalhadores já estão em casa. A Secretaria de Educação local temia que o distanciamento social fizesse aumentar a evasão escolar e o projeto ajudou a reforçar a importância do ensino, aumentando o número de matrículas na região.

Em Minas Gerais, o projeto Diálogos Abertos com a Capital em 2017 e 2018, transformou Belo Horizonte em uma grande sala de aula, recebendo estudantes de mais de 70 escolas de outros municípios. Depois da viagem, os estudantes e seus professores criaram uma série de podcasts, para contar suas experiências e mostrar como aprenderam a conectar disciplinas como História, Geografia e Matemática, a partir da visita à capital mineira.

Vale lembrar que a BNCC, Base Nacional Comum Curricular, reforça a importância de desenvolver nos alunos brasileiros competências ligadas à compreensão da cultura digital: não somente ler, escrever e fazer contas, mas desenvolver a capacidade de comunicação, para expressar ideias e compartilhar informações.

“Cabe a nós, professores, nos envolvermos cada vez mais com práticas educomunicativas. Que digamos ‘SIM’ a transformar a escola em um grande centro de mídias, de comunicação e de participação digital de nossos estudantes. É assim que vamos conseguir criar um Brasil mais aberto, com mais diálogo, que entenda melhor a nossa diversidade, no qual as escolas se transformem em espaços em que os estudantes possam criticar, propor soluções e agir como atores sociais transformadores”, finaliza Cecília.

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